Se a semana passada foi um tanto quanto fraca de lançamentos, esta surpreendeu a ponto da gente ter que deixar algumas coisas para escrever só na semana que vem. Do que entrou agora, duas palavras resumem tudo: entrega e coragem. Por algum motivo, todas as novas escolhas reúnem essa característica, ousadia artística, sinceridade na letra. Uma semana de quem não tem medo de levar suas ideias para a rua.
“Não Dá para Agarrar”, novo álbum do superativo Tatá Aeroplano – seu 16º trabalho, se a gente somar carreira solo e suas bandas, como o Jumbo Elektro e Cérebro Eletrônico -, vem com tudo na abertura alucicrazy de “Discrepância”. E a discrepância está posta em seguida com um dos sons mais delicados e bonitos de 2022. “Na Beleza da Vida” tem uma letra aberta para milhões de interpretações, ainda que no molde de uma canção simples. Você entende cada palavra que Tatá canta, mas cada mente vai entender uma coisa do que é cantando. Coisa de mente brilhante mesmo.
Coisas que acontecem andando por São Paulo. Trombamos quase sem querer um show do Irmão Victor, a persona musical do gaúcho Marco Benvegnú. E flagramos lá uma cena que a gente tava com saudade de ver – um show em que no público você encontra outros músicos supercuriosos em ver o trabalho de quem está no palco. Pelo que vimos, todo mundo curtiu e saibam: nós também. Vale muito escutar este single mais recente, mas também dar um check no álbum de 2018, “Cronópio” e sua bela capa.
O paulistano Guizado resolveu levar seu trompete a um novo lugar no álbum “Stáretz”. Diferente do disco anterior, “Multiverso em Colapso”, por exemplo, onde uma banda acompanhava o músico, agora ele está (quase) sozinho. Seus companheiros são “programações, mpcs, softwares, pedais e samples”. Alguns amigos como Maurício Takara, Junix 11 e Maurício Tagliari até dão um reforço ocasional, mas na maior parte do tempo temos Guizado experimentando com a música eletrônica. E tome batidas quebradas, timbres mutantes. Quando parece que não ter espaço para o trompete é lá que ele acha uma brecha. Guizado chamou o disco de desafio. Desafio completado, mestre.
Tão centrais na banda Carne Doce, talvez muitos pensem que Salma e Mac em dupla funcionam tal qual sua banda. Que nada. Ainda que por razões óbvias existam lá suas semelhanças na essência dos dois trabalhos, até por questões de repertório, são ideias bem separadas. E tudo indica que o próximo trabalho do casal, “Voo Livre”, vai afastar ainda mais as duas coisas, ao ficar ainda mais solar e pop – talvez a ponto de criar públicos distintos e tudo, especialmente quando a gente pensa no gosto do brasileiro pela pegada acústica. Daqui a gente vai apreciando tudo ao mesmo tempo e agora.
Adriano Cintra abre seu novo EP, “O Palhaço”, com uma pergunta: “Será que eu ainda sei fazer?”. Se você tiver falando de música, Adriano, pode apostar que sim. Cintra, que talvez você conheça do Cansei de Ser Sexy, do Cabaxa, do Madrid, do Thee Butchers’ Orchestra ou de seus trabalhos solos, capricha aqui em quatro forte canções em português, todas muito melodiosas, superbem produzidas, como só Adriano saber fazer. Talvez a maior diferença para outros trabalhos sejam as letras muito abertas a suas emoções mais pessoais – não que ele não tenha escrito sobre dor antes, mas não desta maneira, com certeza. Um trabalho muito bonito.
Vem aí o primeiro álbum da dupla formanda por Bruna Black e Jota.pê. Que arrasa em popularidade desde 2019. Prometido para o ano passado, o disco deve sair no segundo semestre deste ano. Daqueles casos em que a canção fez a união, Bruna e Jota tinham suas carreiras solo e um single em conjunto uniu suas vozes para algo mais sólido. “Famoso Amor” mostra parte dessa solidez, como resultado de uma construção mais pensada para inventar algo que não seja nem Bruna, nem Jota meramente reunidos, mas uma terceira coisa: o som do ÀVUÀ.
Outro single novo do retorno do trio paulistano. A banda é de 2012, este é sim um retorno, mas o disco de ESTREIA deles sai em agosto, pela Balaclava. E produzido pelo badalado Kassin, ainda por cima. Para uma banda mais conhecida que ouvida, por conta apenas de esmerados dois EPs, o finalmente disco cheio do Ombu, a julgar por este single e o anterior, “Pare”, promete bem.
Velhos parceiros, Maurício Pereira e Tonho Penhasco criaram o formato do álbum “Micro” para resolver um problema da estrada. Sair em turnê com o formato voz e guitarra (ocasionalmente um sax) era mais barato e prático. A solução virou linguagem e daí que veio o disco. Limitados, os dois se viram recriando muitas das músicas de Maurício a partir da Semi, guitarra cheia de particularidade desenvolvida pelo próprio Tonho. “Um Dia Útil”, do álbum “Mergulhar na Surpresa” (1998), que parecia eternamente colada ao marcante piano de Daniel Szafran, surpreende no novo arranjo e suas sutis mudanças de ênfase em uma música que já gostava de brincar em surpreender justamente nas ênfases. Recriação primorosa. Daquelas vezes que revistar os antigos trabalho passa longe de se afastar da criatividade.
Música em inglês na CENA brasileira, que talvez pudesse caber no Top 10 Gringo se não viesse da paulistaníssima Gabriella, a Ella, que traduz seus vários sentimentos ups and downs com várias sonoridades na mesma música, que de tão boa precisava entrar bem em um de nossos tops. Que seja neste aqui!
“Nada Tropical” será o terceiro álbum da Glue Trip, grupo de João Pessoa liderado por Lucas Moura. “Marcos Valle” é o terceiro single que adianta o trabalho e se trata de uma tiração de onda/homenagem ao grande Marcos Valle, um dos mestres da música brasileira, conhecido pela boa vibe de suas canções. Tanto que isso fica entregue nos versos de Lucas: “Ouvi Marcos Valle/ Bebendo demais/ Fumando demais”. O respeito a Marcos não fica só na letra. Musicalmente a canção se embebeda mesmo do estilo do compositor, especialmente em sua fase dos anos 80, especificamente “Estrelar”. Tá ligado nessa? E detalhe: Marcos curtiu a música e até enviou um vídeo para a banda elogiando a composição enquanto tomava uma tacinha.
11 – Rico Dalasam – “30 Semanas” (Ao Vivo em Belo Horizonte) (2)
12 – Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis – “Sé” (5)
13 – Bruno Berle – “Até Meu Violão” (6)
14 – ROHMA – “Kobra (com Letrux)” (7)
15 – Índio da Cuíca – “Malandro Sempre Será / Miudinho de Malandro (Pout-pourri da Malandragem)” (8)
16 – Gorduratrans – “Arão” (9)
17 – Celeste – “Lei de Benford” (10)
18 – Juçara Marçal – “Odumbiodé” (11)
19 – Tom Zé – “Hy-Brasil Terra Sem Mal” (12)
20 – Sessa – “Canção da Cura” (13)
21 – Mulamba – “Barriga de Peixe” (com Kaê Guajajara) (14)
22 – João Gordo– “Ciganinha” (15)
23 – Chico César – “Vestido de Amor” (16)
24 – MC Tha – “São Jorge” (com Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Sueide Kintê) (17)
25 – Do Amor – “Por Essa Rua É Ruim” (18)
26 – Maglore – “Eles” (19)
27 – Chico Buarque – “Que Tal Um Samba?” (part. Hamilton De Holanda) (20)
28 – Tim Bernardes – “Última Vez” (21)
29 – Letieres Leite & Orquestra Rumpilezz – “Coisa n°5 – Nanã” (com Caetano Veloso) (22)
30 – AIYÉ – “Exu” (23)
31 – Jair Naves – “Meu Calabouço (Tão Precioso É o Novo Dia)” (25)
32 – Moons – “Best Kept Secret” (26)
33 – Elza Soares – “Mulher do Fim do Mundo” (Ao Vivo) (27)
34 – Alaíde Costa – “Aurorear” (28)
35 – Luna França – “Como” (29)
36 – Bruno Capinam – “Ode ao Povo Brasileiro” (31)
37 – Urias – “Je Ne Sais Quois” (32)
38 – RT Mallone – “100 Balas” (com Coruja BC1) (33)
39 – Rico Dalasam – “30 Semanas” (34)
40 – Criolo – “Ogum Ogum” (com Mayra Andrade) (35)
41 – Thiago Jamelão – “Diálogo sobre Vivência” (36)
42 – Black Pantera – “Estandarte” (com Tuyo) (38)
43 – N.I.N.A. – “Anna” (39)
44 – Saskia – “Quarta Obra” (40)
45 – Rashid – “Pílula Vermelha, Pílula Azul” (41)
46 – Sérgio Wong – “Filme” (44)
47 – Radio Diaspora – “Ori” (45)
48 – LAZÚLI – “Pomba Gira” (47)
49 – Valciãn Calixto – “Aquele Frejo” (48)
50 – Luneta Mágica – “Além das Fronteiras” (50)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o músico paulistano Tatá Aeroplano.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.
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