
Após uma enxurrada de lançamentos nas últimas semanas, mares mais calmos fizeram a gente finalmente escutar o fenômeno Joaquim, que estreia no primeiro lugar da nossa parada sentimental, que ainda discute a novidade de Luedji, o groove de Alberto Continentino e a atração de Rico Dalasam.

Caetano em “Nosso Estranho Amor”, Roberto Carlos em “Fera Ferida”, Tim Bernardes em “Pra Sempre Será”. Tem algo em comum nessas canções que Joaquim encontra ao seu modo na sua “Emboscada”. Algo de muito sincero, algo entre o falado e o épico. Não é comparando ninguém, é só um traço, um modo de propôr semelhante. Um arzinho clássico no vão das notas. Olho no homem e no burburinho acerca de “Varanda dos Palpites”.
Luedji já dá continuidade no recém-lançado “Um Mar para Cada Um”. Aqui o amor supremo vem com pressa, com aflição, quase desespero, mas sem deixar de soar sexy. “Antes que a terra acabe, quero me acabar nela”, canta. E o peso da declaração fica maior no grave de Seu Jorge e nas cordas de Arthur Verocai. Verocai cria uma tensão tão forte que parece mesmo que o mundo está por acabar.
Alberto Continentino pode não ser um nome que você reconheça, mas você conhece bem o som dele. Seu baixo é o cerne de nomes como Caetano Veloso, Milton Nascimento, Adriana Calcanhoto e Ana Frango Elétrico. E por que ele é o favorito dos seus favoritos? Ele tenta explicar em seu terceiro álbum solo, onde mostra suas habilidades de produtor, arranjador, letrista e vocal. Repara em como ele transfere o groove do baixo para a letra.
Parte de “Escuro Brilhante, Último Dia no Orfanato Tia Guga”, lançado em 2023, Rico retomou “Imã” para um vídeo onde luz e sombras vão falar sobre celebração – do funeral ou Carnaval, da luta ao luto o espaço é pouco. Fervo é luta, é mote antigo de Rico. E aqui “Imã” cai como luva com seu texto sobre a força do amor muito além da idealização romântica. É a amizade radical que Amara Moira defendeu recentemente em uma entrevista para a Revista Gama.
Já dá para afirmar que Zé Ibarra é um dos grandes intérpretes da obra de Sophia Chablau. Em “Marquês, 256”, ele sacou a engraçada “Hello”. Agora em “Afim”, deixa “Segredo” ainda mais romântica ao verter o toque indie rock da original para uma MPB setentista. Mais: ainda tem uma Sophia Chablau inédita no novo disco: “Hexagrama 28”. E isso é só um aspecto de mais um bom álbum de Zé, mesclando mais uma vez suas habilidades de compositor com o olhar aguçado para encontrar os novos compositores, sua geração. Ítallo França, Maria Beraldo e os amigos mais próximos Tom Veloso e Dora Morelenbaum estão presentes. Em um texto no Instagram, Zé falou de sua vontade de explorar mais e mais quem ele é, escapar dos limites forçados de um mundo pautado no algoritmo. No papo, colocou “Afim” como meio desse processo, da busca. Só de ter um esforço efetivo para sair da massificação, dessa insanidade que anda deixando tudo soando igual, Zé sai na frente e sugere um movimento, um aspecto da obra de seus ídolos que muito fã/artista deixa de lado ao só pensar no mercado da música.
Legal quando nossas bandas cantam em inglês, mas vamos combinar: tudo é melhor em português. O terceiro disco do grupo paranaense (radicados em SP) Marrakesh, o primeiro inteiramente em português, fortalece essa afirmação. Os singles lançados até aqui praticamente reapresentam o time formado por Winebathory, Truno, Daniel Ferraz e Matheus Castella. Vemos outros traços, novos humores, outra dinâmica. Tudo soa mais próximo, nosso, reconfortante mesmo quando fala de dor.
“Replay” tem sido um nobre projeto audiovisual interessado em trazer artistas da nova geração para regravar álbuns clássicos da música brasileira. “Da Lama ao Caos”, estreia da Nação Zumbi, é o segundo discão homenageado e reatualizado (o primeiro foi “Acabou Chorare”, dos Novos Baianos, em 2021). Como acontece em ideias do tipo, algumas releituras funcionam melhor do que outras e tudo bem. Nossa favorita é a sacada da Uana em tirar onda com “A Praiera” e seu convite esperto de tomar uma antes do almoço. Ao jogar um grave e suavizar a música ao mesmo tempo, ela encontrou uma nova alma para a música. Soa bem aos ouvidos.
Música de duplo sentido é moleza, duro é mesclar duplo sentido e outra substâncias. E é isso que Candy Mel faz em “Tanto para Dar”, onde lança um papo sobre imaginar novos e coloridos futuros. De brinde, Rico Dalasam capricha em versos inéditos, algo sempre bom. Temos em “5Estrelas”, primeiro solo de Candy, a vocalista que conhecemos na Banda Uó ainda mais dona de si, seja para tirar sarro, falar sério, amar ou sofrer. Ela tem mesmo muito mais para dar. Chega no “amor sincero”.
Em um post no Instagram, a vocalista Carol Cavesso brincou anunciando seu disco com o trio de jazz Otis Trio: “Jazz?”, ela questiona. Parece que não é, mas é também. Não é de hoje que o trio formado em Santo André há 20 anos tem dificuldade em dar nome para o que faz. Com Carol colocando voz no som da banda, antes todo instrumental, rola uma conexão do jazz amalucado deles com uma MPB mais tradicional. Mas ainda faltam palavras para explicar a bagunça aqui. É como a sobreposição de duas imagens que só fazem sentido juntas. Faz sentido?
Luan Santana acorda assustado de um pesadelo. No conto de terror noturno, ele era um astro da música sertaneja e cantava sobre encontrar alguém com quem passaria a vida todinha. Atordoado, olha para seu pôster do my blood valentine na parede, lembra da ex recente, pega a guitarra e escreve uma canção de nove minutos sobre desamor. Que papo é esse? A gente acha que foi isso que a Lupe de Lupe imaginou para escrever “Redenção (Três Gatos e Um Cachorro)”, primeiro single do próximo álbum do quarteto mineiro, “Amor”. Parece viagem nossa, mas não é. “A música mistura elementos da música gótica, do funk, do rock, do noise, do sertanejo”, descreve a banda. E de fato, temos aqui três guitarras malucas conduzindo uma música que desemboca num verso ecoando o Luan Santana da vida real – “eu, você, dois filhos e um cachorro”. Talvez a música tenha ainda mais de sertanejo, é questão de repertório cultural para sacar. Dito isso, Renan Benini, Gustavo Scholz, Jonathan Tadeu e Vitor Brauer anunciaram junto com o single uma super turnê pelo Brasil – um primor de organização, passando por todas as regiões do país e com todos os ingressos já disponíveis para compra, a maior parte pelo que vimos em casas pequenas da CENA de cada cidade. Um exemplo de trampo para a turma independente. É luta. A promessa é de shows longos, papo de duas horas passeando por toda a discografia da banda. Os caras sabem muito.
11 – Jadsa – “Samba pra Juçara” (8)
12 – Mateus Fazeno Rock – “Arte Mata” (9)
13 – Caetano Veloso – “Um Baiana” (10)
14 – eliminadorzinho – “A Cidade É uma Selva” (11)
15 – Marina Melo – “Cidade” (com Ná Ozzetti) (13)
16 – Gab Ferreira – “Ponta da Língua” (14)
17 – Gustavo Galo – “Viver É Fatal” (15)
18 – Mateus Aleluia – “No Amor Não Mando” (16)
19 – Alaíde Costa – “Bandeira Branca” (com Amaro Freitas) (17)
20 – Antropoceno – “Queda do Céu” (18)
21 – Nego Joca – “Nada Igual” (19)
22 – Catto – “Eu Te Amo” (22)
23 – Eduardo Manso – “FRB 20220610A” (23)
24 – clara bicho – “Meu Quarto” (24)
25 – Stefanie – “Fugir Não Adianta” (com Mahmundi) (25)
26 – Maré Tardia – “Ian Curtis” (26)
27 – Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso – “No Fundo, no Fundo” (Maurício Pereira e Gui Calzavara) (27)
28 – Vera Fischer Era Clubber – “Lololove U” (28)
29 – Celacanto – “Quadros” (29)
30 – Josyara – “Eu Gosto Assim” (30)
31 – Terno Rei – “Peito” (31)
32 – Rachael Reis – “Jorge Ben” (32)
33 – Bella e o Olmo da Bruxa – “A Melhor Música do Mundo” (33)
34 – Superafim – “MOUTH” (com Duda Beat) (34)
35 – Rael – “Onda (Citaçaõ A Onda) (com Mano Brown e Dom Filó) (35)
36 – Leves Passos – “Ecos do Invisível” (36)
37 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (37)
38 – Djonga – “Demoro a Dormir” (com Milton Nascimento) (38)
39 – Jovens Ateus – “Mágoas – Dirty Mix + Slowed Reverb” (39)
40 – Danilo Moralles – “Fervo de Amor” (40)
41 – Ogoin & Linguini – “Vícios Que Eu Gosto” (41)
42 – Bufo Borealis – “Urca” (42)
43 – Terraplana – “Todo Dia” (43)
44 – Marina Melo – “Prometeu” (com Maurício Pereira) (44)
45 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (45)
46 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (46)
47 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (47)
48 – Gabriel Ventura – “Fogos” (48)
49 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (49)
50 – BK – “Só Quero Ver” (50)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o cantor e pianista Joaquim, em foto de Lívia Rodrigues.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.