Top 50 da CENA – 2025 começou (agora). Novas de Terraplana, Baianasystem e Maré Tardia mostram o tamanho do Brasil

E as coisas começam a se movimentar pelo país De Curitiba, o Terraplana leva as guitarras para o território dos sonhos. De Salvador, o BaianaSystem chama uma turma da pesada para conversar sobre as voltas que o mundo dá enquanto se preparam para o Carnaval. De Vila Velha vem a energia pura do Maré Tardia, nova música em alta velocidade. Começou, Brasil!

Quando a Terraplana surgiu, a banda paranaense foi classificada como uma formação shoegaze. Mas um dos lances defendidos pela própria banda e muitos ouvintes era de que eles eram muito mais que isso e o shoegaze era só uma das várias influências do som deles. “Charlie”, primeiro single do segundo álbum do grupo, “Natural”, trabalha a favor dessa noção, a começar pelo riff de abertura – bem aos moldes do Nirvana. Em choque com a barulheira, a letra reta e direta (“Só quero estar em um sonho bom/ Em um sonho vou ficar”) soa superpop no vocal delicado da baixista Stephani Heuczuk, cada vez mais sem medo de soltar a voz. 

Se o ano começa no Brasil depois do Carnaval, o BaianaSystem sabiamente antecipou o repertório que vai balançar as saídas da banda em fevereiro e já soltou “O Mundo Dá Voltas”, álbum lançado quase sem anúncio prévio. De cara, o disco surpreende pelo volume e pelo peso das participações especiais: Anitta, Gilberto Gil, Emicida, Seu Jorge, Pitty, VANDAL, Melly, Antônio Carlos e Jocafi, Manoel Cordeiro… E isso é só parte da lista. Quinto trabalho da banda, quarta colaboração com o produtor Daniel Ganjaman, o álbum é, de acordo com eles, a sequência de “O Futuro Não Demora”, lançado em 2019. Ou seja, discute a multiplicidade do assunto tempo/espaço e seus efeitos na cultura, sociedade e política. O mundo dá voltas pois a vida surpreende, ensina, às vezes te dá uma rasteira, confunde e depois te explica. A banda mesmo teve que dar um tempo com a pandemia, se reinventou com o projeto “OXEAXEEXU”, celebrou os dez anos de “Navio Pirata”, aprendeu a ser um acontecimento na música brasileira – banda grande e que arrasta multidão onde for. Precisavam fazer um disco à altura dessa responsabilidade.  

Todo o “teen spirit” em sua mais pura forma produzido em Vila Velha, no Espírito Santo, terra do hardcore. Mas aqui com a faceta jovem do indie surf, às vezes veloz e pesado, às vezes pop e radiofônico. Primeiro disco desse quarteto capixaba sai neste primeiro semestre e promete, pelos singles que a gente conhece. Moçada boa!

“1997” é o futuro EP de Dadá Joãozinho, seu primeiro passo desde a estreia solo em 2023 com o excelente “Tds Bem Global”. E, pelo que dá para sacar em “100 anos”, segundo single do projeto, Dadá segue na missão de entortar as fronteiras que separam os gêneros musicais ao passo que sempre radicaliza na poética, deixando suas letras cheias de simbolismos e mistérios.

Bem Gil completou 40 anos e aproveitou a data para lançar seu primeiro álbum solo, “Doc. Coadjuvista”. O conceito do disco é simples, um registro de suas composições acumuladas por anos e que ainda não tinham destino certo. Com medo de perdê-las, Bem resolveu documentar. O nome do disco ainda brinca com seu papel na música, já que geralmente ele não fica como protagonista da cena, mas sim como apoio do pai Gilberto Gil, da companheira Mãeana ou da irmã Preta Gil, entre outros trabalhos e projetos que teve. Ao tomar a frente de um projeto, o músico inclusive se desafiou como cantor. “Respeitei as tonalidades em que as músicas haviam sido compostas ao violão e me virei depois pra cantar”, confessou. Pela boniteza das músicas esperamos que o próximo não leve outros 40 anos. 

A dupla formada Thiago França e Rodrigo Brandão bolaram o curto “Telefone Sem Fio” como um “curta metragem de cinema pros ouvidos”. A ideia é em pouco menos de 15 minutos e dez faixas colocar em cena a discussão sobre a overdose de informação e o surto de falta de atenção dos nossos tempos. É como se as canções perguntassem: onde foi que paramos de nos entender? O pequeno álbum traz participações de Juçara Marçal, O Novíssimo Edgar, Juliana Perdigão e Rodrigo Carneiro. Nas produções, Sthe Araújo e Marcelo Cabral também colaboram. 

O Ep “Dancehall Mix” é um desdobramento do projeto visual “Vybz Live Performance”, onde Tasha & Tracie e Emcee Lê com o DJ Delli Beatz gravaram uma session ao vivo inspirada no toque do dancehall. A live virou o disco, um punhado inspirados de curtas músicas. “Randandan” é o auge do projeto. Que pancada!

Lovebombing é um termo gringo para definir quando alguém oferece um excesso de amor ao parceiro no ínicio de um relacionamento de forma a apressar as coisas ou gerar uma pressão no outro. Em geral, é uma marca tóxica que desemboca em muita frustração quando a outra parte do relacionamento se afasta ou demonstra novos interesses. Bartira Val Marques, a B.art, rapper de Pelotas dedica no single “Lovebombing” duas músicas para o assunto: uma para o começo da história, com a personagem apaixonada (“Nêgo”) e outra para o desandar da carruagem, com a personagem sumindo do relacionamento (“Correnteza”). 

Na finaleira de 2024, o rapper fluminense Dadá Joãozinho escreveu uma love song charmosa e sexy com a turma do Raça, de SP. Poderia ser um filme, como Dadá diz, mas virou canção. Curioso ver ele com o acompanhamento de uma banda de rock. Tem um disco aí? Seria massa demais. 

Em uma homenagem ao Grammy Latino, João Gomes se uniu com Gil para cantar um clássico do baiano, a energética “Palco”. A dupla decidiu reduzir a velocidade da música, deixando tudo na paz, dando um espaço para João cantar numa doçura muito sua – um lado seu que às vezes escapa dos ouvintes mais desatentos. Ficou bonito.

11 – Vitor Milagres – “Um Barato” (6)
12 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (7)
13 – Negro Leo – “Me Ensina a Te Castigar” (8)
14 – Tássia Reis – “Sol Maior” (9)
15 – Maria Beraldo – “Colinho” (10)
16 – Thalin, VCR Slim e Cravinhos… – “Todo Tempo do Mundo” (11) 
17 – Supervão – “Androids” (12)
18 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (13) 
19 – Paira – “O Fio” (14)
20 – Dora Morelenbaum – “Venha Comigo” (15) 
21 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (16) 
22 – Hoovaranas – “Fuga” (17) 
23 –  Luiza Brina – “Oração 18 (Pra Viver Junto)” (18) 
24 – Exclusive Os Cabides – “AAAAAAAAA” (19) 
25 – Sofia Freire – “Autofagia” (20)
26 – Curumin – “Só para no Paraibuna” com Nellê (21)
27 – Jean Tassy e Don L – “Dias Melhores” (com Iuri Rio Branco) (22)
28 – Crizin da Z.O. – “Acelerado” (23)
29 – Papisa – “Melhor Assim” (24)
30 – Caxtrinho – “Cria de Bel” (25)
31 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (26)
32 – Tuyo – “Devagar” (27)
33 – Rodrigo Campos – “Amar à Distância” (28)
34 – Varanda – “Vida Pacata” (29)
35 – Boogarins – “Corpo Asa” (30)
36 – batata boy – “Novas Rotinas” (com Vitor Milagres) (31)
37 – Mu540 – “DZ7” (com Garimpos) (32)
38 – Slipmami – “Eles são Fracos” (33)
39 – Malu Maria – “A Língua Trava” (34)
40 – Giovani Cidreira – “Feira do Rolo” (com VANDAL) (35)
41 – Mundo Video – “Perto da Praia” (36)
42 – Nina Maia – “INTEIRA” (37)
43 – Conde Favela Sexteto – “Mamão” (38)
44 – Karina Buhr – “Poeira da Luz” (39)
45 – Adorável Clichê – “amarga” (40)
46 – Tontom – “Tontom Perigosa” (41)
47 – Dead Fish – “11 de setembro” (42)
48 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (43)
49 – Bruna Mendez – “Temporal” (44)
50 – Papangu – “Rito de Coroação” (47)

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** Na vinheta deste Top 50 especial, a banda paranaense Terraplana, em foto de Lívia Rodrigues (@solmostarda).
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.