Top 50 da CENA – Rodrigo Ogi nada aleatório no topo do ranking. Assucena reluz em segundo. A chegada da MADRE ao pódio

Outubro chegou e as opções de disco do ano no Brasil ainda não cessaram. Semaninha veio com alguns álbuns que são sérios candidatos ao título. E vamo que vamo. 

Há tempos que não é segredo que Rodrigo Ogi tem uma das melhores canetas do país. Suas letras são afiadíssimas na temática e na forma, explorando muito além do habitual com recurso emprestados de livros e quadrinhos, duas obsessões suas. Nerd do rap, Ogi sabe tudo o que já foi feito, então sabe ainda escapar ou subverter convenções do gênero. E isso está bem evidente em seu novo álbum, “Aleatoriamente”, talvez sua exploração sonora mais ousada, muito pelo apoio da produção de Kiko Dinucci, que oferece bases amalucadas para Ogi trilhar. É o que dá quando você junta dois caras que talvez trocassem a música pelo cinema, se pudessem. A faixa “Aleatoriamente” traz Ogi em uma longa trajetória por sua imaginação sem freio enquanto quebra palavras atrás de rimas ricas. 

 A estreia de Assucena é um arraso. Em casamento com o título do álbum, “Lusco-Fusco”, a cantora e compositora parece achar o justo momento do encontro entre uma sonoridade mais clássica, quase que tradicional, guiada ao piano, com timbres mais atuais. Um encontro que se dá em suas letras também. Ousada, nem um pouco refém de modismo. Assucena parece buscar o futuro, como se trouxesse a público uma pergunta feita a si mesmo: o que ainda não foi feito? Onde posso acrescentar de verdade? Não há feats, trends, vícios modernos que antecipam como a internet precisa entender seu álbum. Clássica e moderníssima.  

Inspiradíssima em PJ Harvey e Breeders, Luiza Pereira, que fez parte do INKY e ficou sumidinha por uns tempos, reaparece como MADRE. O projeto conta com duas novidades especiais. Luiza agora canta em português, dando outro poder para suas boas letras, e toca guitarra, uma guitarra que ela diz tocar com mais feeling que técnica. E deu certo, viu? A intensidade da nova combinação atinge o ouvinte em cheio. Deixa a gente sedento por mais. Por enquanto, são apenas duas músicas.   

Olho no rock camaleônico dessa turma da frutífera e multifacetada Salvador. O Tangolo Mangos sabe unir uma brasilidade com um tempero indie decentíssimo que pode agradar os fãs do Pavement até, saca? O toque lo-fi de “Poca” é capaz de transportar para um lugar bem bom. Curtimos. 

O que se faz com um bom refrão? Nada de lamentar que ele não é seu. A turma do Tuyo buscou o refrão “Anjos (Pra Quem Tem Fé)”, um dos maiores hits do velho grupo carioca O Rappa, e deu sua cara e voz adicionando harmonias, novos versos e um novo punch. 

No fluxo intenso de informações e sensações que sobrevoam nossa vida atual, é preciso coragem do artista em se retirar por um longo período. Periga não ser lembrado, periga ter dificuldade em voltar a trabalhar. Periga muito coisa. Gabriela Terra, a dona do My Magical Glowing Lens, reuniu essa força. Foram seis anos de silêncio. “Eles dizem que precisamos lançar músicas o tempo todo, mesmo sem cuidado, sem saúde mental, sem afeto, só para estar em alta no mercado e receber os tais elogios para uma arte vendável… É complicado…”, expôs Gabi no seu anúncio de volta. Em três anos, cuidou de fazer as coisas a seu modo. Chamou Pupillo para produzir, Benke do Boogarins para mixar. “Além de música, produtora musical e diretora criativa, fui por fora vendedora, professora, secretária, agente territorial e outras coisas. Só para não lançar aquela mesma coisa, só para não fazer tudo na brothagem, só para pagar todo mundo direitinho e fazer algo diferente do que o lançamento independente vem fazendo”, diz Gabi, que complementa com uma dúvida. “Se vai dar em algo, só o tempo dirá, não os números. Se vocês vão gostar, é tudo que eu mais quero saber.” Gabi, a gente não gostou, a gente amou, a gente tava com saudade. E damos razão para o seu pensamento, é preciso tempo, é preciso fazer como se acredita que é certo. E assim tudo sobrevoa muito bem.  

Esta canção cabe na CENA, mas poderia estar na nossa lista de música gringa. Vamos explicar.  O músico paulistano Apeles inventou um álbum colaborativo com vários artistas deste mundão, a começar pelo rapper britânico Awate, que participa desse single de estreia do projeto. A ideia que levou três anos para ser completada com Thiago Klein na produção e Hélio Flanders dividindo a direção musical com Apeles recebeu vários convidados para uma noite única de registro. 

Tem um tempo que a gente é fã deles e está sempre recomendando por aqui. A turma da Viratempo, formada por Vallada, Danilo Albuquerque, Hygor Miranda e Max Leblanc, segue capaz de chacoalhar bem as ideias e corpos com alto astral e good vibes. Eles já vinham dando pistas do que preparavam para o próximo álbum, mas agora é questão de tempo. Vem aí “Cidade Tropical Pensamento”. A ideia deles de juntar o universo Marcos Valle com o planeta Gorillaz não é só uma ideia, já é realidade. Sonzera. 

Alaíde Costa continua sua rica parceria com Emicida e Marcus Preto iniciada em “O Que Meus Calos Dizem sobre Mim” e prepara um novo álbum com repertório construído especialmente para sua grande voz. E é essa voz potente aos 87 anos que dá corpo para uma canção de Junio Barreto para lá de quente em tons de vermelhos, já evidenciados na capa do single. Como se já não bastasse o calor que assola o país por estes dias quentes de setembro, temos Alaíde provocando fervura.

 “Belezas São Coisas Acesas por Dentro”, trecho da música “Lágrimas Negras” de Jorge Mautner e Nelson Jacobina, é o álbum que registra o trabalho em homenagem a Gal Costa que a cantora Filipe Catto vinha fazendo por palcos pelo Brasil. Um registro incentivado pelo produtor Zé Pedro e que fica como boa apresentação do poder de Gal muito por conta do olhar inventivo de Catto para canções conhecidas e desconhecidas da nossa saudosa cantora.   

11 – Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo – “Quem Vai Apagar a Luz” (com Negro Leo) (6)
12 – Alzira E + Corte – “Filha da Mãe” (7)
13 – Babe, Terror – “Casa das Canoagens” (8)
14 – Luiza Lian – “Viajante” (9)
15 – Inês É Morta – “Vida em Paranoia” (10)
16 – Gabriel Milliet – “Silêncio Brutal” (11)
17 – Tássia Reis – “Ofício de Cantante” (12)
18 – Ana Frango Elétrico – “Insista em Mim” (13)
19 – Lúcio Maia – “Horas Iguais” (14)  
20 – Jaloo – “MAU” (15)
22 – Don L – “Lili” (com Terra Preta e AltNiss) (18)
23 – Varanda – “Vontade” (19)
24 – dadá Joãozinho – “Pai e Mãe” (20)
25 – Karen Francis – “Linha do Tempo” (21)
26 – Lupe de Lupe – “Bruna” (22)
27 – Xis – “Arquiteto da Cabeça” (23)
28 – Gabriel Ventura – “A Queda para o Abraço” (26) 
29 – Leves Passos – “Atrás dos Olhos” (27)
30 – Luna França – “Gira” (28)
31 – Clarice Falcão – “Podre” (29)
32 – Xande de Pilares – “Diamante Verdadeiro” (30) 
33 – DJ K – “Isso Não É um Teste” (31) 
34 – FBC – “O Que Te Faz Ir para Outro Planeta?” (32)
35 – Garotas Suecas – “Todo Dia É de Mudança” (33)
36 – Mateus Fazeno Rock – “Pode Ser Easy” (34) 
37 – Lirinha – “No Fim do Mundo” (35)
38 – Ava Rocha – “Disfarce” (36)
39 – Zudizilla – “Tempo Ruim” com Don L (37)
40 – Letrux – “As Feras, Essas Queridas” (39)
41 – Jadsa e YMA – “Mete Dance” (41)
42 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Viridiana Remix)” (42)
43 – Rico Dalasam – “Espero Ainda” (43) 
44 – Troá! – “Que Pena” (44)
45 – Marcelo D2 – “Tempo de Opinião” (com Metá Metá) (45)
46 – Luisão Pereira – “Licença” (com Luíza Nery) (46)
47 – Ítallo – “Tarde no Walkiria” (47)
48 – Dj RaMeMes – “Vamo Fuder” (48)
49 – Zé Ibarra – “Vou Me Embora” (49)
50 – Rincon Sapiência – “XONA” (50)

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*  Na vinheta do Top 50, o rapper Rodrigo Ogi.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.