Em 2012, o grupo The Mars Volta encerrou suas atividades. Tinham acabado de lançar seu sexto disco de estúdio, “Noctourniquet”, que não foi acompanhado pela típica turnê de divulgação. Durante os dez anos que se seguiram, houve indicações de que uma reunião poderia acontecer – até porque seus líderes, o vocalista / letrista Cedric Bixler-Zavala e o guitarrista / compositor Omar Rodríguez-López, logo voltaram a colaborar, primeiro com o projeto Antemasque (2014), depois com a reunião de sua banda pré-Mars Volta, o At the Drive-In. Agora, em 2022, finalmente temos o retorno oficial do The Mars Volta, com o disco “The Mars Volta”. E provavelmente não é o que você espera.
O primeiro single lançado em 2022, “Blacklight Shine”, já indicava uma direção diferente: quase um pop psicodélico latino, não completamente oposto ao que tinham feito no passado, mas certamente uma mudança drástica. Em seguida, o single “Graveyard Love” focava mais em sintetizadores, e se desviava novamente do rock progressivo que tornou o Mars Volta tão popular. O terceiro single, “Vigil”, já foi direto para o pop. E é essa a direção que domina a maioria deste LP epônimo.
Sim, The Mars Volta fazendo pop. Não é bem um pop comercial, precisamos frisar, nem um pop psicodélico, mas um pop básico, econômico, de músicas de 3 minutos de duração. Imagine um Tame Impala pós-Currents, porém com menos potencial para virar um sucesso esmagador, e com um som bem mais controlado. Ah, e com quase nenhuma guitarra. “The Mars Volta” é mais ou menos isso.
Isso não quer dizer que o disco não tem uma conexão com trabalhos anteriores do grupo. Ela está lá, mas é singela, surgindo apenas com a atmosfera sonora singular que Cedric e Omar conseguem criar. A estrutura e a instrumentação das músicas são completamente diferentes do que costumavam fazer, e certamente muitos fãs não irão aprovar.
Há traços de algo que poderia ser chamado de rock (“Qué Dios Te Maldiga Mí Corazón”; “No Case Gain”), alguns breves sons de guitarra (“Blank Condolences”; “The Requisition”) e sintetizadores que vagamente lembram “Noctourniquet”(“Equus 3”, talvez a melhor aqui). Mas o que domina o álbum são as baladas pop, calmas, sem chamar atenção (“Cerulea”; “Tourmaline”). É certamente uma mudança ousada para um grupo que já gravou canções gigantescas e desafiantes como “Cassandra Gemini” e “Meccamputechture”, mas, infelizmente, a ousadia da mudança por si só não é o suficiente para criar um som cativante.
Com 45 minutos de duração, “The Mars Volta” é o LP mais curto do The Mars Volta. Merecem todo o crédito por não se repetirem, e por não se renderem às expectativas dos fãs – seja lá quais fossem essas. O grupo fez exatamente o disco que queria, e é um trabalho singular na carreira deles, como todos os seis que o antecederam. Só que é um disco pop, de músicas de 3 minutos. Um desvio estilístico dessa magnitude sempre traz consigo a sua porcentagem de fãs decepcionados, como já aconteceu com qualquer grupo que decidiu mudar de direção, pelo simples fato de que é diferente. No entanto, por mais aberta que esteja sua mente para esse novo estilo, ainda é capaz que “The Mars Volta” não seja exatamente o disco mais memorável que você escute em 2022.