Popload Cinema Club: Uma vez só não é o bastante

* A POPLOAD abre espaço aos fins de semana para algumas colaborações pontuais e selecionadas! Temos o Felipe Evangelista escrevendo sobre o rico mundo do hip hop na seção especial Popload Beats e a Flávia Durante dando importantes pitacos latinos na Arepas Sonoras. Temos também, textos sobre cinema do jornalista e blogueiro Tom Leão, um dos caras mais importantes na informação da cultura indie do Rio desde os tempos do importantíssimo e hoje saudoso Rio Fanzine, do jornal O Globo. Tom responde pela Popload Cinema Club. Desligue o page e o celular e leia.

Popload Cinema Club — por Tom Leão

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UMA VEZ SÓ NÃO É O BASTANTE

Em 2006, John Carney nos apresentou um pequeno filme muito bacana, “Once/Apenas uma vez”, sobre um músico de rua de Dublin, Irlanda (Glen Hansard), que conhece uma imigrante tcheca (Markéta Irglová), e rola entre eles uma química fortíssima, tanto musical, quanto afetiva. Carney nos contou essa história, basicamente, através das letras e das músicas do cara e da garota (eles são identificados apenas como ‘guy’ e ‘girl’, na ficha técnica), numa narrativa diferente do que estamos acostumados a ver num filme dito musical. No fim, a garota incentiva o cara a sair das ruas, gravar uma demo e ir para Londres tentar a sorte. Mas a maior sorte que ele teve mesmo foi conhecer a garota. Uma conexão que só acontece uma vez na vida.
Quase uma década depois, aparece “Begin again/Mesmo se nada der certo”, o novo filme de Carney. E, para todos aqueles que viram (e reviram) “Once”, rola uma sensação estranha de deja- vu. Em vez de fazer um remake de sua pequena jóia, ao ir para Hollywood (na verdade, as ruas de Nova York), Carney adaptou o clima e os melhores momentos de “Once”, e enxertou tudo em “Begin again”, como num remix. Só que, agora, em vez de atores desconhecidos, temos a garota Keira Knightely (Gretta), e o cara Mark Ruffalo (Dan). Ela, uma inglesa que foi para NYC acompanhar o namorado músico (feito por Adam Levine, do Maroon 5), com o qual divide, além do coração, letras e músicas; ele, um produtor decadente, da ainda mais decadente indústria do disco, em busca da canção perfeita. O destino os reunirá num show e o produtor verá na moça a sua última esperança musical. Para o papel, Keira teve realmente de cantar suas partes.

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Mudando uma ou outra coisa de lugar (agora, por exemplo, o ponto de vista é da garota; e há até um músico de rua, um inglês imigrado, amigo de Gretta), temos vários elementos vindos diretamente de “Once”. Menos a qualidade das canções. O músico de rua irlandês era bem mais sofrido e inspirado. Em “Begin again”, rolou uma certa, digamos, ‘maroonização’ das canções (já que Levine está por trás da maioria delas), que estão mais para pop radiofônico do que para o clima a la Damien Rice do outro. Mas, por outro lado, temos uma boa visão de como era e como está agora a indústria musical, qual os novos caminhos para fazer uma coisa nova e autêntica acontecer. E, hoje, isso passa, inevitavelmente, pela internet.
Alem de Levine, Carney convocou também o rapper Mos-Def (que divide sua carreira musical com a de ator faz tempo, vide “Rebobine, por favor”, do Michel Gondry) e Cee-Lo Green (Gnarls Barkley), fazendo um antigo amigo do produtor, que só se deu bem na careira graças a ele. No fim, a sensação de que algo bonito que poderia ter rolado entre o casal é a mesma de “Once”. Mas, fica a esperança de que a música ainda pode salvar vidas…

*Tom Leão assina o blog Na Cova do Leão e é colunista de cultura da Globo News

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