Top 10 Gringo – Babygirl aparece no alto para descomplicar. Sleaford Mods crava o segundão. Holly Humberstone morde o terceiro posto

Já estamos no segundo Top 10 de 2023, mas ainda precisamos falar um tanto sobre 2022. Fomos pegando uma música ali e outra acolá e reparamos que para contar sobre a temperatura do ano que chega é preciso falar mais um pouco sobre o passado recente. Até sobre um som do distante 2021, que entrou na lista. 

Já sacaram o trabalho da dupla canadense formada por Kirsten “Kiki” Frances e Cameron “Bright” Breithaupt? Eles apareceram em uma dessas mil listas de promessas para 2023 e ficamos malucos com o som da banda. Tem aquele vocal super na cara, no estilo que a Billie Eilish popularizou no pop, mas a pegada do duo é mais puxada para o rock indie – um pouquinho lo-fi, esbarrando no bedroom pop. Pelo que a gente entendeu, a turma é bem próxima da Phoebe Bridgers. Não estranhe se eles aparecem mais por aí, especialmente quando aprontarem seu primeiro álbum – até agora soltaram apenas singles e EPs. 

E, se tem banda que sofre para lançar seus disquinhos, esse não é o caso da dupla inglesa Sleaford Mods. Os doidões Andrew Fearn e Jason Williamson parecem sempre ter muito e muito para falar. A cena pós-punk inglesa que o diga, já tendo sido alvo de certo questionamento por parte dos brothers. Playboy não tem vez com eles. Agora em 2023, eles lançarão seu sétimo álbum como dupla e a língua segue afiada, mirando aqui em tudo que eles detestam na Inglaterra – e pelo que entendemos isso tem pouco a ver com o clima local e mais com o que é feito na política da ilha. Lidar com protofascistas não é exclusividade brasileira. 

Ano passado ficamos devendo falar um pouco da inglesa Holly Humberstone. Seu álbum “Can You Afford to Lose Me?”, lançado em outubro, tardou a chegar na gente e o assunto passou, mas já em 2023 seguimos fãs da deliciosa “Overkill”, que na real, saiu em 2021… Ela é outra artista que deixa seu vocal colado no microfone, valorizando todos os “ssss” da voz, dando aquela textura especial. Suas letras conseguem descrever perfeitamente os sentimentos que procura passar. “Overkill”, por exemplo, é sobre a torturante sensação de não conseguir mandar a real para a pessoa que você tá a fim. Que ironia ela cantar tão bem sobre ficar travado na comunicação. Angústia, mas com um certo humor que chega com a idade e uns goles. ( “A couple more tequilas/ And I’ll tell you how I’m feeling”). Ah, sabe quem ela costuma citar como uma de suas principais referências? Uma tal de Phoebe Bridgers. 

Enquanto uns ingleses se revoltam, outros olham para o céu e ficam sonhando e lembrando de um passado glorioso. É o caso do nosso velho amigo Noel Gallagher, que em sua quarta empreitada solo, planejada para junho, parece olhar diretamente para os momentos das baladas grandiosas do Oasis. Escapando de tentativas mais experimentais, “Easy Now” tem a cara de um hino para estádios lotados. Caótica, à maneira Gallagher, com forte sobreposição de vozes, guitarras, cordas, coros, a música tem um final que remete a “Wonderwall” – repara, as duas acabam no mesmo acorde. Comece a especular a turnê de reunião da banda imediatamente.

Com essa música sem título, apenas a numeração de mais uma BZRP Music Sessions, projeto do DJ argentino Bizarrap, Shakira foi direto para o primeiro lugar de todas as paradas. Um feito que, de acordo com ela própria, não imaginava conseguir aos 45 anos e cantando em espanhol. Se não é de suas cancões mais inspiradas, a honestidade da letra que detona o vacilão do Piqué, craque do Barcelona e ex da cantora, falou alto com a multidão. Fora versos certeiros como o divertidíssimo: “Cambiaste un Ferrari por un Twingo”. Catarse, desabafo e um pouco de sinceridade, tão rara em tempos tão coreogeafados, sempre terão vez no pop. 

Líder da querida Supergrass, Gaz Coombes chega ao seu quarto álbum solo, onde se arrisca em outras ondas pero no mucho. É o rock bem feito entregue na banda. Um pouco de piano, uns climas, ótimas letras e melodias pegajosas. Para os órfãos da fase “AM” do Arctic Monkeys, esta música, por exemplo, vai funcionar demais, tem muito o clima que a banda de Sheffield resolver abandonar. Gaz pegou essa bola quicando e abandonada. 

Vocês assistiam “Veronica Mars”, o seriado de uma garota detetive? Era uma série bacana e é lembrada nessa canção da Sabrina Teitelbaum. Pode começar a seguir ela: essa fã dos Rolling Stones promete ter feito um dos sucessos do ano. Ela tem poucas músicas até aqui, mas não errou. Destaque pelo formato pouco convecional desta. Após o primeiro verso, o que seria um refrão desemboca em um solo de guitarra maluco que leva ao final da canção. Ousada. 

Será que o Kevin Parker do Tame Impala pode cobrar uns direitos autorais em cima do riffle desse som da jovem banda inglesa Pynch? Espero que ele não seja tão maldoso, referência é referência e tá tudo certo. Fique de olho nesse quarteto londrino. Single a single, eles vão chamando atenção e soltam seu primeiro álbum lá em abril. Tá longe, mas já estamos na expectativa.

Vamos alimentar a expectativa de que 2023 terá um álbum “surpresa” do Strokes em algum momento? Vamos, está combinado. Até lá, a gente se diverte com a caixa que a banda vai lançar rememorando os singles de sua melhor época (os três primeiros discos). Esnobe da nossa parte? Bom, se você quiser ser mais esnobe ainda, pode falar que a melhor fase deles foi essa capturada pela Rough Trade, com a banda supercrua. Dava para ver que ia dar certo. 

Quem diria que o The Smile seria a banda do ano passado que mais se mexeria em 2023? Depois da ótima sessão para o Tiny Desk, o grupo de Thom Yorke aparece para 20 minutos na KEXP e arrepia mais uma vez. Come to Brazil, Thom and friends. 


* Na vinheta do Top 10, a banda canadense Babygirl.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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