Top 50 da CENA – Tão perto, tão longe, Cajupitanga & Arthus Focchi dominam a semana. Djonga demorou a dormir mas chegou. E o Jovens Ateus vem no reverb sujo

De experimentação em experimentação chegamos a mais um Top 50 da CENA. Sempre de olho em explorar o que tem de mais fervilhante por aí. Ou “por aqui”. E o o quente do momento está na conexão Copenhague/Vitória da Conquista estabelecida por Arthus Fochi e o duo Cajupitanga. A estreia da parceria é surpreendente. Em território mais conhecido, tem Djonga mostrando por que é um jogador caro, enquanto os meninos do Celacanto celebram Radiohead. Um pouquinho de tudo. Tem até Arnaldo Antunes, para você ver.

O duo baiano Cajupitanga, de Vitória da Conquista, e Arthus Fochi, brasileiro que vive hoje Dinamarca, nunca se encontraram pessoalmente. E ainda assim lançam juntos o álbum “Próximo”. A colaboração se deu também de forma quebrada. Fochi enviava improvisos instrumentais para o duo retrabalhar. Daí dá-lhe colagens, recortes, sobreposições. A liberdade total para revirar o material explica a diferença entre as faixas, que vão do mais experimental e solto, tipo esta deliciosa “Flamengo”, ou mais canção propriamente dita, como o encerramento “Tiempos de Luz” – que não deixa de ser estranha a seu modo. Para quem reclama da mesmice na música brasileira, ta aí algo que não é lançado todo dia. Um raro encontro de gerações diferentes, Cajupitanga são novatos, Arthus tem uma década de estrada, onde ambos os artistas parecem estar olhando para frente. Mais que isso: para o que ainda não foi feito por ninguém. E, como toda boa ideia ou música, parecia que estava em nós o tempo todo.

Djonga nunca teve medo da peneira, hoje honra o nome no BID e não cogita virar SAF. Entre 2017 e 2021 lançou um disco todo 13 de março. A tradição só foi quebrada em 2022, quando o álbum saiu mais tarde. Aí ele resolveu tomar um ar – em 2023 chegou com uma mixtape e tirou “férias” em 2024. O fôlego ajudou ele a retomar o seu 13 de março em 2025 com “Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto!”. Aludindo a história de Exu, Djonga conta que segue com fome. E as novas conquistas de Djonga estão todas no álbum novo, passando pelo amadurecimento até reflexões sobre coisas que acabaram de acontecer – seu show na abertura da Libertadores ou suas impressões sobre “Ainda Estou Aqui”. Por escrever tanto, Djonga sempre caminhou na linha tênue entre registrar o urgente e o eterno. Talvez seja seu álbum com mais participações de artistas que não fazem rap – Samuel Rosa e Dora Morelenbaum chegam com suas vozes enquanto os Los Hermanos (Sim!) aparecem via sample. E aí tem Milton Nascimento, que gravou sua parte de mãos dadas com o rapper. Imagina aí o tamanho do sonho realizado, lembrando que a estreia de Djonga, “Heresia”, tem sua capa em homenagem à capa do Clube da Esquina. Com tudo isso ele garante que ainda tem fome. Se ele quer mais, nós queremos também. “Só quem não apanhou se sente bem quando agride”.

É um lugar comum falar que os paranaenses do Jovens Ateus soam retrô. A influência pós-punk dos anos 80 grita no som da banda. O legal é que eles legitimam essa ida na outra direção do tempo em outros métodos. Exemplo: quando o vício de todo mundo é acelerar suas músicas de olho no TikTok, eles lançam uma versão “Slowed Reverb”, que dá uma freada brusca na original e deixa “Mágoas” ainda mais soturna. Os caras são diferentes. Mês que vem teremos o álbum de estreia deles. “Vol. 1” vem aí. Queremos!

Ouvir a voz de Danilo Moralles e não pensar no timbre de Ney Matogrosso é impossível. Mas é importante pontuar uma coisa: Danilo lembra o mestre, não soa como cópia, até porque seria impossível. Outro trunfo é a nova proposta sônica nova de Danilo, que projeta em seu segundo álbum um eletrônico leve e fragmentado em forte combinação com a letra peito aberto, derretida. Danilo nu com sua música. Não é música de pista, talvez funcione melhor nos fones, em casa – antes ou depois da balada (ou do amor).

Por falar em pista de dança, é dançando que a esperta turma do Celacanto se livra da dores da alma em “Dançando Sozinho”, segundo single de sua jovem carreira. Para quem não sabe ainda, o Celacanto é um dos segredos (menos) guardados da CENA e está perto de soltar seu álbum de estreia. Como aponta essa novidade, megainspirada em “Weird Fishes/Arpeggi”, obra-prima do Radiohead, eles prometem muito. Ouvidos atentos.

Após a gigantesca turnê de reunião dos Titãs, Arnaldo Antunes queria manter a eletricidade de seu repertório. Resolveu isso bebendo na fonte da CENA. Convocou Pupillo para produzir e tocar bateria e fechou uma banda básica com Kiko Dinucci nas guitarras, seu já “velho” parceiro Vitor Araújo nos teclados e piano e Betão Aguiar no baixo. Funcionou. O disco tem energia alta, ainda que algumas letras como a de “Novo Mundo”, que abre o trabalho, pareçam meio atrasadas na percepção de mundo, mas curtimos bem tantas outras, em especial esta “Pra Não Falar Mal”, com Ana Frango Elétrico. É ótima a sacada da letra – não vale combater fogo com fogo: essa fórmula já deu. Tá aí uma boa solução para um novo mundo. 

Após o excelente e inovador “TV Show”, disco com cara de sitcom e uma produção independente com jeitão de milionária, a dupla mineira Ogoin & Linguini muda a paleta de cores. Fica de lado as saturações coloridas de uma comédia e entra um azul fim de noite. O humor abre espaço para uma love song mais tradicional. Ou, como cravou Linguini nas redes sociais: “Back to basics”. Aquela para dedicar para alguém numa rádio na madrugada. Nem vai precisar de um locutor traduzindo a letra. Sabe do que estamos falando?

O que esperar de um projeto paralelo do baixista do Ratos de Porão? Jazz experimental, lógico. É isso que Juninho Sangiorgio entrega ao lado do baterista Rodrigo Saldanha e um time que ainda conta com Anderson Quevedo, Tadeu Dias, Paulo Kishimoto e Vicente Tassara, que você deve conhecer como guitarrista no Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo, mas que aqui se aventura pelas teclas do piano. “Natureza” é o terceiro álbum da banda, o mais colaborativo até aqui e o mais solto e viajadão. Se você der play e mentir para alguém que é um disco perdido ali dos anos 70 de uns amigos do Miles, dá para enganar certinho.

A turma da banda paranaense Terraplana, formada por Stephani Heuczuk, Vinícius Lourenço, Cassiano Kruchelski e Wendeu Silverio, está vivendo o sonho. Disco da semana no “Stereogum”, elogios da Sasamia e uma tour que começa com uma porrada de datas nos EUA antes de desembarcar no Brasil. Eles viraram gringos? Que nada. “Natural” reflete bem a busca de uma banda de rock brasileira atrás de seu próprio som e raízes locais. Escapando da chave do shoegaze, onde geralmente tentam limitar a banda (e um limite que já era injusto no primeiro disco), o terraplana expande bem seus experimentos, testando mais o canto em português que se esconde no barulho, habitat quase incomum para nossa língua. Testam também novas dinâmicas e timbres, como o riff limpo da belíssima “Todo Dia”, a sujeira de garagem em “Desaparecendo” ou a catártica “Morro Azul”, perfeita para encerrar um show numa longa jam, apenas sugerida no disco. O complicado desafio do segundo disco foi cumprido de forma “natural”. É assim que tem que ser.

Em clima diferente das composições apresentadas até aqui para seu próximo álbum, esta curta “Próxima Parada”, terceiro single novo do Terno Rei, é uma faixa leve defendida por guitarras climáticas que escondem um tenso Ale Sater. Seja no baixo ou no contracanto grave ou ainda na letra, algo sério parece ter atingido o compositor. “Não sei se vou me perdoar”, é o verso de abertura da música. Seja lá o que for, tudo indica que deixou marcas, hein?

11 – Áurea Semiseria e  Deize Tigrona – “Isqueiro” (5)
12 – Charanga do França – “Charanga Pagodão” (6)
13 – Marina Melo – “Prometeu” (com Maurício Pereira) (7)
14 – Vera Fischer Era Clubber – “Fantasmas” (8)
15 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (9)
16 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (10)
17 – Nina Becker – “Praia, Cinema e Carnaval” (11)
18 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (12)
19 – Getúlio Abelha – “Toda Semana” (13)
20 – Siba – “Máquina de Fazer Festa” (com Ronaldo Souza) (14)
21 – Gabriel Ventura – “Fogos” (15) 
22 – Josyara – “Ensacado” (com Pitty) (17)
23  – Nyron Higor – “São Só Palavras” (19)
24 – BK – “Só Quero Ver” (com Evinha) (21)
25 – Jamés Ventura – “Noites de SP” (23)
26 – Superafim – “Sorry” (24)
27 – Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro – “Nova Era” (25)
28 – Heal Mura – “Wu Wei” (26)
29 – BK – “Só Eu Sei” com Djavan e Nansy Silvvz (27)
30 – Julia Mestre – “Sou Fera” (30)
31 – Rei Lacoste – “Sem Paz” (31)
32 – Menores Atos – “Pronto pra Sumir” (32)
33 – Panteras Venenosas – “Ai Que Saudade” (33)
34 – Igor de Carvalho – “Pra Te Esquecer” (34)
35 – BaianaSystem – “A Laje” (35)
36 – Maré Tardia – “Já Sei Bem” (36)
37 – Bem Gil – “Sobe a Maré” (com Domênico Lancellotti) (37)
38 – Thiago França e Rodrigo Brandão – “Young Lion” com Sthe Araújo e Edgar (38)
39 – Vitor Milagres – “Um Barato” (39)
40 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (40)
41 – Negro Leo – “Me Ensina a Te Castigar” (41)
42 – Tássia Reis – “Sol Maior” (42)
43 – Maria Beraldo – “Colinho” (43)
44 – Thalin, VCR Slim e Cravinhos… – “Todo Tempo do Mundo” (44)
45 – Supervão – “Androids” (45)
46 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (46)
47 – Paira – “O Fio” (47)
48 – Dora Morelenbaum – “Venha Comigo” (48)
49 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (49)
50 – Hoovaranas – “Fuga” (50)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o encontro em foto da dupla Cajupitanga com o Arthus Fochi.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro Vinícius Felix.