Top Ozzy Gringo – Tyler, The Creator chega chegando. Jehnny Beth não é boa para as pessoas. E outra necessária do Jamie XX. E outras pérolas da semana

Semana triste na música. Um pai de todos nós se foi. Perdemos Ozzy. Por isso, abrimos uma exceção e resolvemos falar dele um pouquinho aqui na lista. E dar o nome do nosso Top 10 a ele. Mas também não ignoramos as novidades, tipo o maluco do Tyler, The Creator que soltou do nada um álbum de inédita em uma segunda-feira e calhou de ser uma das melhores coisas que ele já fez na vida.

Tyler, The Creator sem aviso chegou com um disco de inéditas em uma segunda-feira. “Don’t Tap the Glass” respeita esse jeito solto, é de longe seu álbum mais tranquilinho em muito tempo. Uma despretensão focada em fazer música para balançarmos – e balançarmos como bem entendermos. O próprio Tyler escreveu sobre isso: “FEITO PARA MEXER O CORPO/VOLUME MÁXIMO”. Fora os ganchos e refrões certeiros. “Ring Ring Ring”, por exemplo, é Michael Jackson purinho, meio “Off the Wall” com toques de “P.Y.T”. Viciante no primeiro play.  

Para criar “No Good for People”, Jehnny Beth se inspirou em uma cena da primeira temporada da série “True Detective” onde o personagem de Matthew McConaughey confessa não acreditar ser muito bom de convivência: “Às vezes acho que não sirvo para as pessoas, eu as desgasto”. A fala do personagem virou verso para Jehnny ao se identificar com a sensação. Ainda no mundo do audiovisual, o vídeo da música foi inspirado na questão do duplo, uma obsessão de David Lynch. Pelo visto a auto-análise será um dos motores de “You Heartbreaker, You”, seu segundo álbum solo, previsto para agosto. Jehnny Beth é massa demais.

Dá para dizer que “Dream Night”, novo single de Jamie XX, é uma cena pós-créditos do excelente “In Waves”, álbum lançado ano passado. Escrita durante a turnê do disco, Jamie afirma que a inspiração para a composição são justamente as grandes noites tocando para multidões ou simplesmente curtindo a vida dentro da turnê. Se você estiver nos Estados Unidos, ainda dá para ver Jamie ao vivo neste verão.

Quando Mac DeMarco anunciou as datas da turnê de seu próximo álbum, “Guitar”, dava para notar um abril sem shows. Agora já sabemos o motivo, era a apresentação no Brasil que faltava ser anunciada – 4 de abril de 2026 na Audio, graças aos nossos queridos da Balaclava. Coincidência ou não, no mesmo dia ele soltou mais um single do disquinho novo, “Holly”, dando mais pistas de como será a produção superbásica, centrada na guitarra (obviamente) e na qual ele fez tudo – das músicas até a produção e a mixagem. 

Seguimos na missão de te convencer a dar uma chance ao Folk Bitch Trio, grupo australiano formado por Grace Sinclair, Jeanie Pilkington e Heide Peverelle que capricha na delicadeza em músicas lotadas de belas harmonias vocais e violões pouco interessados nas afinações padrões. Do jeitinho que fãs de Joni Mitchell ou Cat Power ou Laura Marling vão curtir. 

Antes de entrarem no Fleetwood Mac, Stevie Nicks & Lindsey Buckingham eram um casal na vida pessoal e profissional, digamos, e tinham um disco em conjunto, “Buckingham Nicks”, lançado em 1973. O álbum se tornou uma raridade, sem relançamentos ou presença nas plataformas de streaming. É um jeito de ver como a dupla foi fundamental na essência do melhor do Fleetwood Mac. “Crying in the Night”, escrita por Stevie Nick, é ela todinha na sua habilidade de fazer belezas. 

“Stuck in a Dream” tem um riff de guitarra daqueles capazes de nos tirar da cama. Fora ser superanimada, a faixa foi lançada com uma piadinha interna da banda: “Nossa próxima uma das mais pedidas pelos fãs entre as quais nunca tocamos ao vivo”. Porém, Mac McCaughan, eterno vocalista e guitarrista do grupo, promete tocar a música. Quero ver ter energia para mandar o solo de guitarra dessa toda noite. “Stuck in a Dream” estará em “Songs in the Key of Yikes”, previsto para o próximo mês. 

De repente cai a ficha: você está sozinha no seu relacionamento. É sobre esse desespero que a cantora americana Madi Diaz canta em “Feel Something”, primeiro single do seu próximo álbum. “Fatal Optimist” será o encerramento de uma trilogia de álbuns premiados (“History of a Feeling” e “Weird Faith”) explorando a dor dessa separação. Ironia ou não, o trabalho inicialmente planejado para ser gravado com os amigos ganhou cara definitiva quando Madi voltou ao estúdio e fez o registro das canções de forma solitária. Ali ela encontrou o tom desejado. 

Vem aí um novo filme “Tron”, vai se chamar “Tron: Ares”. Na trilha sonora, Trent Reznor e Atticus Ross, autores de tantas e tantas trilhas, resolveram assinar o trabalho com o nome de sua banda, Nine Inch Nails. É a primeira inédita deles em cinco anos e dá para entender logo por que eles resolveram assinar como banda dessa vez. É um musicão à feição do grupo, outra pegada do trampo com as trilhas. Louco como esses caras parecem ter compartimentos cerebrais totalmente diferentes na hora de trabalhar e acionar diferentes métodos ou estilos.  

Ozzy morreu. Dos ídolos do rock, talvez o mais resistente de todos os malucos, em uma lista onde só Keith Richards ainda parece capaz de tudo. O cantor partiu poucos dias após uma bela despedida cercado por amigos em sua terra natal, Birmingham. Do muito que pode ser dito sobre sua obra vale uma dica de amigo básica: ouvir a discografia do Black Sabbath na ordem. Eles não “inventaram” o heavy metal em uma tacada só. É das coisas mais legais da história da música ir vendo como faixa a faixa eles vão encontrando algo novo, vão tateando – “N.I.B” e suas sombras, as pancadas com “Iron Man” e “Paranoid” até chegarem em um território completamente inédito sonoramente, especialmente a partir de “Master of Reality”, terceiro álbum da banda. Ozzy sobreviveria ainda a uma tumultuada carreira solo, teria um festival imenso com seu nome e se apresentaria às novas gerações como um dos pioneiros de reality show, um dos lugares onde expôs parte de loucura mítica, rodeada de causos, mas também deixou exposta as fragilidades, sua vida ordinária. O “Príncipe das Trevas” era no fundo um simpático fã de Beatles que calhou de ser cantor de rock e tinha poucas pretensões – “What else can a poor boy do?”. Como canta em uma música composta com Lemmy, do Motorhead, ele não queria mudar o mundo, tampouco o inverso. Teve sucesso na segunda parte, foi fiel a si mesmo até o fim, mas falhou na primeira missão: o mundo, principalmente o mundo da música, ficou bem diferente depois dele. 


***
* Na vinheta do Top 10, o brabo Tyler, The Creator.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix