Com mais guitarra e menos synth, Billie Corgan entrega em novo disco um pouco (mas não muito) “daquele” Smashing Pumpkins

por Alexandre Gliv Zampieri

Um dos grandes assuntos do indie nos últimos dias, que envolve diretamente os fãs brasileiros, a banda americana Smashing Pumpkins já esgotou ingressos para um de seus recém-anunciados dois shows no Brasil em novembro (o de São Paulo) e também recentemente virou forte notícia ao iniciar uma turnê americana com o Green Day, que vai até o final de setembro. No meio dessa correria toda, Billy Corgan achou de sem maiores alardes lançar um álbum novo.

Vamos chegar já já ao disco lançado nesta sexta-feira, o 13º da carreira do SP.

Mas, sobre essa “The Saviours Tour”, com o grupo de outro Billy, o Armstrong, a turnê conjunta materializa a junção antes improvável de duas das bandas mais queridas e importantes que estouraram no maravilhoso mundo do rock alternativo dos anos 90, universo que ainda insiste em existir, seja pelas bandas originais da época ainda na ativa ou pelas centenas  de bandas novas ou seminovas inspiradas no período e que bebem dessa fonte até hoje.

Além da turnê conjunta bem recente, Smashing Pumpkins e Green Day têm mais coisas em comum, e uma delas é que, em ambos os casos, nunca foi nada fácil ser fã das duas bandas e acompanhar/absorver cada lançamento, sempre com repercussões fervorosas que variam entre puro amor e raivosas pedradas, não raramente direcionadas pelos mesmos “fãs” em músicas de um mesmo disco.

Dito isso e comparações à parte, redirecionamos então o foco para 
“Aghori Mhori Mei”, o décimo-terceiro álbum que o Smashing Pumpkins, que chega sem singles anteriores para, na intenção dos próprios, ser digerido inicialmente de uma só vez, faixa atrás de faixa, de cabo a rabo.

De primeira percebemos que, no geral, o Smashing Pumpkins parece, de certa forma, ter ouvido o maior apelo dos fãs e deixado um pouco de lado os sintetizadores tão presentes nos últimos lançamentos. Em resumo: ter voltado a suas raízes mais orgânicas.

Mas, calma!!! Embora o disco tenha, sim, momentos que até lembrem 
remotamente os primeiros e idolatrados discos, os andamentos e melodias deste novo ainda soam, em grande parte, o que a banda é hoje, só que definitivamente com muito mais guitarras.

E quando, entre as dez faixas, justamente as duas maiores, com seus mais de 6 minutos cada, são as escolhidas para abrir o disco, lembramos que a preocupação em agradar aqui nunca foi nenhuma prioridade.

Desde “Adore”, de 1998, o quarto, como resposta ao sucesso de “Mellon Collie”, o de 1995, a inquietude e o até patológico receio em “não ceder” (punk?) e ir exatamente na direção oposta do que esperam e gostariam, ainda é o objetivo desses dedicados servos da contramão.

Voltando às duas faixas de abertura, não que “Edin” e “Pentagrams” sejam chatas ou experimentais, pelo contrário. Elas são bem boas surpresas, figurando entre as melhores e que apontam a direção de “Aghori Mhori Mei”, mas em uma realidade atual onde o consumo imediatista musical tem uma urgente pressa em ser conquistado já nos primeiros segundos, alguns fãs podem acabar nem dando chance para o restante do disco.

Claro que o resultado é sempre relativo e consequência direta da sua alta ou falta de expectativa. Para quem cansou dos Pumpkins em versão synthpop e tem saudade das guitarras, pode até se surpreender e acabar se divertindo bem com este novo lançamento.

Mas, para quem espera o retorno de sons mais barulhentos e pesados, vai encontrar um momento aqui e ali em faixas como a arrepiante “War Dreams of Ifselt” (principalmente) e “Sicarus”. Claro, isso também depende da sua referência do quão pesado ou gritado você gostaria que fossem essas músicas.

Resquícios sonoros ainda mais claros e perceptíveis surgem em “Sighommi”, na deliciosa “Goeth the Fall” (quase a 1979 / Silvery Sometimes do disco) e “999” (com solos e riffs que remetem de leve, com ênfase do DE LEVE, a fase “Gish” & “Siamese Dream”), enquanto “Pentecost”, “Who Goes There” e a última faixa “Murnau” são reservadas aos momentos mais introspectivos e que dialogam mais com os discos recentes.

Talvez “Aghori Mhori Mei” seja o mais perto que os Pumpkins consigam chegar em relação a atender expectativas. Acho que muitos apontarão que é o melhor do grupo desde _____ (preencher com algum de sua preferência). E apesar de um grade defensor do inspirado “Cyr” (de 2020), acredito que possivelmente eles estejam até certos mesmo. Além da  inspiração acima da média, o resgate dessa pegada mais old school equilibrada com a sonoridade presente do grupo funcionou bem.

A verdade é que, sendo menos pretensioso e mais direto ao ponto, essas dez novas faixas soam bem mais inspiradas e muito mais interessantes e coesas que as 33 (!!!) do seu antecessor, “Atum”, a ópera lançada em duas partes, em 2022 e 2023. E, como todos da discografia, “Aghori Mhori Mei” é mais um daqueles que, de um jeito ou de outro, acaba crescendo bem nas audições seguintes.

Lembrando que os Smashing Pumpkins vem em breve até nós e se apresentam em disputados shows em Brasília e São Paulo. Quantas dessas novas músicas farão parte do setlist? Aguardemos.