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* Eu já fui a muito show bizarro e em diversas condições na minha vida. Desde os Pixies tocando numa ilha de um lago e o público ficando em terra firme, no “continente”, com água entre o palco e a plateia, até o White Stripes se apresentando nos fundos de um bar em Foz do Iguaçu, do lado argentino, com o palco armado em declive sob uma lona improvisada e a galera se virando para ver o concerto numa terra pastosa (tinha chovido durante o dia) e um monte de árvore na frente.
Mas como o show deste domingo…
* Virada Cultural, avenida São João, palco São João, 7h da manhã em ponto. Com um público formado 80% por zumbis que atravessaram a noite acordados e “no agito” (eu era um deles) e 20% de gente de cara inchada por ter acabado de levantar da cama direto para ver o show, a banda indie experimental americana White Denim fez um show barulhento, sem concessões, incrível.
O palco da av. São João visto do alto. Na hora da foto, no meio da madrugada, os caras do Morphine se apresentavam. Atrás de mim, numa festa, tocava Clara Nunes duas vezes quase seguidas. Às 7 da manhã, o White Denim tocaria. Às 9h30, viraria tudo (mais) bagunça com o show do grupo de hardcore californiano Suicidal Tendencies e os fãs pulando grades e invadindo o palco
* O retrato da cena era mais ou menos assim:
– Em cima do palco, uma banda de moleques de Austin, Texas (isso já diz muito), tocando uma atrás da outra músicas que vão de um indie normal a um punk rude, passando por um “rock matemático”, quebrado, às vezes cantado, às vezes instrumental, que resvala num jazz feito de guitarras por quem não entendeu nada a proposta do jazz mas e daí?
Eu não presenciei nenhum dos outros mil shows da Virada, tirando um do Biafra (!!!), mas duvido que algum outro foi tão bom ou pelo menos singular como o do White Denim no meio da avenida São João.
– Na plateia, os zumbis. Eu, um monte de punks, alguns heavy-metaleiros, uns indies aqui e ali, algumas garotas incrivelmente bonitas e bem vestidas para a ocasião e para o horário, um ou outro ser que claramente não sabia onde estava nem que dia era aquele, alguns garis estacionando o carrinho de lixo na minha frente e recolhendo o “material”, três camisas do Corinthians, um cabelo roxo, um verde e um laranja, um rapaz sem um tampo na testa, que num primeiro momento eu achei que fosse uma tatoo vermelha esquisita, mas vendo melhor e notando o sangue que escorria tive a certeza de que era uma ferida perfeitamente redonda bizarra, e logo atrás de mim dois moleques se espancando forte como se fossem lutadores de MMA das ruas. Comecei a notar o quebra-pau assim que um deles caiu desfalecido na guia e o outro não parou de socar a boca do infeliz, vindo logo um Galvão Bueno imaginário à cabeça narrando “Agora com a esquerda, bate, bate, vai acabar, acaboooou”. Mas o “vencedor” não queria acabar.
E, lembrando, em meio a tuuuuudo isso, 7 da manhã de um domingo atípico para a avenida São João, o White Denim descendo a lenha no palco. Assim (o primeiro vídeo é bem “descritivo”, acompanhe):
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