Entre remixes e paixões que começam em banheiros químicos, separamos as canções que fizeram nossa cabeça nesta semana. Da pistinha, com um “diferente” Tatá Aeroplano, até uma rodinha de violão com Chico Cesár e Geraldo Azevedo. Bora!
No incrível “RPA, Vol.2”, um dos discos do ano em 2021, o mineiro Djonga era um feat. (quase) secreto em “Favela Venceu”. Faltava o verso dele na canção, que agora aparece em um remix da faixa. Na opinião do próprio Djonga (e na nossa também), um de seus melhores textos de sua carreira: “Vai pra luta cedo, mamãe falou/ Eles quase aos quarenta, Mamãefalei” é só uma das boas tiradas. Destaque também para o jovem Bakkari, de Fortaleza, que abre a música e também chega firme: “Não desacredita que nós é Ronaldo no ano do penta/ Nós tava lá embaixo na expectativa mas pega a responsa, mata ela no peito e sustenta”. Na reprise dos versos de Don L, é bom lembrar a saudação aos heróis brasileiros: Milton Santos, Sabotage, Dina Di e Marighella.
É engraçada essa Clarice Falcão. Em seu novo álbum, Truque”, as canções de amor são cheias de cenas esdrúxulas (“Me apaixonei no banheiro químico”), enquanto nas de desilusão ressoam beleza e até o desejo por realidades paralelas (im)possíveis. Lá ou cá, a cronista dos relacionamentos modernos segue afiadíssima. Retrata dependências amorosas (“Dizer Adeus”), projeções terríveis (“Ideia Merda) e encontra até um final feliz (“Segunda Dimensão”), sem querer dar muito spoiler de um álbum notadamente conceitual. Sonoramente ela segue a exploração mais modernosa iniciada em “Tem Conserto” (2019) e dá muita liga. Muito bom!.
Tatá Aeroplano entra em um clube em Manchester no meio da década de 80. Essa cena poderia ser uma boa ideia para um vídeo do seu novo álbum, “Boate Invísivel”, onde o compositor agora se aventura pelos timbres eletrônicos que fizeram a cabeça dos ingleses. É impossível não pensar em New Order nos primeiros segundos de “Alquimia Sensual”. Uma novidade do projeto é o fato de todas as composições serem assinadas pela banda que acompanha Tatá há alguns anos: Bruno Buarque, Dustan Gallas, Junior Boca, Kika e Malu Maria. Só de ler dá para pensar que ele voltou aos primórdios, o de sua primeira banda, a Jumbo Elektro. Mas vai muuuito além.
O encontro de dois grandes violonistas e hitmakers só poderia dar bom. Geraldo Azevedo e Chico César juntos em “Violivoz”, álbum lançado sexta passada, enfileiram nada mais nada menos que 20 sucessos. Se ainda houvessem banquinhas de CD piratas, esse ia estourar demais.
Gostou de “Estrela Acesa”, álbum do Sessa lançado no ano passado? Pois vai gostar muito da versão do disco com demos e outtakes. Ao revelar um pouco do processo criativo por trás da construção delicada de canções que no disco se enriqueceram de arranjos e instrumentos, o compositor revela o quanto músicas como esta “Gostar do Mundo” se sustentam em seu formato mínimo.
O conhecido punk Supla vai ao hardcore nesta música veloz que é o novo single de seu mais novo disco, “Supla e os Punks de Boutique”, que vem a ser sua nova banda. A música, cheia dos significados e com trechos na linha “Senta na minha cara menstruada”, ganhou vídeo digamos “caliente”, quase um NSFW, que mexe com melancia, um must do pop atual. Incrível como o gás do Papito ainda se mantém intocável.
Discos de regravações geralmente não acrescentam muito à história do homenageado em questão, mas não é o que acontece no álbum mais comentado das últimas semanas. Ao regravar suas canções prediletas de Caetano Veloso, o cantor Xande revela a dimensão de samba guardada na obra do discípulo mais fervoroso de João Gilberto. Sem samba não dá e Caetano sempre respeitou isso, mesmo quando não deixou evidente os sinais. Xande entendeu tudo e canta isso por aqui. A produção rica em detalhes de Pretinho da Serrinha e a ótima escolha do repertório entre sucessos e lados B precisos, ajudam a deixar tudo maior ainda. E tem a voz de Xande – diamante verdadeiro. Um disco para ser escutado um milhão de vezes.
“DK K não tá mais produzindo, tá fazendo bruxaria.” Já ouviu essa frase antes? Se a resposta é “sim”, quer dizer que você está ligado no fenômeno DJ K e seu álbum “Pânico no Submundo”. O jovem produtor de Diadema conquistou os críticos gringos e na sequência os jornais daqui, uma ordem comum quando falamos de música brasileira. Dias destes, o Emicida também tuitou que está ciente da bruxaria do DJ K. Mas qual é a da bruxaria? O jornalista GG Albuquerque explica essa variação do funk que acontece em São Paulo: “O som é distorcido e pesado— alguns chamam de “beat agressivo”, “destrói fone” ou “sangra tímpano”. Além disso, as produças do K se destacam pelo esmero e pesquisa – são pequenos recortes de risos, frases, sacadas e até enredos apocalípticos que se apresentam em metacanções. Ou como está bem dito nesta “Isso Não É um Teste”, que destacamos aqui: “Diferente de tudo. Diferente de todos. Original”.
O novo single do grupo paulistano indie-existencial Walfredo em Busca da Simbiose, do produtor Lou Alves, é uma parceria da Walfredo com Saudade, do Rio de Janeiro – não vá confundir o artista com o sentimento, hein. Se trata de uma canção que estava guardada no cofre de Lou até que ele encontrou no amigo Saulo Saudade uma conexão. Música para tardes perfeitamente melancólicas ou repletas de saudade. Neste caso, aquela mesmo.
O recém-lançado single duplo de estreia do duo Ultraviolet por pouco não esbarra na cláusula de barreira da CENA, pelo caráter “gringo”, mas está valendo por aqui sim. O Ultraviolet é formado pela russa-carioca Irina Gatsalova e o produtor Cello Nascimento. Vivem naquela busca constante por um pop perfeito que já seduziu muitos, como seduz esse single duplo recém-lançado. Camadas de violões, pianos elegantérrimos e vozes em harmonia. Busca insana, porém bastante satisfatória. Saca só que belezinha é esta “Felicia”.
11 – Luiza Lian – “A Minha Música É” (6)
12 – FBC – “O Que Te Faz Ir para Outro Planeta?” (9)
13 – Nina Maia – “Sua” (10)
14 – Gui Hargreaves – “Somewhere to Start” (11)
15 – Garotas Suecas – “Todo Dia É de Mudança” (12)
16 – Mateus Fazeno Rock – “Pode Ser Easy” (13)
17 – Jasmin Godoy – Show Me the Way (14)
18 – Planet Hemp – “Salve Kalunga” (15)
19 – The Mönic – “Atear” (16)
20 – Ema Stoned -“Vale da Lua” (17)
21 – Lirinha – “No Fim do Mundo” (18)
22 – João Donato – “Flor de Maracujá” (19)
23 – Ava Rocha – “Disfarce” (20)
24 – Terraplana – “Conversas – Ao Vivo” (21)
25 – Holger – “Vida Orgânica” (22)
26 – Zudizilla – “Tempo Ruim” com Don L (23)
27 – Terno Rei – “Mercado” (24)
28 – Sain – “Aquelas Coisas Mais pra Frente” (25)
29 – Letrux – “As Feras, Essas Queridas” (26)
30 – Wilson das Neves e Rodrigo Amarante – “O Que É Carnaval” (27)
31 – Jadsa e YMA – “Mete Dance” (28)
32 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Viridiana Remix)” (29)
33 – Raffa Moreira – “Beleza Exótica” (com Matuê e Jay Kay) (30)
34 – Rico Dalasam – “Espero Ainda” (31)
35 – Troá! – “Que Pena” (32)
36 – Marcelo D2 – “Tempo de Opinião” (com Metá Metá) (33)
37 – Coruja BC1 – “Versão Brasileira” (com FEBEM e MC Luanna) (34)
38 – Luisão Pereira – “Licença” (com Luíza Nery) (35)
39 – dadá Joãozinho, Alceu e Bebé – “Cuidado!” (36)
40 – Xis – “Isnaipa” (37)
41 – Ítallo – “Tarde no Walkiria” (38)
42 – Ruadois – “Sprint” (40)
43 – Dj RaMeMes – “Vamo Fuder” (41)
44 – Zé Ibarra – “Vou Me Embora” (42)
45 – Rincon Sapiência – “XONA” (43)
46 – TUM – “DTF” (44)
47 – L’homme Statue – “Espírito Livre” (45)
48 – ÀTTØØXXÁ – “Dejavú” (com Liniker) (46)
49 – Mahmundi – “Meu Amor – Reprise” (47)
50 – BIKE – “Além-Ambiente” (48)
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* Na vinheta do Top 50, o rapper cearense Don L, em foto de Bel Gandolfo.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.
Bel Gandolfo