Para entender o vídeo do Radiohead. Ou não

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Queimem a bruxa! Err… qual delas?

Ainda estamos na onda da “volta” do Radiohead, com seu sumiço virtual, mensagens criptografadas, panfletos sinistros, vídeo surpresa… Porque, tratando-se da banda de Thom Yorke, só a música (linda, por sinal) não basta. E a nós aqui da Popload não costumamos reclamar de Radiohead, pelo contrário. Achamos que essa embromação toda, seja jogada de marketing ou só suspense, tem a sua graça.

Mas vamos focar no vídeo, passado o furor do lançamento. Em um primeiro momento, ele, feito para dar imagem à música “Burn The Witch”, lembra uma zoeira estilo South Park, uma brincadeirinha pseudo-inocente a la Vila Sésamo ou algo do tipo. Mas não é. Vamos começar com o vídeo completo e depois focar em algumas cenas, quadro-a-quadro:

É um vídeo relativamente pesado e dizer que ele poderia ser um trailer para o filme “Amarcord” em versão stop motion não é um exagero felliniano. Ou até mesmo uma reconstrução com bonequinhos do filme “Wicker Man”, ou, “O Homem de Palha”, de 1973 (e 2006, em uma versão com Nicholas Cage).

A história começa com a chegada de um carro com um motorista e um inspetor vestido de terno, gravata e uma prancheta na mão em uma vila conhecida como “Model Village”. As pessoas da vila estão se organizando e o líder do lugarejo carrega uma medalha no peito e um chapéu dos anos 20. Ele organiza a população para: aparar a grama, pintar a vila, consertar casas destruídas e até colocar umas flores de enfeite.

Alguns sites de música e até jornais ingleses sacaram logo que a referência estética mais clara é um popular programa infantil de TV da Inglaterra, dos anos 60, chamado TRUMPTON (veja um dos episódios aqui e compare). Mas Thom Yorke não faz muito o estilo fofinho e sabemos que ele usa a vila perfeitinha de ModelVillage (a Trumpton do vídeo) como uma crítica, certo?

Continuando o quadro-a-quadro: o líder da vila aguarda ansioso a chegada do inspetor. Ele verifica as horas enquanto uma orquestra toca música para a sua chegada.


*Inspetor chegando na vila sem cumprimentar o líder

Assim que o inspetor chega à vila, Thom Yorke, em sua primeira fala desde o seu desaparecimento na internet, diz: “Stay in the shadows”. O líder apresenta a vila para o inspetor. Existem portas marcadas com “x” pelo mesmo pintor que ajuda a deixar a cidade organizada. Ao entrar na vila, os olhos do inspetor saltam/piscam!

O líder mostra crianças fazendo travessuras, rituais com uma “bruxa”, mercado vendendo alimento estranhos, um palco para enforcamento e muitos trabalhadores na colheita aglomerados em uma estufa. Mas isso não tem problema, o líder até oferece álcool para o inspetor e basta um comando para os trabalhadores acenarem felizes para o visitante.

O inspetor chega então ao centro da vila e uma surpresa lhe espera: um monstro-de-madeira-para-queimar-bruxas e para cometer sacrifícios humanos (exatamente como o usado por antigos druidas, reza a “lenda”, e também presente no filme “Wicker Man”).

O inspetor é “convidado” a conhecer o monstro por dentro e em seguida é preso e queimado com uma chama de fogo atiçada pela “bruxa”.


Wicker Man do Radiohead


Wicker Man do filme

E daí, ressurge o passarinho (que lembra o logo do Twitter), que começou e terminou piando, como se tudo estivesse de volta ao normal em Trumpton/ModelVillage, a cidadezinha-modelo-perfeita onde nenhum crime acontece (a premissa do seriado infantil).

Queimem a bruxa! Mas quem seria a “bruxa” de verdade no vídeo e para o Radiohead? Levando-se em conta a época em que ele é lançado, em plena eleição americana com Trump subindo nas pesquisas e prometendo “limpar” os EUA, sem contar o nome do seriado inglês no qual a historinha se baseia, parece óbvio (até de mais) que Trump é a bruxa da vez.

Segundo o site Pitchfork, a pequena vila Trumpton do programa de TV representa os “valores familiares” (quase que um “Bela, recatada e do lar”) que os políticos de direita gostam tanto de pregar. A cidade tranquila, sem baderneiros, dedicada a suas crenças, sem desabrigados, sem desemprego. Na visão distorcida dessa “ala”, tanto pela Europa como pelos EUA, essa vida (branca e) perfeita só é possível sem a presença de imigrantes, outra bandeira do político-celeb americano. Nessa interpretação do que pode vir a ser a “crítica” velada de Thom Yorke, entram desde Trump ao partido de independência do Reino Unido, o UKIP, famoso por ser contra a União Europeia e por suas propostas antiimigração.

Concorda? Consegue enxergar inclusive a Dilma e o Temer nesse “desenho” do Radiohead?
Como você interpreta o vídeo?

* Esse quadro-a-quadro “analisado” de “Burn the Witch”, tem ideias iniciais do poploader Fernando Oliveira, que publicou originalmente um parecido no Medium.com. A gente só pirou um pouquinho mais, em cima.

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5 comments

  1. Vendo a letra pensei muito nos casos do Julian Assange, Chelsea Manning e Edward Snowden, principalmente no trecho em que ele diz “Shoot the messengers”.
    Radiohead sempre foda.

  2. O X vermelho em portas era sinal de que naqueles lares residiam leprosos (ou alguma doença má considerada do século… XIX?). De maneira geral, significa afastamento e controle.

  3. Parece os inspetores do senado americano visitando Jonestown. Segundo dizem Jonestown era apenas um embriao de um projeto muito maior. Por isso os senadores foram mortos uhahahahaaaaaaaaa….

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