Top 50 da CENA – O barato do Vitor Milagres. Dora sozinha em segundo. E a turma da Bebé chega chegando no pódio

Que semaninha especial de lançamentos da nova geração. Saca só: Vitor Milagres, Dora Morelenbaum, Bebé, Rei Lacoste, Giovani Cidreira, Tangolo Mangos, Ale Sater e um tal de Milton Nascimento Resolvemos dar uma chance pra moçadinha gente boa que pôs o pé na profissão de tocar um instrumento e de cantar.

Vitor Milagres, um dos Rosabege, conta que gostaria que cada faixa do seu álbum solo “Vontade da Beleza” tivesse uma paisagem sonora diferente. E dentro de cada paisagem um universo amplo sonoridades. “É um álbum maximalista, com 60/90 tracks por música”, ele explica, tendo montado também uma banda específica para cada canção. Para se ter ideia, só pelas baterias e percussão passeiam: Thiago Fernandes, Pedro Fonte, Sergio Machado, Rodrigo Maré e ÀIYÉ. O desejo virou realidade. É nessa diversidade e multiplicação de informações que Vitor encontra algo bem seu. Soa clássico e soa fresco. É impossível não ficar com vontade de escutar “Vontade da Beleza” inteiro depois dos primeiros segundos desta “Um Barato”, primeira faixa que traduz a ideia do disco em verso: “Quero viver uma vida cheia de paisagens”. Nota 10.

“Caco” é a primeira pista que Dora Morelenbaum dá do seu primeiro álbum solo. A música é super Tom Jobim – nos acordes dissonantes, no arranjo cheio de assobio e na letra que fala de vidro, pé e coração. Para os saudosos do Bala Desejo, “Caco” é parceria dela com Zé Ibarra, que também faz o violão e participa do coro que ainda tem Lucas Nunes e Julia Mestre, fechando o núcleo Bala. A produção é de Ana Frango Elétrico, que deixa sua impressão caótica e superpop marcante no trabalho de Dora. 

Formando um verdadeiro megazord de CENA, a paulistana Bebé e os baianos Rei Lacoste, Giovani Cidreira e o Tangolo Mangos se reúnem nesta track feita durante um encontro da turma no Festival Oferendas, durante a festa de Yemanjá, em Salvador – encontro que virou um pequeno doc disponível no YouTube. A diversidade sonora da turma se reflete no som, inclassificável pelo números de elemento. O fato é que o mote “Sem Ódio na Pista” fica na cabeça. Esperamos pelo possível disco cheio desse time. Ia dar bom, viu? 

Ampliando as possibilidades do seu espaço no Terno Rei e mantendo sua investigação sobre o tempo e suas dores, Ale Sater apresenta em “Ontem” o prenúncio de seu primeiro álbum solo ainda sem nome, mas previsto para setembro. Bem interessante ver Ale ultrapassando as fronteiras mais acústicas do seu repertório solitário apresentado até aqui, embora ele diga que esse é o som mais maximalista que teremos no álbum. O que vem pela frente?  

Se você ficou com o coração quentinho vendo o Tiny Desk do Milton Nascimento com a Esperanza Spalding, gravado na casa do artista mineiro, saiba que já dá para curtir a versão de estúdio do clássico “Saudade dos Aviões da Panair (Conversando no Bar)”, que estará presente em “Milton + Esperanza”, que saiu nesta sexta-feira. Coisa de tirar o fôlego de tão bonita. 

Desde o poderoso “Cavala”, lançado no muito muito distante 2018, esperávamos o próximo passo de Maria Beraldo. Ela não saiu de cena, lançou single, colaborou com outros artistas, mas faltava o segundo rumo. Agora vem aí “Colinho”. A promessa do álbum é ser mais pop e experimental que seu antecessor e a proposta não é nada absurda. Faz todo sentido quando damos de cara com este primeiro single “I Can’t Stand My Father Anymore” e sua tortuosidade meio Talking Heads. Ancorada pelo baixo de Marcelo Cabral e a bateria de Sérgio Machado, o piano e a guitarra de Maria não buscam os acordes precisos, mas os sons que fazem ou deixam de fazer sentido. Na letra, uma provocação com quem atribui aos problemas paternos o fato de ela ser lésbica – uma chavão preconceituoso que ela já teve de aturar por muito tempo. E, para evitar malentendido poético, já que Maria não detesta seu pai na vida real, ela mandou a música para ele com as devidas explicações. Além de superentender, o pai respondeu Maria em versos de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor”. Fofo, não? 

Dos dias da pandemia ainda nascem frutos de quem buscava alguma luz naquela tristeza infinita. No período, o Bernardo Bauer, músico de carreira solo e parte do Moons, deixou seu sítio à disposição dos amigos. Jennifer Souza colou por lá, as artistas visuais Julia Baumfeld e Laura Lao também e dessas visitas nasceu o coletivo Sítio Rosa. Sítio vem do sítio de Bauer, lógico. Rosa vem de sua filhinha, a pequena Rosa que chegou junto com a Lhasa, cachorrinha que dá nome à primeira canção deles. Só essas palavras já explicam o universo proposto pelo Sítio Rosa: família em suas mais diversas formas, amizade, acolhimento e muito carinho. Desculpa a repetição, mas fofo, não?

 O terceiro álbum solo de Apeles, “Estasis”, está no mundo. Mas por não por ter sido meramente lançado, o conceito do álbum é global em essência. O paulistano “músico-de-várias-bandas-legais” Eduardo Praça juntou colegas de lugares como Grécia, do Reino Unido, Coréia do Sul, Itália, Argentina (e até do Brasil, veja só) para compor o mix de convidados que dialogam com ele em diferentes gêneros e línguas, dando um dinâmica bem diversa ao conjunto da obra. Discão na forma e no conceito.

O perfil de twitter @rapfalando nasceu como uma conta fake que comentava e brincava com o rap nacional. Dali, virou podcast e um canal de YouTube de sucesso ao comentar e até inventar as tendências do gênero. Faltava só avançar para a música propriamente dita, uma promessa antiga que virou realidade com muita paciência e articulação durante a produção da mixtape “Músicas para Sair na Mão Vol. 1”. O disquinho que muitos acreditavam que não veria a luz do dia saiu finalmente com projeto gráfico ambicioso e uma série de vídeos que transformaram os rappers em lutadores de videogame. Era meme, agora é música e reuniu os maiores pesos-pesados da cena: Rashid, Don L, Tasha & Tracie, Rincon Sapiência, Sant, Coruja BC1, Rodrigo Ogi, entre outros. Deu certo, viu? Esperamos agora pelo volume 2. Que personagens eles vão conseguir destravar dessa vez? 

E o Siba, que lançou o álbum mais recente lá em 2019, o corajoso “Coruja Muda”, segue inventando e produzindo através de singles. O mais recente é “Vaivem”, um repente modernoso que também nomeia uma temporada que o artista fará na Casa de Francisca tocando seu material de várias épocas relido em versões que dialogam com sua sonoridade atual, uma “síntese eletropercussiva”.

11 – Jota Ghetto e Jamés Ventura – “Downtown” (com KL Jay) (6)
12 – Febem – “Abaixo do Radar” (com CESRV e Smile) (7)
13 – DJ Anderson do Paraíso – “Madrugada Fria” (8) 
14 – Alaíde Costa – “Foi Só Porque Você Não Quis” (9) 
15 – PLUMA – “Se Você Quiser” (10) 
16 – Vanguart e Fernanda Takai – “Demorou Para Ser” (11)
17 – Hoovaranas – “Fuga” (13) 
18 – Liniker – “Tudo” (15) 
19 – Exclusive os Cabides – “Coisas Estranhas” (16)
20 – Bruxa Cósmica – “BOTE” (17) 
21 – Momo. – “Jão” (20)
22 – PECI – “Doce do Azedo” (21)
23 – Chico Bernardes – “Até Que Enfim” (22)
24 – TRAGO – “Porvir” (23)
25 – FBC – “Não Deixa Secar” (24)
26 – Samuel Rosa – “Não Tenha Dó” (25)
27 – Mundo Video – “SOZINHOS: O Desafio (com Gab Ferreira)” (26)
28 – Tontom – “Tontom Perigosa” (27)
29 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (28)
30 – Quartabê – “Eu Cheguei Lá” (29)
31 – Jup do Bairro – “Mulher do Fim do Mundo” (30)
32 – Paira – “Música Lenta” (31)
33 – Papisa – “Vai Passar” (32)
34 – Carlos do Complexo – “Sextos Sentidos” com Menor do Engenho e Marlon do Engenho (33)
35 – Antônio Neves – “Dinamite” (34)
36 – Hermeto Pascoal – “Passeando pelo Jardim” (35)
37 – Max B.O – “Impossível Não Achar Possível” (37)
38 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (38)
39 – Julia Branco – “Baby Blue” (39)
40 – O Grilo – “Manual Prático do Tédio” (40)
41 – Varanda – “Vá e Não Volte” (41)
42 – Taxidermia – “Clarão Azul” (42)
43 – Mirela Hazin – “Delírio” (43)
44 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (44)
45 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (45)
46 – Tuyo – “Devagar” (46)
47 – Irmãs de Pau – “Megatron” (47)
48 – Haroldo Bontempo – “Risada (com João Donato)” (48)
49 – Deize Tigrona – “25 de Abril (com Boogarins)” (49)
50 – Amaro Freitas – “Y’Y” (50)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o cantor carioca Vitor Milagres.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.