Top 50 da CENA – Tim Bernardes, o colecionador de tops. Rashid sabe tudo. Tulipa Ruiz traz remix para o pódio

Nesta semana, mais do que trazer algumas das músicas mais quentes lançadas na quentíssima cena brasileira, a gente quer te colocar para pensar: será que o Tim Bernardes fez mesmo uma música que cita Beatles e Zezé Di Camargo? Se não te fizer ler nossas impressões musicais, não sei mais o que fará… Vem com a gente. 

Emociona demais o novo vídeo do Tim Bernardes, que ao misturar imagens atuais com o arquivo da família deixa todo mundo para lá de sentimental com as coisas. Especialmente, seu olhar especial para o conselho da vó: “Vai, meu filho, encontra um jeito/ de ser aqui mesmo o que você sonhar”. Musicalmente, a gente chapou que o Tim faz sutis referências a duas canções que muita gente não colocaria juntas, mas que depois a gente percebeu que também são sobre conselhos de mãe: “Let It Be”, dos Beatles, e “No Dia em Que Eu Saí de Casa”, famosa na voz do Zezé Di Camargo e Luciano. Aqui, o conselho é de vó, que é mãe duas vezes, tudo certo. 

Agora papai e pronto para soltar um novo álbum, Rashid abre os trabalhos da nova fase dando uma rápida olhada para o passado, aquela visão que ajuda a não perder o rumo do futuro almejado – firmeza no objetivo, manter o foco e os princípios. Um dos melhores momentos é quando a produção do LR Beats muda a pegada da batida e Rashid acelera os versos: “Narro a vida igual Villani/ Trago um ato que inflame o Maracanã/ Minhas rimas são o meu retrato, fato/ Muito mais exato que o Instagram”. Coisa de quem sabe bem o que tá fazendo. Vem forte o novo álbum do homem.  

A estreia da Tulipa Ruiz em disco, o excelente “Efêmera”, fez dez anos no complicadíssimo, para dizer o mínimo, ano de 2020. Por razões óbvias, não foi hora de celebrar. Mas agora um álbum de remixes garante uma boa festa ao disco, enquanto o “álbum novo para valer” não vem. Cerca de 12 produtores e produtoras foram convidadas para oferecer um novo olhar para cada faixa, em um projeto que também gerou um álbum visual. Se você é das pessoas que têm preguicinha de disco de remixes, vale dar uma chance aqui, porque a turma trouxe para cada música diferentes visões que te fazem voltar ao disco original com novas percepções, como Mariá Portual, que desloca a bateria para o centro da gravação, realçando detalhes e criando repetições interessantes. Um disco de remix dos bons. E já bem ansiosos pelo disco de estúdio

“O poema é para mim terra firme/ como é, para o náufrago, a ilha”, esses são dois versos do poema “A Ilha”, de Elisa Lucinda, que ganham versão musicada por Izzy Gordon, que prepara seu quinto álbum, “O dia depois do fim do mundo”. Neste gesto de reverência à arte, mais um nome é homenageado: Robson Jorge, referência direta para o arranjo da música, na produção de Renato e Ronaldo Gama. 

É Top da CENA é Top Gringo? A gente ficou na dúvida por aqui. É que Winter é uma curitibana radicada em Los Angeles e está conseguindo uma superrepercussão lá fora com seu novo single, que tem a participação especial da artista norte-americana Sasami. Como a imprensa estrangeira não identifica ela como brasileira, como será que fica essa situação? Enquanto a gente não descobre, vamos curtindo o som e o recomendando por aqui mesmo. Está bonito demais. 

Quando se fala em polarização no Brasil, chega-se a mencionar que os tais dois lados seriam agressivos. Que se tenha registro, até aqui só um lado atacou de maneira violenta, já que essas análises esquecem que Môa do Katendê foi assassinado covardemente após uma discussão com um eleitor de Bolsonaro, na madrugada após o primeiro turno das eleições de 2018. Enquanto uns querem esquecer isso, muita gente faz questão de lembrar e também celebrar a obra deixada pelo mestre de capoeira, compositor e percussionista. Em 2017, Môa trabalhava em um álbum com composições suas que foi produzido na Mandril Audio pelo Rodrigo Ramos e só agora vai ser lançado, com a colaboração de diversos artistas que completaram o material que ficou pelo caminho – a lista é grande: BaianaSystem, BNegão, Chico César, Edgar, Emicida, Fabiana Cozza, GOG, Kimani, Jasse Mahi, Lazzo Matumbi, Letieres Leite, Luedji Luna, Márcia Short, Mateus Aleluia Filho e Rincon Sapiência. Criolo reforça essa canção de Môa que destacamos e foi escrita em homenagem à Embaixada Africana, afoxé considerado uma das primeiras entidades carnavalescas negras do Carnaval de Salvador, no final do século XIX. “Se não quiserem tocar no rádio, não precisa, a voz do povo é a voz da sabedoria”, diz o verso inaugural da música. Falou tudo, Môa. E mais: em outubro chega um documentário sobre ele: “Môa, Raiz Afro Mãe”, do diretor Gustavo McNair.

Considere esta historinha dos sonhos: você é uma banda paulista, grava um disco, faz todo o trabalho e manda para aquele produtor badalado dar um toque, uma ideia. Ele devolve com a pergunta: que tal regravar o disco inteiro em fita no Rio de Janeiro e sob minha batuta? Foi assim que Kassin fez quando recebeu o material enviado pelo trio João Viegas, Santiago Obejero Paz e Thiago Barros. A realização desse sonho é o maravilhoso “Certas Idades”; que tem tanta música bonita que pode ir se acostumando com ele aqui pelo Top 50. Vamos visitar todas que derem.  Ah, e os caras tão escalados para o Balaclava Fest junto com o Fleet Foxes. Tá?

Para celebrar um ano de seu falaaado álbum de estreia solo, “De Primeira”, Marina Sena resolveu revisitar quatro músicas do disco em grande estilo, com banda ao vivo e novos arranjos. A novidade acrescenta suíngue e uma nova pegada ao material, originalmente marcado pela habilidosa produção lotada de detalhes. Sem essa costura, as coisas ficam mais soltas, mas não se perdem. Além de boas sacadas, como ressaltar uma melancolia desta “Voltei pra Mim”. A música, que é sobre se libertar e se permitir, não escondia as dores desse processo na versão original, mas agora com Marina acompanhada apenas por um piano, parece que as cores mais escuras do quadro saltam da tela.  

Tá frio aí? Então, coloca o novo álbum do duo Nu Azeite, formado por Bernardo Campos e Fábio Santanna, para rodar. “Vem pro Mar”, segundo trabalho da dupla, esquenta qualquer parada com muito “trip hop, downtempo, boogie, disco, house com aquela pitada de Brasil para deixar tudo mais salgado”, como define Fábio. A vibração é muito Tim Maia, Sandra de Sá, Marcos Valle, pensa. E eles tocam no Rock In Rio no palco New Dance Order.

Lembra quando a gente pirou no álbum “Cura”, do pianista Jonathan Ferr? Pense que agora vamos ganhar uma versão modificada do refinado álbum. Ele explica: “Será meu terceiro álbum, ‘Liberdade’. Um disco de hiphop/jazz/neosoul criado a partir de samples do Cura”. Ferr vem trabalhando neste novo disco há um anos e se o que vier for no nível do primeiro single… Uma boa música para se proteger com os fones, como rima Zud. 

11 – Tori e Bruno Berle – “Descese” (6)
12 – Josyara – “MAMA” (7)
13 – Valciãn Calixto – “Adoção” (8)
14 – Maglore – “Para Gil e Donato” (9)
15 – José Miguel Wisnik – “O Jequitibá” (10)
16 – Black Pantera – “Isolamento Social” (11)
17 – Antônio Nóbrega – “Galope Beira-Mar para Bispo do Rosário” (12)
18 – Tom Zé – “Pompeia – Piche No Muro Nu” (13)
19 – João Donato – “Órbita” (14)
20 – Francisco, El Hombre – “Arranca A Cabeça Do Rei” (15)
21 – Rohma – “@rroboboy” (16)
22 – Joyce Moreno – “Tantas Vidas” (com Mônica Salmaso) (17)
23 – Filarmônica de Pasárgada – “Saudosa Ma Loka” (18)
24 – NoPorn – “Nome Sujo” (19)
25 – Luli Braga – “Depois das Onze” (20)
26 – Djavan – “Sevilhando” (21)
27 – Rico Dalasam – “Guia de um Amor Cego” (com Céu) (22)
28 – Vanguart – “O Que Eu Vou Levar Quando Eu For” (23)
29 – Nobat – “Beira do Mar” (com Luli) (18)
30 – Kamau – “Aparte” (Avulso #06) (25)
31 – Marissol Mwaba (Estreia) – “Parece Azul” (27)
32 – St. Aldo – “Curly Mind” (29)
33 – Tatá Aeroplano – “Na Beleza da Vida” (30)
34 – ÀVUÀ – “Famoso Amor” (31)
35 – Glue Trip – “Marcos Valle” (33)
36 – Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis – “Sé” (34)
37 – Bruno Berle – “Até Meu Violão” (35)
38 – Juçara Marçal – “Odumbiodé” (36)
39 – Mulamba – “Barriga de Peixe” (com Kaê Guajajara) (37)
40 – MC Tha – “São Jorge” (com Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Sueide Kintê) (38)
41 – Letieres Leite & Orquestra Rumpilezz – “Coisa n° 5 – Nanã” (com Caetano Veloso) (40)
42 – AIYÉ – “Exu” (41)
43 – Moons – “Best Kept Secret” (41) 
44 – Alaíde Costa – “Aurorear” (43)
45 – Criolo – “Ogum Ogum” (com Mayra Andrade) (44)
46 – N.I.N.A. – “Anna” (45)
47 – Sérgio Wong – “Filme” (46) 
48 – Saskia – “Quarta Obra” (47)
49 – Radio Diaspora – “Ori” (49)
50 – Luneta Mágica – “Além das Fronteiras” (50)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o músico Tim Bernardes.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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