Top 50 da CENA – A volta enorme de Tulipa Ruiz. O impressionante Number Teddie. O Wry em português fecha o nosso pódio

Nesta semana a gente gastou tinta para resenhar as novidades – fora as músicas que não deu tempo de escutar tamanho é o volume de bons lançamentos nesta terra. Então, nem vamos enrolar muito aqui no papinho inicial. A Tulipa voltou a entregar músicas inéditas e agora vamos nos ocupar de sorrir e aproveitar. 

Arte em foto de Nino Andres Biasizzo

Foi nestes dias que escrevemos por aqui da saudade que a gente tava da Tulipa Ruiz? Hora de resolver essa questão. Vem aí o novo álbum da cantora santista mais mineira/paulistana que a gente já conheceu. “Habilidades Extraordinárias” chega no dia 23 de setembro. “É um disco pós-confinamento, com os hematomas e as dores decorrentes de tanta violência social, política, ambiental, nos relacionamentos, trabalhista. Um disco que tenta expurgar o agora, cultivando a coragem em meio a tanta falta de estímulo. Sobre estar viva e presente, sobre renascer a cada dia”, escreve Tulipa.  “Samaúma”, seu primeiro single, dá o tom do álbum, com seu som encorpado gravado em fita. O frescor da faixa parece resultado do tempo que Tulipa deu nas inéditas – tem uma leveza, prazer e criatividade aqui difícil de traduzir em palavras. A letra, que entrega informações da mesma maneira que esconde, também é das melhores dela, que neste tempo fez excelentes letras para outros artistas – Elza Soares, Juçara Marçal, Tássia Reis… “A música fala da natureza de uma mulher que se relaciona com a natureza das coisas e dos mistérios de maneira consciente, inconsciente, orgástica e respeitosa”, ela conta. A sequência dos versos onde acelera a conversa (“Meu verbo vira espuma, eu viro espuma/ Eu viro verbo, eu viro espuma/ Eu viro espasmo e fico pasma quando vira música”) vai deixar muito rapper aplaudindo o flow.

Chora um pouco, ri depois. É assim que você vai escutando as músicas do Number Teddie. O menino que saiu de Manaus para tentar uma chance ao lado produtor Gorky (que você conhece do Bonde do Rolê ou da Pabllo) tem uma caneta afiada e cada verso seu é cortante a ponto de te deixar sem reação certa. É para rir ou chorar? Tudo soa fresco e original aqui – o instrumental, a postura da sua voz, a escrita. Ele foi uma das sensações de um certo “lado B” do Rock in Rio, pelo que a gente ouviu falar. Faz todo sentido que seja. É tão viciante o som do Number Teddie que a gente já recomenda mais duas que vão te deixar apaixonado: “PRÊMIO” e “bom ator”. Se você precisa de um aval gringo, saiba que o Zane Lowe, o homem forte da Apple Music, está apaixonado nessa maluquice. 

A gente também já escreveu isso aqui algumas vezes, pelo que lembramos. Wry em inglês é foda, mas em português é ainda mais saboroso. E a banda chegou chutando a porta aqui. A pegada pós-punk nesta “Sem Medo de Mudar”, título que por si só já diz muito, é daquelas que deixam a gente imediatamente em alerta, com vontade de andar por ruas estranhas em dias nublados. 

O jovem produtor musical Ubunto já tinha chamado nossa atenção no trampo que celebra a obra “Ainda Atrás do Pôr do Sol”, de Lazzo Matumbi. Agora ele chega com seu primeiro disco autoral, “Abafabanca”. O crítico musical Gg Albuquerque, que assina o texto de apresentação do álbum, define do melhor jeito possível a proposta do LP: Ubunto aqui vai atrás de não “emular o passado, mas buscar nele os caminhos para continuar a construir um DNA sonoro que é nosso — e somente nosso”. Quente. 

Outra tecla que sempre batemos aqui é a da dor de imaginar como seriam as rádios brasileiras se elas tivessem um pouco mais de boa vontade com a nova música brasileira. Pega por exemplo “Vey”, canção do Alagoano Janu, som do seu primeiro álbum, “Miolo do Oxente”. É um hit tão certeiro, mas tão certeiro, que você não pode cometer o mesmo erro das rádios. Gruda o ouvido aqui. É pop, guitarrada e brega – e é de deixar o Ezra do Vampire Weekend mordido de não ter nascido brasileiro.   

Melhor que a música só o bom humor da banda curitibana para apresentar seu novo single, depois de uma certa ausência temporal longa: “Ea fala sobre aquele momento quando dar o braço a torcer já é pedir demais e acabamos nos tornando quase como buracos negros, sugando toda a luz em nossa volta. Mas o teminha pesado não tira nossa alegria em trazer para vocês mais uma faixa”. Imagina, turma, clima pesado que nada – até que a música engana a gente com seu clima bem dançante, diga-se. Aprovadaça.

Emociona demais o novo vídeo do Tim Bernardes, que ao misturar imagens atuais com o arquivo da família deixa todo mundo para lá de sentimental com as coisas. Especialmente, seu olhar especial para o conselho da vó: “Vai, meu filho, encontra um jeito/ de ser aqui mesmo o que você sonhar”. Musicalmente, a gente chapou que o Tim faz sutis referências a duas canções que muita gente não colocaria juntas, mas que depois a gente percebeu que também são sobre conselhos de mãe: “Let It Be”, dos Beatles, e “No Dia em Que Eu Saí de Casa”, famosa na voz do Zezé Di Camargo e Luciano. Aqui, o conselho é de vó, que é mãe duas vezes, tudo certo. 

Agora papai e pronto para soltar um novo álbum, Rashid abre os trabalhos da nova fase dando uma rápida olhada para o passado, aquela visão que ajuda a não perder o rumo do futuro almejado – firmeza no objetivo, manter o foco e os princípios. Um dos melhores momentos é quando a produção do LR Beats muda a pegada da batida e Rashid acelera os versos: “Narro a vida igual Villani/ Trago um ato que inflame o Maracanã/ Minhas rimas são o meu retrato, fato/ Muito mais exato que o Instagram”. Coisa de quem sabe bem o que tá fazendo. Vem forte o novo álbum do homem.  

“O poema é para mim terra firme/ como é, para o náufrago, a ilha”, esses são dois versos do poema “A Ilha”, de Elisa Lucinda, que ganham versão musicada por Izzy Gordon, que prepara seu quinto álbum, “O dia depois do fim do mundo”. Neste gesto de reverência à arte, mais um nome é homenageado: Robson Jorge, referência direta para o arranjo da música, na produção de Renato e Ronaldo Gama. 

É Top da CENA é Top Gringo? A gente ficou na dúvida por aqui. É que Winter é uma curitibana radicada em Los Angeles e está conseguindo uma superrepercussão lá fora com seu novo single, que tem a participação especial da artista norte-americana Sasami. Como a imprensa estrangeira não identifica ela como brasileira, como será que fica essa situação? Enquanto a gente não descobre, vamos curtindo o som e o recomendando por aqui mesmo. Está bonito demais. 

11 – Môa do Katendê – “Embaixada Africana” (com Criolo) (6)
12 – Ombu – “Pare” (Estreia) (7)
13 – Jonathan Ferr – “Lá Fora” (com Coruja BC1, Zudzilla, Lossio) (10)
14 – Tori e Bruno Berle – “Descese” (11)
15 – Josyara – “MAMA” (12)
16 – Valciãn Calixto – “Adoção” (13)
17 – Maglore – “Para Gil e Donato” (14)
18 – José Miguel Wisnik – “O Jequitibá” (15)
19 – Black Pantera – “Isolamento Social” (16)
20 – Tom Zé – “Pompeia – Piche No Muro Nu” (18)
21 – João Donato – “Órbita” (19)
22 – Francisco, El Hombre – “Arranca A Cabeça Do Rei” (20)
23 – Rohma – “@rroboboy” (21)
24 – Joyce Moreno – “Tantas Vidas” (com Mônica Salmaso) (22)
25 – Filarmônica de Pasárgada – “Saudosa Ma Loka” (23)
26 – NoPorn – “Nome Sujo” (24)
27 – Luli Braga – “Depois das Onze” (25)
28 – Djavan – “Sevilhando” (26)
29 – Rico Dalasam – “Guia de um Amor Cego” (com Céu) (27)
30 – Nobat – “Beira do Mar” (com Luli) (29)
31 – Kamau – “Aparte” (Avulso #06) (30)
32 – Marissol Mwaba – “Parece Azul” (31)
33 – St. Aldo – “Curly Mind” (32)
34 – Tatá Aeroplano – “Na Beleza da Vida” (33)
35 – ÀVUÀ – “Famoso Amor” (34)
36 – Glue Trip – “Marcos Valle” (35)
37 – Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis – “Sé” (36)
38 – Bruno Berle – “Até Meu Violão” (37)
39 – Juçara Marçal – “Odumbiodé” (38)
40 – Mulamba – “Barriga de Peixe” (com Kaê Guajajara) (39)
41 – MC Tha – “São Jorge” (com Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Sueide Kintê) (40)
42 – Letieres Leite & Orquestra Rumpilezz – “Coisa n° 5 – Nanã” (com Caetano Veloso) (41)
43 – AIYÉ – “Exu” (42)
44 – Alaíde Costa – “Aurorear” (44)
45 – Criolo – “Ogum Ogum” (com Mayra Andrade) (45)
46 – N.I.N.A. – “Anna” (46)
47 – Sérgio Wong – “Filme” (47)
48 – Saskia – “Quarta Obra” (48)
49 – Radio Diaspora – “Ori” (49)
50 – Luneta Mágica – “Além das Fronteiras” (50) 

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora Tulipa.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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