Futebol é pop. Torcida nos EUA xinga O PAI do juiz, não a mãe

* Popload em Seattle.

Dá licença de eu abrir um espaço neste arrendamento pop para falar de futebol. Porque futebol é pop, nosso lema. Taí o game Fifa 2012, as propagandas da Umbro na Inglaterra etc. que não me deixa mentir.

Daí ontem fui num jogo de futebol americano. Mas não o futebol americano, entende? O soccer, que no Brasil é o “esporte das multidões” e aqui é um esporte indie, haha. Escrevi sobre isso na “Folha” na terça passada, mas não sei se entenderam o conceito “indie” no caderno de Esporte, hahaha.

Enfim, aí pintou a chance de eu ir ver o time local, o Seattle Sounders, jogar contra o Herediano pela CHAMPIONS LEAGUE. Mas a Champions League aqui da América do Norte, que inclui times da América Central e Caribe. É a Libertadores deles. O Herediano é da Costa Rica.

Mas aconteceram algumas coisas legais, que eu não esperava. Ou esperava um pouco, não tanto. São elas:

1. Eles xingam o PAI do juiz: Hahahaha. Nos EUA, diferentemente do Brasil, a rainha do lar é poupada na hora de descarregar a raiva pelo erro de arbitragem (que erra sempre contra o nosso time, quase nunca com os outros?). Na verdade é assim: tem três musiquinhas “contra” o juiz “ladrão”. Eles xingam o pai do juiz em DUAS ocasiões. Uma eu não lembro a letra, mas o progenitor era impiedosamente massacrado na linha “seu pai é estúpido, então naturalmente você também é”. Numa outra, mais legal, ele é citado, é parte integrante da melhor parte da canção, mas na verdade o objeto do xingamento nem é ele diretamente. E, numa projeção que o torcedor na hora do ódio com certeza não faz, as palavras bonitas são direcionadas à família toda. A letra é assim: “Who’s your father, who’s your father, who’s your faaaaather, referee? Haven’t got one, never had one. You’re a BASTARD, referee”.

Opa, peraí. Siiiiim, nessa eles estão xingando A MÃE. Num american way, hahaha.

2. Você deve ter percebido. Eu fiquei no meio de uma torcida ORGANIZADA de um time de futebol nos EUA. Dá para imaginar? Fiquei no meio da Emerald City Supporters, ECS, tipo a Mancha Verde ou Gaviões da Fiel do Seattle Sounders. Entrei no miolo, viram fácil que eu não era dali e uma menina simpática se aproximou. Me entregou um flyer com musiquinhas para cantar. Se eu estava ali naquele setor, no meio deles, atrás do gol, era para cantar tudo, toda hora, sem parar. Me avisou ainda que minha visão do jogo podia ser obstruída por braços para o alto e bandeiras. E que eu não podia sentar.

3. Eles não poupam jogadores do time adversário que se machucam durante o jogo. Os médicos entram para socorrer o cara aos gritos “LET HIM DIE, LET HIM DIE, LET HIM DIE”.

4. Mania bem brasileira, o lance em que o jogador finge uma falta e cai fazendo teatrinho também não é apreciado. Canção neles: “You dirty diving bastard”, pausada e bem musical, sendo que “to dive” em inglês é “mergulhar”, ecooooooooooooooa no estádio para saudar o “ator”. 80% dos craques do Brasileirão não teriam vida fácil nos EUA. Além do que, pelo que eu entendi, a MLS, a liga organizadora do futebol (soccer) daqui, pune os fingidos depois, analisando em vídeo as faltas contestadas pelo adversário.

5. Palavrão é evitado nas cantorias. Me falaram isso e realmente. Nada de um banal “fucking” eu ouvi. No máximo, é “bastard”, mesmo. O aspecto violento, típico de torcida organizada mais, hum, profissional, é às vezes sentido. Numa das músicas que não falam que “O céu é azul e o Sounders é verde” diz o “incendiar, destruir, trucidar e matar” a que a gente está acostumado:

“We came to drink, we came to sing whoa whoa…
Burn destroy wreck and kill whoa, whoa
Burn destroy wreck and kill
Seattle Sounders surely will!”

6. Vou botar um vídeo de gritos de “Hey” e palmas que eles fazem quando o time entra em campo. Parece bobo e talvez não dê sentido pelo vídeo, mas o eco que faz no estádio, ali ao vivo, é incrível.

PS1: Tinha 10 mil pessoas vendo Sounders e Heridiano. Eles parecem não ligar muito para este torneio internacional, pelo menos nessa fase inicia. A média de público do time, no campeonato nacional americano, no entanto, é de mais de 36 mil pessoas. Maior que a do Corinthians, no Brasileiro atual, o primeiro do nosso ranking de mais prestigiados.
PS2: O jogo acabou 1 a 0 pro time da Costa Rica. Dei azar para o Sounders, haha.