Lana Del Rey e a bagunça que ela causa

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Está chovendo “cats and dogs” (mesmo) na cabeça da Lana del Rey, há meses. Foto ilustra a capa da revista “Complex” deste mês

Com uma semana de disco lançado. Com um semestre sendo mencionada todos os dias, por todos os lados. Com o crítico da “New Yorker” falando que é preciso ser surdo para não entender a maravilha pop que ela é. E com o crítico do “Estadão” dizendo que ela é uma “versão gringa de Vanusa cantando o hino”.
Lana Del Rey vem bagunçando a música pop de um modo passional. Ela é deusa para uns, ela é “evil” para outros, quase sem meio termo.

Repare em muitas das críticas. Quase todas são iguais em sua construção, mas no fim dizem: odiei. Ou amei.

Mas o engraçado e bizarro dessa história toda é como ela divide a “nova mídia” e a “velha mídia”. A massa online (blogs, twitter, comentaristas de blog, “especialistas musicais de twitter” e a “patrulha”) parece ter odiado a Lana desde que ela surgiu, passando a execrá-la mais a cada aparição, entrevista, programa de TV e, por fim, depois do CD. Mas jornais, revistas e sites especializados sempre mostraram simpatia por ela. Talvez porque, para esses veículos, a música -e não o beiço dela- sempre esteve em primeiro plano. Ou porque o “mistério” ao redor da chanteuse boneca, fabricado ou não, rendia boas histórias e repercussão. Boa parte dessa mídia recebeu muito bem o disco, indo contra o certo apedrejamento online que ela recebeu.

A maior parte das resenhas segue mesmo o mesmo roteirinho: explicam o buzz, tentam entender o comportamento dela, depois o comportamento do público online, a reação negativa quase que unânime, a preocupação excessiva com a aparência e com o dinheiro dela, os memes todos etc. Daí, partem para a análise do disco, que claro, nem é tão ruim quanto todo mundo queria que fosse.

É um disco bom de uma artista nova. Muito acima da média de qualquer artista nova. Abaixo, resenhas poisitivas e negativas de veículos de destaque, no estilo “good cop” x “bad cop”. =)))

** GUARDIAN: 4/5 >> CURTIU ISSO
“Talvez a chegada de ‘Born to Die’ cale a controvérsia e transfira a atenção às suas músicas. Talvez não. A única coisa realmente decepcionante neste disco não é a música em si nem a voz, mas as letras, que tentam te convencer o tempo todo de que Lana Del Rey é a amante condenada mas dedicada de um bad boy, usando gírias hip-hop e muitos clichés. Lana Del Rey não sustenta, através das letras, esse personagem. O melhor a fazer é ignorar essa parte, o que é muito fácil, já que as melodias são esplendidamente construídas. ‘Video Games’ já parecia um single sem igual. E, no fim, não era único: o disco está cheio de músicas tão bonitas quanto. O que ‘Born to Die’ não é é o que a Lana Del Rey parece achar que ele seja: uma jornada pelo coração sombrio de uma alma perturbada. Se você se concentrar muito nisso, vai soar meio bobo. O que ele é é música pop bem feita e isso é suficiente.”

** PITCHFORK: 5,5/10 >> NAO CURTIU ISSO
“Pela sequência de hype e backlash nos últimos ssei meses, é fácil esquecer que chegamos até aqui por causa de uma música. (…) ‘Video Games’ era marcante e parecia sincera. Lana Del Rey pode ter feito seu nome com um vídeo caseiro, mas letras de músicas como “Radio” colocam o álbum entre os discos pop de orçamento alto. A lista de colaboradores (que inclui de Eminem a Lil Wayne e Kid Cudi) e o clima suntuoso do disco é o que vai unir os detratores aos defensores da Lana. O ponto-de-vista do disco soa estranho e datado nos temas que aborda (sexo, dinheiro, drogas) e o mundo de sonhos de Lana se baseia em clichés. É um mundo fantástico que faz você almejar pela realidade. Toda a conversa envolvendo a Lana Del Rey trouxe à tona um machismo deprimente à música. Ela foi questionada em relação a sua aparência e ao seu passado, atitude reservada às mulheres somente. Mas, ao mesmo tempo, não há uma letra sequer no disco que a projete além da figura de objeto de desejo. O disco não permite nenhuma tensão ou complexidade e a sua porção de sexualidade feminina acaba sendo subjugada. O álbum é o equivalente a um orgasmo fingido — uma coleção de tochas, mas sem fogo.”

** BBC MUSIC: “Inteligente, ambicioso e brilhantemente executado, ‘Born To Die’ desafia qualquer backlash” >> CURTIU MUITO ISSO
“Se você está procurando uma explicação para a improvável ascensão da Lana Del Rey, isso não é difícil de achar. Ignore as acusações de puro marketing e falta de autenticidade, ou especulações sobre cirurgias plásticas e grana do papai, nada disso importa. E também não se distraia com as estatísticas do YouTube ou o buzz online, isso não tem nada a ver com a nova mídia. Tem a ver com algo muito mais antigo e misterioso que tudo isso: o poder extraordinário da música pop. Se ela não tivesse aparecido no verão passado com uma música tão bonita quanto ‘Video Games/, nada disso teria acontecido. Então, a única pergunta a se fazer sobre o disco é se ele tem mais exemplos como esse. A resposta é um “SIM” enfático. (…) O disco é mais interessante que qualquer coisa que a Adele venha a escrever até mesmo quando a sua coleção 72 chegar às lojas no futuro. É o lançamento mais distinto e confiante desde o do Glasvegas em 2008 e nos deixa ansiosos para saber o caminho que ela vai seguir.”




** MTV USA >> ATÉ QUE CURTIU ISSO
“É um álbum que parece ter custado um milhão de dólares – principalmente porque provavelmente custou isso mesmo. Isso não significa que ‘Born To Die’ seja um álbum ruim. Longe disso. Na verdade, é muuuuito melhor que muitos esperavam (ou gostariam de admitir). Não importa a maneira como você a vê, mas você tem que dar crédito a ela e ao seu time por criarem um álbum que preenche os cômodos e os fones de ouvido.”

** STEREOGUM >> ODIOU ISSO
“Born To Die é ruim. É muito ruim. É ruim de um jeito que ‘Video Games’ e ‘Blue Jeans’ e até mesmo a ‘Born To Die’ não previam. As músicas são terrivelmente mal escritas, sem pegada, as batidas parecem electrobeat dos baratos ou dos caros demais. As cordas orquestrais estão em TODAS as músicas. As músicas parecem 15 variações de uma mina bêbada no bar tentando arrastar alguém para casa. Uma bagunca. Minha hipótese é que ela precisava de mais tempo para trabalhar a voz. É senso comum que a Lana Del Rey é uma personagem inventada por Lizzy Grant, que ela inventou quando a sua própria música parecia não chegar a lugar algum. Mas quando ‘Video Games’ estourou cedo demais, ela não teve tempo de bolar as direções que esse personagem tomaria. Talvez ela descubra isso ainda, mas depois desse disco, não tenho esperanças.”

** THE NEW YORKER (por Sasha Frere Jones): >> AMOU ISSO
“Lana Del Rey conseguiu, como um carro lento andando na faixa da esquerda, deixar todos a sua volta com raiva. A internet, como sempre, é uma faca de dois gumes. Mas ‘Born To Die’ é uma mistura habilidosa de nostalgia e emoções adolescentes. Qualquer um empenhado em derrubar Del Rey no momento teria que ser surdo em relação às maravilhas que seu pop proporciona. Há pouca sabedoria no álbum, mas há prazer de sobra. Talvez Del Rey não seja boa ao vivo, mas isso a coloca ao lado de mais ou menos 50% de outros artistas. As críticas mais bizarras são aquelas referentes a sua autenticidade. Detratores citam conspirações, algumas envolvendo seu pai, seus compositores, sobre quem tem bancado seus vídeos e até sobre como seus lábios ficaram tão grandes. Nenhum homem na mesma situação teria sido alvo de uma interrogatório nesse nível. Por que a música pop é a única forma de arte que incita essa discussão ridícula? ‘Born to Die’ é um modelo de branding consistente. A seção de cordas se repete exaustivamente, o número de batidas por minuto remete aos anos 80, e sua voz dócil e enfumaçada sugere que nada é um problema. Incluindo as contradições narrativas que ela planta pelo álbum.”

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* LANA UPDATE – Reino Unido, França, Portugal, Alemanha, Áustria, Bélgica, Finlândia, Grécia, Suíça são alguns dos 11 países em que “Born to Die” ficou em 1º lugar em vendas no iTunes.

** Quais dos TRÊS convites oficiais para tocar no Brasil em 2012 Lana del Rey vai aceitar?

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