
Nesta semana, muitas emoções envolvidas. Zeca Veloso finalmente estreia solo com seu primeiro álbum enquanto Alt Niss e Drik Barbosa retomam suas carreiras após um tempinho de diferentes adversidades. Em outro canto da música brasileira, Antropoceno dá demonstrações de sua mistura de shoegaze com samba ao fazer cover de uma canção dela mesmo, porém escrita por outra persona artística sua. Sim, tudo fará sentido. Leia com atenção!

Quando Caetano Veloso quis reunir os filhos para uma turnê, Zeca foi o mais receoso em aceitar. Cruzar o mundo com o pai e os irmãos deve ter acendido algo nele, fora sua música inédita na tour, “Todo Homem”, ter virado um fenômeno. Com calma, coisa de 8 anos, ele foi tecendo suas “Boas Novas”. O material de sua estreia lembra muito o do pai – no cadenciar do canto, na escolha das palavras e até dos arranjos, em especial da fase oitentista de Caê. Repare no brilho de “Salvador”, arranjado por Luciano Oliveira, e como ela dialoga com “Queixa” ou “Outras Palavras”, dica dada pelo próprio Zeca. Em entrevistas, já entregou que seu falsete, que percorre o álbum todo, também vem de Caetano em “Zii e Zie”, e também de influências estrangeiras, tipo Radiohead, embora deteste ser comparado a Bon Iver. Faz sentido. O minimalismo de Zeca Veloso parece ter mesmo outras origens.
“5 anos e 8 meses depois…”, escreve a rapper e cantora paulistana Alt Niss. Foi um tempinho de relativo silêncio entre feats e dividir o palco com Don L e Bebé em muitas turnês mundo afora, mas ela retoma sua carreira com o EP “Al-Kimiya”. Com produções de Nill, o Adotado, Victor Henry e Déds, Alt Niss traz sua marca, de amar remeter seu som aos anos 90 e a uma nostalgia gostosa do romântico R&B da época com um tiquinho de fritação house. Quem chora ouvindo música vai entender esse EP de três músicas todinho. Saca?
O que acontece quando dois grupos tristinhos se reúnem? Eles ficam melancólicos à beça, lógico. Assim é o encontro entre Jovem Dionísio e Terno Rei, em especial, na junção das canetas de seus vocalistas: Bernardo Pasquali e Ale Sater. Conduzidos pelo produtor Gustavo Schirmer, que conhece ambas as bandas de trás para frente, o resultado é como se existisse uma Jovem Terno ou Rei Dionísio ou qualquer outro mix entre as duas bandas. Juntas elas são uma só. Cabe disco aí, hein?
No imbróglio entre Emicida e Fióti com os negócios da Lab Fantasma, Drik Barbosa se viu na obrigação de ter que sair da empresa para conseguir tocar sua carreira com a serenidade necessária. Pelo visto, a escolha foi certa. Depois de três anos sem inéditas, ela chega soando melhor do que nunca em um single duplo: “Sob Medida”, rapzão com Stefanie e Cristal, e “Gosto Bom”, um mix de afropop e R&B produzido por Nave.
Lua Viana se divide em duas personas artísticas: sonhos tomam conta e Antropoceno. A primeira é mais shoegaze, a segunda tem mais influência da música brasileira, o sambagaze. Outro tópico caro ao Atropoceno é a discussão sobre as mudanças climáticas, onde ela traz para o palco seu olhar ecossocialista e evoca os ensinamentos de mestres como Davi Kopenawa e Ailton Krenak. São personas tão diferentes entre si que uma é capaz de fazer cover da outra! E assim Antropoceno transformou em samba uma pedrada de sonhos tomam conta, “O Ar Nos Meus Pulmões”. Sambagaze, diga-se. Até porque a provocação de Lua para os roqueiros brasileiros é voltar a se atentar nos elementos de samba – menos bateria, mais percussão.
Os mineiros e seus projetos coletivos. A mesma turma que passa por Moons, Transmissor, Tarda, Pequeno Céu, Sítio Rosa tem uma nova banda: Felipe D´Angelo, Julia Baumfeld, Bernardo Bauer, Sara Não Tem Nome e Pedro Hamdam formam agora o Desastros. O novo projeto é porque todos esses artistas querem apresentar para nós uma nova perspectiva: nós, só uns bichos indefesos, habitantes da terra, tirando conclusões a partir do céu sobre esse mistério todo. As canções deles são sobre isso. Exemplo, “Desastres”, a faixa que abre o disco “Desastros”, é “um proto-samba torto com cavaquinho e lata de biscoito que insiste em nos dizer: já está tudo escrito nas estrelas”.
Clara Bicho é cada vez mais sucesso. E não é porque ela também é uma poploader, o que talvez as pessoas achem que influencia nossa opinião… Rapaz, o Chico Barney se revelou fã da Clara! Precisa de mais sinais? “Telejornal Animal” se mostra seu single mais ousado e produzido até aqui. Uma expansão sonora mostrando como as delimitações lo-fi de uma operação caseira são coisa do passado. O capricho também aparece no vídeo da canção, o primeiro de Clara que não é uma animação. Ao recriar o telejornal da letra, conhecemos a personagem Lua no papel de âncora. Sim, a Lua, estrela da capa de tantos trabalho de Clara, ganha vida de uma forma que compra quantas horas a pequena Clara passou em frente da televisão, mais especificamente, da TV Cultura.
Emicida deu a deixa do que será seu próximo disco em entrevista no programa global “Conversa com Bial”. “Emicida Racional VL2 – Mesmas Cores & Mesmos Valores” se apresenta como releitura de “Cores e Valores”, disco mais recente dos Racionais MC’s. Diferente do trabalho apresentado na semana passada, onde Emicida juntou seu som com o dos Racionais em forma de mashup, o novo disco parece ir mais fundo na reconstrução das músicas. Não é cover, não é mashup, são músicas inéditas a partir do escrito racional. “Us Memo Preto Zica”, apresentada ao vivo, transforma o refrão de “Preto Zica” em samba e os novos versos são trechos de diversas músicas dos Racionais remixadas por Emicida. Trampo de fã, como ele mesmo definiu. Nada disso está nos streamings, sai dia 28 de novembro, mas vale buscar a apresentação ao vivo da faixa. O zica voltou.
Quem escuta “Lilás”, álbum de 1987 de Djavan, vê fácil os caminhos próximos por onde andaram o compositor alagoano e o dono de “Thriller”. Anos depois, Djavan revela que foi convidado por Quincy Jones para colaborar em “Bad”. Ele não levou muita fé e demorou para enviar a música, nunca gravada por Michael. A melodia reaparece agora em “Improviso”, seu 26º álbum de estúdio, como “Pra Sempre”, uma track super Michael Jackson e com letra dedicada ao rei do Pop. Com seu jeitinho de “Human Nature”, ele teria gravado ela fácil… Fica na imaginação.
Já nos primeiros segundos, “Pequena Vertigem do Amor” exala anos 1970. É o baixo dos discos do Tim Maia, o violão dos discos do Jorge e as cordas sonhadas por Arthur. Com esse norte sonoro em mente, Sessa desenvolve temas como a paternidade e o cotidiano adulto. Uma busca por não perder o deslumbre com o mínimo, aprender com as crianças a ser mais criança. Nesse filme registrado em Super 8, “Carlos, Erasmo” toca ao fundo na vitrola e Sessa talvez tenha feito o seu disco que vai tocar por tardes e tardes na Tropicalia in Furs, a mesma lojinha de discos classe A onde ele trabalhou por um bom tempo na gringa e ouviu todas as suas inspirações bem brasileiras.
11 – Rachel Reis – “Coisa Rara” (7)
12 – Rodrigo Campos e Clima – “Ho Chi Minh” (8)
13 – Walfredo em Busca da Simbiose – “Realidades Paralelas” (9)
14 – Bella Guerra – “Licença” (com Mateus Aleluia) (10)
15 – João Parahyba – “Forró World” (11)
16 – Chico Chico – “Girl from the North Country” (12)
16 – Tori – “Trastejo” (13)
17 – Janine Mathias – “Deixa pra Lá” (14)
18 – YMA – “Rita” (com Sophia Chablau) (16)
19 – Carlos Dafé – “Jazz Está Morto” (17)
20 – Pelados – “Modric” (18)
21 – Lorena Moura – “Quis” (19)
22 – Jup do Bairro e Negro Leo – “A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ F*** COMIGO” (21)
23 – Vanguart – “O Mais Sincero” (22)
24 – Varanda – “Não Me” (23)
25 – Teago Oliveira – “Desencontros, Despedidas” (24)
26 – Tasha & Tracie – “Serena & Venus” (25)
27 – Sophia Chablau & Felipe Vaqueiro – “Cinema Total” (26)
28 – PUSHER174 – “Eu Sou do Contra” (27)
29 – Oruã – “Casual” (28)
30 – Douglas Germano – “Tudo É Samba” (29)
31 – Eliminadorzinho – “Você Me Deixa Coisado” (30)
32 – Valentim Frateschi – “Mau Contato” (com Sophia Chablau) (31)
33 – Chico César – “Breu” (32)
34 – Supervão – “Love e Vício Em Sunshine (Ao Vivo)” (33)
35 – Mateus Fazeno Rock – “O Braseiro e as Estrelas” (34)
36 – Joca – “BADU & 3000” (com Ebony) (35)
37 – Marabu – “Rubato” (36)
38 – Don L – “Iminência Parda” (37)
39 – Lupe de Lupe – “Vermelho (Seus Olhos Brilhanto Violentamente Sob os Meus)” (38)
40 – Zé Ibarra – “Segredo” (39)
41 – Mateus Aleluia – “No Amor Não Mando” (40)
42 – Stefanie – “Fugir Não Adianta” (com Mahmundi) (41)
43 – Vera Fischer Era Clubber – “Lololove U” (42)
44 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (43)
45 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (45)
46 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (46)
47 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (47)
48 – Gabriel Ventura – “Fogos” (48)
49 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (49)
50 – BK – “Só Quero Ver” (50)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o músico Zeca Veloso.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.