Top 10 Gringo – Ladies and gentlemen, The Rolling Stones em primeiro lugar

The Rolling Stones. Desde que este Top 10 é Top 10 nunca tivemos a chance de premiar uma inédita da banda inglesa mais tradicional do rock. Mas as pedras rolantes algo preguiçosas, pelo menos em termos de material inédito e próprio, resolveram sacudir um pouco as coisas. E não é que a faísca incendiou tudo de novo? 

Rola uma emoção ao digitar The Rolling Stones ali no primeiro lugar. Quem imaginava a chance de curtir um novo álbum deles agora, a esta altura das vidas, nossas e deles? O primeiro disco de inéditas em absurdos 18 anos. É uma vida. E tudo soa bem, mesmo com a ausência sentida da bateria de Charlie Watts. É estranho ver os Stones como um trio nas fotos de divulgação. Uma IA faria algo parecido se programada para criar uma música da banda inglesa? Os maldosos diriam que sim, mas só eles são capazes de se atualizar tão bem. A sacada de falar em cancelamento, citar o Brasil e colocar a badalada Sydney Sweeney no vídeo da música, isso é Jagger puro. Só ele seria capaz. Os Stones, que nunca pararam, diga-se a verdade, estão de volta. E sempre é legal.  

Para ir treinando desde já para quando o Primavera Sound São Paulo chegar. Uma das novidades da banda inglesa de shoegaze denso Slowdive. Essa viajante track é parte do primeiro disco de inéditas do grupo em seis anos, “Everything Is Alive”, que saiu sexta passada. Música curiosa: cheia de ganchos pop jogados pela faixa, deve ser a primeira música shoegaze que, em vez de olhar para o sapato, dá vontade de olhar para o céu. Ouve para entender.

Já escrevemos sobre eles aqui. O Soul Glo, banda de hardcore da Filadélfia, é dos grupos de rock mais criativos do mundo. Apoiado por um vídeo totalmente NSFW, a faixa se revolta nas letras com parte da audiência/crítica que interpreta de modo bizarro a arte, como se fosse um retrato fiel do artista, e busca ali respostas muito objetivas – fora um excesso de atenção mais com a internet e a repercussão do que com a arte em si. 

Outra música nova do hippie moderno, que está a caminho de nos apresentar seu álbum “Flying Wig”, que sai agora dia 22. O pique dessa deliciosa faixa é do indie-folk agitadinho de sempre de Devendra, com uns toques eletrônicos aqui e ali e alguns elementos estranhos no som que podem ser facilmente explicados: “Nun” foi escrita em um mosteiro no Nepal.

E já que estamos projetando o Primavera que vem por aí, que tal relembrar um tanto do Primavera passado e do maravilhoso show da Björ? Do belíssimo “Fossora”, lançado também no ano passado, ela sacou “Victmhood” para ganhar uma animação dirigida pela dupla  Gabríela Friðriksdóttir e Pierre-Alain Giraud. “Victimhood” é uma complexa música da islandesa sobre vitimização, um termo muitas vezes gasto para diminuir dores alheias. Na canção, Björk mostra o quanto é mais complicado sair de situações que te vitimizam, sendo que muitas vezes você se obriga a se colocar nesse papel sabendo de todos os riscos. 

Virar pai mexeu com a cabeça do inglês Sampha, que finalmente prepara o sucesso de sua estreia “Process”. Com a pressão do mundo e do quanto estará presente no futuro da criança muito do texto veio. E está estampado em “Only” várias das questões que surgem – uma zona de guerra quando se fecha os olhos, como diz Sampha. Essa presença talvez influencie o belíssimo verso: “Take a mic and press record and speak the truth only”. 

A estreia branco-e-preto da Blondshell tem só nove músicas, mas a artista californiana está ampliando seu repertório. Uma versão de luxo vem aí e uma das músicas novas será “Street Rat”. Rato de rua? O que você não daria de comer até a um rato da rua, mas que está por aí? Complexa a metáfora. 

Já tinha ouvido falar na Tirzah? Ela está no rolê há um tempo e a gente nem lembrava dela, mas a artista londrina tem uma discografia sólida e seu novo disco, “trip9love…???”, é um bedroom pop de respeito. Um bedroom pop bem turbinado, acrescente-se. Letras bacanas, voz doce e loops de bateria viciantes. 

Soa interessante falar em Paint It Black no dia que este top coroa os Stones. A banda de hardcore da Filadélifa também, assim como o Soul Glo, estava em um longo hiato e resolveu mexer seus pauzinhos – lançou uma PANCADA. Se você nunca ouviu falar deles, provavelmente escutou o grupo em algum game da série Tony Hawk. 

Nos 30 anos, agora em setembro, do álbum “In Utero”, vale visitar a genialidade da saudosa banda americana Nirvana pegando uma música que não é das mais badaladas do disco (como assim?), mas sintetiza a aspereza doce, a velocidade de um carro musical desgovernado e a leveza muito pesada com que o grupo de Kurt Cobain chacoalhou o rock à época. Detalhe curioso: o condutor dessa bateria demolidora, o hoje guitar-hero Dave Grohl, faz dois shows no Brasil nesta semana.

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* Na vinheta do Top 10 Gringo, o “trio” Rolling Stones.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.