Saiu hoje “Cracker Island”, o oitavo disco do Gorillaz, projeto de “banda virtual” que o brit Damon Albarn lidera desde 1998. Como de costume, temos uma lista de convidados especiais impressionante (Stevie Nicks, Tame Impala, Thundercat, Bad Bunny, Beck e outros), músicas pop divertidas e um ótimo material visual para acompanhar esse trabalho um pouco mais sucinto e focado que o normal.
Enquanto a maioria das bandas lança um álbum para iniciar um novo ciclo, parece que o Gorillaz pegou o caminho oposto. Fizeram uma turnê mundial em 2022 (que passou pelo Brasil), incluindo músicas de “Cracker Island” aos poucos nos setlists, e já trazendo a estética do disco, com os músicos vestindo rosa no palco – antes de qualquer arte oficial ser revelada.
Agora que “Cracker Island” finalmente está aqui, o Gorillaz não tem mais nenhum show agendado em seu site oficial; pelo contrário, Damon Albarn está prestes a sair em mais uma turnê de “reunião” com o Blur, banda que um dia já foi seu projeto principal, mas hoje só ressurge para lotar estádios uma vez por década.
Lembramos que o disco anterior do Gorillaz foi o fantástico “Song Machine, Season One: Strange Timez”, lançado em 2020. Há quem diga que foi o primeiro álbum bom deles em dez anos, finalmente encerrando uma sequência de três discos bem fracos que saíram após “Plastic Beach” (2010). Tendo em vista a qualidade de “Song Machine” e os singles novos, as expectativas para “Cracker Island” estavam relativamente altas. Podemos dizer que foram alcançadas, na maior parte.
Como dissemos, este trabalho é mais focado que o normal do Gorillaz – o que também pode significar “menos variado”. O álbum “Cracker Island” aposta num som pop bem agradável, quase chiclete, mas sem perder as típicas sutilezas e detalhes sonoros de produção que sempre estiveram nas músicas do Gorillaz, sem muita surpresa ou variações bruscas entre gêneros musicais.
A maior (única?) surpresa é “Possession Island” (com Beck), última faixa, balada que inclui um brevíssimo trecho com uma banda de mariachi.
Metade do disco já tinha saído como single, e a outra metade segue uma linha similar. Se você gostou de uma música, provavelmente vai gostar de tudo aqui.
Felizmente, os singles não eram necessariamente as faixas de destaque. Dá até para dizer que “Oil” (com Stevie Nicks) e “Tormenta” (com Bad Bunny) são as mais notáveis e memoráveis do álbum, e esperamos que pelo menos uma delas ganhe vídeo, se é que esse ciclo bizarro de lançamento ainda vai permitir mais um.
Também vale elogiar o auto-controle exercido na duração do disco: apenas dez faixas, sem bônus, sem “deluxe edition”. Isso torna a obra bem mais fácil de apreciar e consumir, e evita de parecer uma playlist amontoada.
“Cracker Island” pode não ser tão abrangente quanto “Song Machine” nem ter a qualidade dos clássicos e inatingíveis três primeiros discos do Gorillaz, mas certamente fica mais próximo da “metade boa” da discografia da banda. Se por um grande acaso você não escuta nada deles há alguns anos, é seu motivo para dar uma segunda chance.