O fim da Funhouse. Clube de São Paulo tocou o novo rock em suas pistas e ajudou os indies a transar

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* Templo do indie rock paulistano e brasileiro “da época boa”, a Funhouse, sobrado da Bela Cintra que já viu dias melhores como casa assim como os Strokes enquanto banda, vai acabar de vez. O último final de semana de porta aberta acontecerá nos dias 28 e 29 de julho agora. O portal UOL me convidou a escrever sobre o fim do lugar e lembrar sua representação na cena independente de SP. O texto foi publicado hoje de manhã, com um título espirituoso, mas jamais irreal. Antes do “R.I.P. Funhouse”, toco pela última vez para a já saudosa pista na histórica festa Revolution, com o não menos histórico DJ residente Henrique Muccillo, o dono Mitkus, Marcos Bacon, em noite ainda com apresentação da veterana banda indie The Concept, que lá no comecinho dos 2000 protagonizou o primeiro show da Revolution.

Enfim, eis o texto do UOL. Sdds Funhouse.

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Um adeus à Funhouse, a balada que ajudou os indies a sair de casa e transar

Em 2003, a revista “Veja S.Paulo” se sentiu impelida a identificar uma tribo “diferente” que andava habitando as noites paulistanas e pediu para um repórter investigar. Detectou-se uma forte presença de indies circulando pela cidade com suas “botas surradas e saias de prega” (!!!). E idolatrando bandas novas (à época) como Belle & Sebastian e os “galãs ingleses” do Coldplay.

Segundo a reportagem, tais indies se reuniam em dez endereços diferentes de SP, mas um deles era o mais destacado: um sobradinho na rua Bela Cintra chamado Funhouse.

A Funhouse, que abriu suas portas em 2002 para encerrar de vez agora em julho, nasceu no calor do chamado “novo rock”, quando no ano anterior os Strokes gritaram “Last Nite” de lá de Nova York, criaram uma pequena revolução junto com outra banda, os White Stripes, e trouxeram um sanguinho novo à música nova a partir das guitarras sujas e garagentas, que contagiaram nos anos seguintes tanto a cena americana, quanto australiana, a sueca, a escocesa, a inglesa e, por que não, a brasileira.

Strokes e White Stripes passaram longe da reportagem “comportamental” e de tendência musical-fashion da edição local da “Veja”, dois anos depois, mas não da Funhouse, que começou a incrementar a cena com festas boas, ideias boas, virou um “clube de amigos”, juntou jornalistas e publicitários e galera da moda. Bandas novas gringas, na cidade para shows, iam beber lá, bandas nacionais iniciantes tocavam lá, o Emicida se apresentou lá antes de ser o Emicida. Festivais brasileiros que existem até hoje nasceram dentro do número 567 daquela rua específica do bairro da Consolação.

O Bar Orbital, da rua Augusta, no lado Jardins da Augusta, diga-se, até veio primeiro que a Funhouse nessa “era dourada da nova música”, mas quem mais bem, digamos, personificou a “Revolução de Casablancas” foi a Funhouse, uma das importantes casas precursoras no que viríamos a conhecer como Baixo Augusta, no lado Centro da Augusta, enquanto zona de entretenimento. Musical, nesse caso.

O maior mérito da Funhouse, talvez e além, foi arrancar de casa e botar na rua (e na pista!!!) esse indie-internauta das priscas eras online, consumidor de blogs de música, baixador de músicas do Napster, Hype Machine, com amigos virtuais no Orkut, MySpace, Fotolog e nos fóruns de discussão de música como o Poplist.

A Funhouse virou um ponto de encontro dessa geração proto-social-media, que adorava discutir minuciosamente os lançamentos (que ninguém tinha ouvido ainda) daquelas semanas de novo rock, mas que mal tinha um lugar de verdade para ouvir isso saindo de uma picape de DJ. Ou de uma famosa e providencialíssima jukebox moderna que sonorizava o andar de cima, a deliciosa “região dos sofás”.

A Funhouse deu corpo às pessoas que a gente só conhecia por avatar. Deu cara real a figuras virtuais. E misturou Rick Levy com Alex Kapranos, Pomada com Alice Braga, Tchelo com Lovefoxxx, Aninha Coquetel Molotov com Paola Popload Festival, o Du Ramos com a Ana Paula Arosio.

A piada, na época, muito séria, é que a Funhouse ajudou os indies a namorar. A transar!!!

A Funhouse morre agora em julho, antes de os Strokes lançarem mais um disco novo ruim.
Que venham outras revoluções musicais, virtuais, outras saias de prega. Que venha outra revolução musical de qualquer tamanho e, principalmente e consequentemente, uma outra Funhouse, em algum lugar.

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** Fotos de divulgação. A imagem da home da Popload, que “chama” para este post, traz a banda Holger se apresentando no ex-palco da Funhouse.

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1 comment

  1. Excelente texto. Feliz pela casa ter perdurado por 15 intensos anos. Tudo tem seu tempo, e assim como na música, a noite paulistana se renova. Fica o legado.

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