
Duas estrelas e meia para o King Gizzard?

É bem possível que você conheça os australianos do King Gizzard & the Lizard Wizard como “aquela banda que lança um monte de discos”. De fato, o grupo existe desde 2010 e já está em seu 27º lançamento. Mas ela é muito mais que isso.
Nenhuma banda sobreviveria a mais de 20 álbuns se pelo menos alguns deles não fossem bons, e isso o KGLW (abreviado aqui para facilitar a vida de todo mundo) tem de sobra.
O grupo também não iria muito longe se fizessem o mesmo tipo de música toda vez, e o KGLW passa bem longe da mesmice – às vezes, até demais. Do psicodélico ao indie, do acústico à eletrônica, do metal ao… metal progressivo, o KGLW faz questão de constantemente explorar gêneros diferentes, com resultados igualmente variados.
Pois a bola da vez, em “Phantom Island”, o tal 27º álbum, marca a primeira vez que a banda usa arranjos orquestrais. É uma direção ousada, mas não completamente imprevisível, pois várias outras bandas de rock já trabalharam com orquestras, nem sempre com sucesso. O problema é que, por mais bem-intencionada que seja o desejo de fazer um som diferente, o fato é que este trabalho novo não parece tão inspirado.
A essa altura do campeonato, o grupo não pode mais se contentar em fazer um disco que é “apenas” mais uma coleção de músicas novas do KGLW, até porque o último, “Flight b741” (2024), por mais divertido que fosse, corria o risco de ser justamente isso.
Se em 2023 lançaram “The Silver Cord” (2023), feito 100% com sintetizadores, e ainda “PetroDragonic Apocalypse”, feito 100% com as guitarras mais pesadas e deliciosas que você ouvirá nesta década, “Flight b741” trazia um retorno a um som mais blues rock, menos complexo, que eles já haviam explorado com muito mais, digamos, sucesso (“Fishing for Fishies”, 2019).
Infelizmente, “Phantom Island” foi gravado durante as mesmas sessões que o último disco, e pegaram as músicas menos empolgantes da leva para inserir arranjos orquestrais.

É bom ressaltar que “Phantom Island” é uma audição agradável, só não muito estimulante. A faixa-título que abre o disco, assim como “Deadstick”, logo em seguida, indicam possibilidades interessantes para o som – ambas devem ficar ótimas em seus shows, se encaixando bem com o restante de seu repertório.
Mas, depois disso, parece que as oito músicas seguintes vêm, vão, e você não sente nada demais. É um som bonito, mas que carece de conteúdo ou uma verdadeira exploração sonora que use todo o potencial de arranjos orquestrais.
É ótimo ouvir a troca de vocalistas constante que acontece no decorrer do álbum, especialmente com a voz única do tecladista Ambrose Kenny-Smith. É legal também ver a banda não depender de sintetizadores ou guitarras distorcidas para criar canções, mas não são as melhores canções que já fizeram.
Tomaram a decisão ousada de usar um som orquestral, mas as músicas em si não são nada ousadas. Não fosse a instrumentação mais elegante de “Phantom Island”, soariam como sobras de “Flight b741”.
Até hoje, o KGLW nunca fez um disco “só por fazer”, e esse lançamento não foge à regra, por mais que não seja de seus melhores. Mas tudo bem, porque no meio dos outros 26 discos existe muita coisa boa, e nos próximos 26 (pelo menos) também haverá.
E as duas ou três músicas, no máximo, de “Phantom Island” que sobreviverem em seus setlists com o passar dos anos só serão melhoradas ao vivo.
Aliás, o KGLW é uma das melhores bandas ao vivo na atualidade, e reclamar de um disco abaixo da média deles é quase como reclamar de boca cheia.