O disco novo da Pabllo, nosso veredicto. Um ótimo convite à noitada dela, da euforia do descontrole à melancolia do after

“Eu sou da noite. Eu pertenço à noite.”

Essa é a nova Pabllo. Recém-saída de “Batidão Tropical”, seu álbum anterior que recupera suas raízes em explícita homenagem à música que a formou, a artista segue para um trabalho mais presente: “Noitada”, o disco novo finalmente lançado, estende um olhar ao hoje, mais precisamente ao “hoje à noite”. Para a artista (em entrevista à Popload), “é um ressurgimento, uma ressurreição”. 

Reivindicar a pista de dança noturna pode ser ambicioso, considerando que se trata do espaço mais cobiçado pelos artistas desde a pandemia. Mas Pabllo sempre ocupou esse espaço confortavelmente, abraçando quem não se entrega à luz do dia. Ela é da noite, ela pertence à noite.

Com os já consolidados singles “Ameianoite” (“à meia noite” ou “amei a noite”) e a excelente “Descontrolada” – capitaneada pela sempre impressionante voz de MC Carol –, “Noitada” se autorreforça tematicamente o tempo todo, não deixando espaço para dúvidas do que o álbum pretende fazer.

Mas é a partir de “Calma Amiga” que “Noitada” escancara sua aptidão sonora pelo hedonismo, nos graves e na batida. Com áudios de WhatsApp de Pabllo e Anitta sobre um beat do DJ RaMeMes, é essa espécie de interlúdio que nos conduz dentro de uma etapa mais densa, pesadona, da narrativa. 

É sempre um alívio ver que Pabllo sustenta seu lugar na música, o de quem entende seu público e pesquisa quem pode conduzi-la a determinados espaços sonoros. Não é à toa a opção pelo DJ RaMeMes – jovem produtor de Volta Redonda, RJ, conhecido no Soundcloud por remixes que mesclam faixas radiofônicas e o pancadão, sob a alcunha “O Destruidor do Funk”. Curiosamente, é esse DJ ainda pouco conhecido que assina a faixa com Anitta, a convidada mais astronômica da lista; e é graças a essa contribuição que “Balinha de Coração” consegue se distanciar um pouco do que já conhecemos das duas artistas.

Outra participação que se realça no conjunto é a d’O Kannalha: o fenômeno de pagodão, cujo sucesso na Bahia já é dado, toma a faixa
“Penetra” para si, como se deixasse Pabllo sem palavras. Nesses detalhes – e na mescla entre gêneros brasileiros eletrônicos com o grave noturno –, o disco nutre seus pontos fortes, ainda que passe por faixas menos notáveis.

“Noitada” não permite tempo de respiro ou tédio (fica a curiosidade de “Cadeado”, faixa ainda não divulgada). Para parâmetros do mainstream nacional, tem de tudo: o que inevitavelmente se fará presente no Carnaval, o que ficará no TikTok e as inevitáveis brincadeiras da artista (“É culpa do cu-pido”).

A curta duração do álbum, quase 22 minutos, pode fazer com que ele não soe mais como um EP do que o esperado “PV5”, mas não parece servir como uma desvantagem – tem sustentação conceitual. Afinal, Pabllo nos conduz pela linha do tempo do descontrole, o derreter, o tesão e a angústia, com a visão acelerada de quem não esteve sóbria em momento algum. Mas, claro, faz com que você rapidamente procure o replay. 

É um fortalecimento da própria Pabllo, sua capacidade eclética que não parece ter fim, e seu reinado perseverante sobre a pista de dança. Na noitada dela, não há quem perca o convite: aqui, toca pagodão, funk 150 BPM, tecnobrega, um pouco de trap, house music. Anitta, MC Tchelinho, MC Carol, O Kannalha, Gloria Groove estão lá. 

E não precisa de convite.

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* A foto da Pabllo usada na home da Popload, na chamada para este post, é de Gabriel Renne.