Popload entrevista: Romy. Todas as cores da guitarrista do XX, que vem solo e com seu projeto dance se apresentar em SP em maio

Quem estiver um pouco desavisado no parque Ibirapuera no mês que vem, numa certa noite em que o evento paulistano C6 Fest estiver reunindo no mesmo lugar artistas de pegada dance como os veteranos do Soft Cell, os magos do som 2ManyDJs e a colorida Romy, dificilmente vai associar que aquela moça, ali felizona cantando sua alma para fora e orquestrando uma vibrante disco music no palco (e provavelmente uma mais vibrante ainda pista de dança formada diante dela), seja a mesma pessoa que veste preto da cabeça aos pés e empunha toda tímida uma guitarra muitas vezes sombria na banda inglesa The XX.

Romy Madley Croft, artisticamente usando apenas Romy, que conversou com a gente desde Londres e vem ao Brasil em meados de maio para ser uma das atrações do novo festival paulistano, está vivendo exatamente neste momento o que podemos tratar de “dilema das cores”.

Explica-se. Ela se apresenta no país no dia 18/5, pela terceira vez no país, só que agora em uma forma inédita. Romy foi convidada para divulgar no palco as músicas de seu primeiro disco solo, o explosivo, dance pop e colorido “Mid Air”, lançado há alguns meses. As duas outras vezes em que esteve por aqui, uma em 2013 e outra em 2017, foi para ser parte do cultuado trio The XX, cuja sonoridade, por mais paradoxal que seja, está mais para o silêncio e para a escuridão.

O “problema” de Romy, agora, é que ao mesmo tempo que tem viajado para apresentar ao vivo seu “diário pessoal”, o disco solo, tem intensificado a frequência no estúdio com sua marcante banda, já que o XX resolveu voltar agora, depois de um hiato de seis anos sem fazer shows, sete anos sem gravar um disco novo.

Colorido, preto, colorido, preto. Qual vai ser o look de Romy agora?

“Quando formamos o XX [2006/2007], adolescentes, a gente costumava usar muito preto, mas era de um modo natural, talvez por causa da idade. E, como logo nos tornamos melhores amigos, acabávamos compartilhando um estilo que complementava um ao outro”, diz Romy. “Depois, com o tempo e desenvolvendo um estilo mais individual, tenho gostado de usar mais cores. Às vezes a gente ri muito quando estamos juntos, porque parece que estamos indo para festas diferentes devido aos estilos de roupa variados que usamos hoje em dia. Mas o preto deve voltar, porque o XX vai voltar. Precisamos encontrar um visual de banda em conjunto novamente e não vejo outra cor para o XX. Mas tenho gostado de usar cores e me sentir mais leve.”

A questão das cores de Romy está intimamente ligada a sua vida pessoal e o tipo de sonoridade que escolheu adotar para finalmente fazer seu disco solo longe dos amigos de banda, o produtor Jamie XX e o baixista Oliver Sim.

“Mid Air”, sua primeira aventura sozinha e um álbum para pistas de dança mais alegres, é considerado uma carta de amor de Romy em forma de disco music, endereçada a seu passado de teenager começando a sair à noite e indo a clubes LGBTQIA+. E levou exatos seis anos para ela ter coragem de, primeiro, fazê-lo. E, depois, de lançá-lo.

“Sim, o álbum é como se fosse meu diário. As letras são superpessoais mesmo e as músicas se referem às canções que eu sempre amei, as que mais me marcaram quando eu era mais jovem. Ao começar a sair à noite aos 16, 17 anos, eu ia a clubes queer em Londres. E as músicas que mais me marcavam eram as dance melódicas, as pop mais emotivas. É esse tipo de música que eu quis fazer agora, meio que para representar aquela menina queer que eu era descobrindo tudo, ainda que bastante tímida, um mundo que a música me ajudava a enfrentar”, lembrou a cantora inglesa, de 34 anos.

“Nas letras de ‘Mid Air’ eu estou sendo muito aberta sobre meu relacionamento [ela namora a fotógrafa e diretora Vic Lentaigne] e expresso o desejo de que, assim como quando era adolescente e sempre buscava por uma representação LGBTQIA+, o que eu escrevo nas músicas de agora possa oferecer isso para outras jovens. Ao compor essas letras, sempre pensava em como elas teriam sido significativas para mim mesma quando passei a frequentar os clubes. Esperando que elas possam significar algo do tipo para outras pessoas também.”

Romy adianta ainda como é seu show ao vivo, esse que São Paulo vai poder ver no C6 Fest, bem diferente da climática performance do XX.

“Estou explorando com essa apresentação um lado diferente de mim mesma. Meu som pede um clima de dance music ‘para cima’ e um show de energia alta, para ser uma experiência libertadora tanto para mim quanto para o público. Estou ficando mais velha e cada vez mais conseguindo não me importar com minha timidez e com um sentimento de inferioridade que eu sempre carreguei. E os shows têm me ajudado com isso, me fazendo me divertir no palco e dividir uma cumplicidade cheia de energia com a plateia. É estimulante.”

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* Esta entrevista com Romy saiu originalmente na nova edição da revista “Numéro Brasil”, que acaba de chegar às bancas reais e virtuais.

** Romy passou com seu show solo pelos EUA nos últimos dias. Na sexta-feira, se apresentou no Knockdown Center, no Queens, e recebeu no palco a icônica Peaches, cantora canadense que bombou com seu electroclash nos anos 2000. Juntas, mandaram “Did I”, faixa de destaque do álbum solo de Romy, o “Mid Air”. Nessas, Romy anunciou no palco e depois em suas redes sociais que amanhã, terça 2, vai lançar um remix de “Did I” assinado por Peaches.

*** Romy se apresenta em São Paulo no dia 18 de maio, no Ibirapuera, dentro da programação dance do C6 Fest que tem ainda Soft Cell, 2ManyDJs e os brasileiros Jaloo e Gaby Amarantos. O festival paulistano ainda terá Black Pumas, Squid, Noah Cyrus, Cat Power, Soft Cell e Pavement em sua edição 2024. O evento, em sua segunda edição, acontece de 17 a 19 de maio ocupando outras três áreas do mais famoso parque paulistano. Ingressos estão disponíveis para a compra aqui. Mais infos gerais do festival e de suas quase 30 atrações, por aqui.