A turnê do Arctic Monkeys com o Fontaines D.C. nos EUA, parte 1: o tal desprezo às músicas do começo da carreira

A turnê indie mais badalada do ano teve início semana passada nos EUA. Ela reúne até outubro os já enormes Arctic Monkeys e os agora grandinhos Fontaines D.C. em quase 30 apresentações conjuntas, desde Minneapolis até uma trinca de shows em Los Angeles.

Estivemos nesta semana na Filadélfia, na pessoa do amigo Luciano Vianna, da velha guarda indie, que aparentemente, você vai ver, se incomodou com uma coisa que tem nos chamado atenção há algum tempo: um certo esquecimento do material de começo do carreira, em detrimento dos fãs de longa data, para atender às mais novas gerações de simpatizantes. As que preferem os discos mais recentes. E diferentes.

Então, vamos voltar a esse assunto delicioso, já abordados aqui em outras ocasiões. Luciano vai dar o pitaco dele aí embaixo a respeito do show de terça-feira agora na Filadélfia. Mas a Popload vai encontrar Monkeys e Fontaines logo, logo outra vez nessa turnê. Só que agora representada por um olhar mais novo, desse que adora a fase atual calminha das bandas e não está muito aí com os “rockões do primeiro disco”.

Mas uma coisa por vez. Agora é o “olhar indignado” do veterano de shows Luciano Vianna.


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por Luciano Vianna

Não é só no Brasil que os artistas costumam renegar seus primeiros (e quase sempre melhores) discos. Ontem estive na atual e badalada turnê da banda inglesa Arctic Monkeys pela América do Norte, com os irlandeses do Fontaines D.C. abrindo.

Mais precisamente, foi no The Mann, na Filadélfia e o que se viu foram duas bandas que parecem ter esquecido suas raízes.

Olhar para o futuro é sempre bom, mas confesso que ir a um show do Fontaines D.C. (foto abaixo) e ter apenas uma música do primeiro disco (um dos melhores début da última década) é extremamente frustrante.

Mas isso é tudo o que falta já tem uns anos no Arctic Monkeys. De uma banda adolescente cheia de raiva bruta e velocidade, eles viraram um grupo de tiozões que jogam para a galera e tocam os sucessos desacelerando eles cada vez mais.

Talvez o grande culpado disso seja Matthew Helders. De maior baterista do rock inglês da sua geração, ele hoje parece acomodado e distante, fazendo um esforço enorme para acompanhar a banda a cada música.

Na verdade, o que impressiona no AM hoje é a falta de tesão, de alegria. Eles criaram uma fórmula de um rock adulto e se encontram presos a isso. Parecem tocar por tocar, sem nenhuma interação entre os integrantes.

Mas, veja bem, o público não reclamou. Pelo contrário.

Eu estava acompanhado por um adolescente de 15 anos, que só conhecia as musicas que viralizaram nos aplicativos. Numa época em que o rock está cada vez mais devagar, o álbum “AM”, de dez anos atrás, que tem diversas músicas travestidas de novas pelo Tik Tok, deu a tônica do show com sete faixas, enquanto o álbum de estreia foi lembrado apenas com duas.

Sim, é uma questão geracional, talvez. Mas dois shows que seriam nota 10 alguns anos atrás, para mim, hoje em dia, no máximo não passaram de nota 6.


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* Todas as fotos usadas neste post são de David Iskra, para a esperta revista americana “Flood”.