Tambor, yoga e combate ao estupro por uma banda de nome (quase) impronunciável. Assim que se faz um top 3, gente. Um pouquinho de uma das bandas mais interessantes do mundo hoje, um pouco de um artista nigeriano que não abre de sua língua materna para dialogar com o mundo e um tanto de umas minas (com um cara) com muito a falar (e tocar). Talvez seja o primeiro Top 10 do ano que sofremos um pouco ao deixar algumas coisas de fora. Teria o ano começado para valer?
A Escócia e suas bandas geniais. Uma delas é o trio Young Fathers. Formado por Alloysious Massaquoi, Kayus Bankole e ‘G’ Hastings, eles entregam em seu quarto álbum de estúdio, “Heavy Heavy”, seu melhor e mais abrangente trabalho até aqui. Basta olhar as resenhas por aí: muita gente deu cinco estrelas. E o prestigioso site “Pitchfork” também concordou com a gente e fala em “talvez seja o melhor trabalho do grupo”. O processo criativo dos caras foi ir para o estúdio sem ideias concretas, deixar a cabeça livre para criar e juntar os pedaços. Para o jornal inglês “Guardian”, Hastings resumiu: “Erros são bons, a perfeição é um pecado”. O resultado desse método mais aberto ao acaso fica explícito na emocionante “Drum”, que Alloysious associa a uma música gospel. Em um momento da letra, Kayus opta por trocar o inglês pelo iorubá, parte de sua origem nigeriana, e explica: “É como canalizar uma parte de mim que o mundo ocidental não consegue expressar. Às vezes sinto que a língua inglesa falha comigo, (…), então é conectar-se ao meu verdadeiro eu e me expressar de uma maneira verdadeira”. Coisa séria
E o trecho em iorubá na faixa do Young Fathers não é a única aparição do idioma por aqui. Em “Yoga”, o nigeriano Asake, conhecido por seu afro-fusion veloz, diminui o ritmo para um som que ele afirma ser sobre “cuidar da minha vida e proteger minha paz, para que ninguém possa perturbá-la”. Ainda que seja escrita de Asake para Asake, o ouvinte pode usar ela para proteger sua própria paz.
E na Irlanda o pós-punk do quinteto M(h)aol (pronuncia-se “male”) chama atenção pelo instrumental e pelo vocal demolidor. Cantadas por Róisín Nic Ghearailt, as letras vão direto ao ponto nas suas críticas. Algumas vezes com seriedade, caso desta potente “Asking for It”, que denuncia a cultura do estupro. Outras vezes investindo mais no sarcasmo – na música “Therapy”, por exemplo, ela considera enviar a conta do terapeuta para a pessoa que “fodeu com ela”. Enquanto perde madrugadas investigando antigas mensagens no celular que entreguem em que ponto essa tal pessoa deixou de ser querida com ela. Vish!
Tem uma versão editada e tal, mas vale ir na “oficial” e encarar os sete e tantos minutos do novo single do veterano grupo liderado pelo gênio Ira Kaplan, que sabe bem o que fez desde 1994. Essa é a última prévia até a chegada de “This Stupid World”, décimo sétimo álbum da banda, que deve sair já na sexta-feira. Falamos que o ano começou, a sexta que vem chega com MUITOS lançamentos.
Seguindo na Irlanda, precisamos falar sobre o Inhaler. Há duas formas de encarar a banda, como quase tudo na vida: com mau humor ou bom humor. Talvez você ache que o filho de Bono, que lidera a parada, ecoe demais o próprio pai e especialmente os filhotes musicais do U2, como o grupo americano The Killers. Quem for mais simpático na abordagem vai encontrar uma banda disposta a tentar escrever boas canções. “Love Will Get You There” deve muito a “Under Cover of Darkness”, do Strokes? Observemos então para onde essa banda vai.
A encantada música nova do veterano grupo eletropop inglês Depeche Mode finalmente chegou, carregando fantasmas (o grande Andy Fletcher, que completava o trio, morreu no ano passado). “Ghosts Again” é aquele balancinho triste porém dançante, que fala de “olás” e “adeus”, no pique do agora duo. A canção vai estar em : Memento Mori”, o disco de estúdio número 15 deles, que chega em 17 de março.
Gente, quem não tem saudade do Scissor Sisters? Dez anos atrás, esses norte-americanos sacaram uns bons hits do bolso. O maior de todos: “I Don’t Feel Like Dancin”, daquelas capazes de salvar qualquer DJ em noite pouco inspirada. E aí que a gente se pegou escutando Jake Shears sem lembrar que o cara era o vocalista da banda. E aí foi inevitável pensar: mais isso é puro Scissor Sisters! Seu novo álbum solo deve sair lá para o meio do ano e leva o sugestivo nome de “Last Man Dancing” (em tradução livre, “O Último Homem Dançando”), uma homenagem de Jake a todos inimigos do fim de qualquer balada.
Sim, Samara Joy é a cantora que levou o prêmio de revelação do ano no Grammy impedindo a vitória da brasileira Anitta. Mas que isso não nos frustre. Samara faz um somzão também. Ela é superretrô e esbanja técnica de maneira absurda, daquelas vozes que parece ser capaz de tudo. Se aos 23 anos ela já tem esse repertório, imagina lá na frente. Tem muito sentimento ali, dá para notar. Chama a atenção como ela parece sempre escolher a maneira mais surpreendente de cantar a cada nota sem perder uma essência pop. Em outras palavras, ela faz que caminhos tortos soem como os mais naturais do mundo. Não é para qualquer um. Venceu o Grammy com méritos.
I feel so good
I feel so good
I feel so good
I feel so good
I feel so good
I feel so good
I feel so good
I feel so
Quase que todo o novo single do rapper inglês Slowthai, que anda pendendo muito para o rock, vai com esse repetição hipnotizante em pegada quase punk acompanhado dos vocais da excelente Shygirl.
“Amaranth” é uma música que parece sempre estar preste a se desintegrar na sua barulheira hipnótica, mas aí vem uma quebra, um silêncio, um trecho com batida quase pop e aí do nada um momento de calmaria vocal do nada. Em resumo, uma maluquice. E o nome dessa banda é muito bom. Vale ficar de olho nesses nova-iorquinos.
* Na vinheta do Top 10, o trio escocês Young Fathers.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.