Top 50 da CENA – Rico Dalasam surpreendendo em primeiro. Assistindo Ogoin & Linguini em segundo. Algo nos diz que Marabu chegou ao pódio

Na saideira do ano, no último Top 50 de 2023, fomos enrolados – galera resolveu lançar muita música! O que está acontecendo? Vamos anotando tudo para não perder nada. Bom ano para a música brasileira! Isso é um desejo e uma constatação.

“Escuro Brilhante, Último Dia no Orfanato Tia Guga”, novo álbum do Rico Dalasam, finalmente ganhou os streamings. O rapper inovou um tanto nesse lançamento e divulgou antes o disco “na mão”, digamos. Na real, distribuiu o link por Whatsapp. Uma forma de lutar contra algoritmos e pressões diversas. No novo trabalho, Rico amplia suas conversas sobre amor próprio, crescimento e relacionamentos. Acompanhados dos parceiros de sempre, Dinho e Mahal Pita, ainda colam 808 Luke, Marcelo Cabral, Chibatinha, fora Eliana Pittman no sample e Liniker na voz. Coisa linda. Atualize sua lista de melhores do ano.

Um álbum que é uma sitcom – com direito a tema de abertura, piloto, comerciais e créditos. Foi nesse conceitão que a dupla mineira Ogoin & Linguini investiu em “Ogoin & Linguini: TV Show”, seu disco de estreia. Misturas as cores de “Maluco no Pedaço” com o baixo com slap de “Seinfeld” e um clima pop do começo do século XXI – Justin, Pharrell, Timbaland… Joga um tiquinho de seriados dublados que passavam à tarde no SBT e anime matinal da TV Globinho. São os mineiros dando as cartas na cena de hip-hop mais uma vez – alô, Djonga e FBC. Tá aí um disco que pede reprise no play (risadas gravadas ao fundo).

Desde a excelente estreia, “FUNDAMENTO” (2020), o  rapper Marabu investiu em alguns singles, se formou na faculdade e agora lança sua primeira mixtape. De novo, o conceito brilha por aqui na produção sempre firme de Levi Keniata – são nota 10 as colagens e as referências a outros rap nas letras. Para discutir os excessos de propagandas e promessas de sucesso, por exemplo, Marabu cola um ad de Spotify no som que vai deixar muita gente se perguntando se pagou pela plataforma de streaming neste mês.

Com seu violão e uma banda e tanto, Wado entrega seu 13° álbum de estúdio. E, no novo registro, o alagoano traz uma bela parceria com o sumido Marcelo Camelo, eterno Los Hermanos. “Dente D’ Ouro” se equilibra entre um clima de indie rock e um suave forrozinho. Bom que uma camiseta xadrez vai bem nos dois rolês.

A poploader Lina Andreossi amou/resenhou o primeiro álbum dos baianos do Tangolo Mangos e a gente comprou muito a ideia dela sobre “Garatujas”. Os meninos são massa mesmo. Olha o que ela escreveu sobre “Canaã”: “Já na primeira música as referências nordestinas ficam aparentes no riff de guitarra que introduz ‘Canaã’. Num autointitulado baião-rock, o eu-lírico reflete sobre essa dor da juventude que é ter esperança frente às dificuldades da vida adulta”. É uma boa, mas a gente se divertiu demais foi com “Glauber Rocha”, um hino da época de moleque dos caras que ganhou colagens dos “discursos” maravilhosos que o cineasta dava quando irritado.

Um multiplicado Thiago França fornece os sopros que dão espaço para Don L mandar o xaveco mais bem bolado do ano: “Disse que o coração tá interditado. Eu disse: eu sou trabalhador da obra”. Esta “Tudo É Pra Sempre Agora” parece uma versão estendida do diretor para o romance noturno filmado em “Lua e Estrela”, canção de Vinicius Cantuária, famosa na voz do Caetano Veloso – uma influência que aparece em letra e música aqui: “Deixa o destino, deixa o acaso”. No vídeo da faixa, Don joga referências de Wong Kar-Wai, diretor chinês citado na letra, e insinua um trailer de uma história maior. Será? Uma love song para deixar o futuro 2024 mais vermelho.

Se Don L sorriu para um forró ali em cima, Giovani Cidreira e Luiz Lins tomaram todas com um bom piseiro aqui. Outra canção feita na fervura do amor. Amor romântico, mas também amor pela música e pelo lugar onde vive a sua música. Também em tons de vermelho, nem que seja o vermelho da lata da mesa de um bar sujo. Como se dissesse: “Tendo você por lá, precisa de mais alguém?”

Por falar se vem mais alguém, o que é João Gomes resgatando um som da Banda do Mar? A aventura de verão que reuniu Marcelo Camelo, Mallu Magalhães e o português Fred Pinto Ferreira caiu perfeita na voz de João Gomes, outro que anda apaixonadíssimo, pelo visto. E sua versão reforça o singelo que habita nos versos: “Mesmo que não venha mais ninguém/ Ficamos só eu e você/ Fazemos a festa, somos do mundo/ Sempre fomos bons de conversar”.

Carlos Lyra tem seus 90 anos celebrados em “Afeto”, álbum lançado pelo Selo Sesc que conta com regravações de canções suas por medalhões da MPB. Não somos os maiores especialistas em Lyra, mas somos apaixonados por suas músicas do começo da bossa nova. Dos letristas daquele período, acho que era o mais esperto, o que tinha um vocabulário mais perto de como as pessoas de fato conversam. “Lobo Bobo” ainda é quente por mais que soe inocente de tudo. Não é. Tem versões brilhantes na voz de João Gilberto e Wilson Simonal, onde cada um a seu modo muito particular faz da música um espetáculo, dançando com a melodia que pede improvisos, como se solicitasse atrasos e antecipações. Num território onde não parecia caber mais invenção, Mart’nália deitou e rolou – duvido que você consiga cantar junto com ela, que desacelera tudo, mas não se perde nunca. Coisa absurda.

Marcelo Perdido reflete sua idade, essa do título da música”, num pop musicalmente rebuscado, mas com o resultado direto na linha: “Vou resolvendo minha vida mês a mês”. Artista visual diferenciada, fica melhor para você enxergar esse dilema de perdido vendo o vídeo da música, em que ele usa muitas linguagem visuais para chegar a uma só conclusão. Perdido é bom.

11 – Fresno – “Eu Nunca Fui Embora” (6)
12 – Marina Sena – “Dano Sarrada” (7)
13 – Aysha Lima – “Amor e Som (com André Miquelotti, DG Prod e Duquesa)” (8)
14 – Lori – “Me Dói, Boy (com Matias e FBC)” (9)
15 – Juyè (com Thiago Jamelão e Alisson Melo) – “Seguir” (10)
16 – tttigo e dadá joãozinho – “SEM SEGURO” (11)
17 – Rodrigo Campos e Romulo Fróes – “Um Amor Cantando” (12)
18 – Amiri – “Limbo” (13)
19 – Duda Beat – “Saudade de Você” (14)
20 – Apeles – “Lábios Mentem À Distância” (15)
21 – Giovanna Moraes – “As Mina no Poder” (16)
22 – Nelson D – “Defensor Assassinado” (17)
23 – Bruno Berle – “Tirolirole” (18)
24 – Dead Fish – “Dentes Amarelos” (19)
25 – Ebony – “Espero Que Entendam” (20)
26 – Jaloo – “Pra quê amor?” (22)
27 – DJ RaMeMes, DJ Pretinho de VR, DJ Ramom, DJ LC da VG – “Putaria em Volta Redonda” (23)
28 – Papisa – “Melhor Assim” (25)
29 – YOÙN e Carlos do Complexo – “Não Vou Dançar Sozinho” (26)
30 – Tuyo – “Eu Vejo o Futuro” (27)
31 – Ana Frango Elétrico – “Boy of Stranger Things” (28)
32 – TUM – “Rainha da Sumaré” (30)
33 – Fabiana Cozza e Leci Brandão – “Dia de Glória” (31)
34 – Monna Brutal – “Esse Puto” (32))
35 – MC Carol – “Só de Passagem” (34)
36 – Rodrigo Ogi – “Aleatoriamente” (35)
37 – Assucena – “Reluzente” (36)
38 – Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo – “Quem Vai Apagar a Luz” (com Negro Leo) (37)
39 – Alzira E + Corte – “Filha da Mãe” (38)
40 – Varanda – “Vontade” (39)
41 – dadá Joãozinho – “Pai e Mãe” (40)
42 – Karen Francis – “Linha do Tempo” (41)
43 – Xande de Pilares – “Diamante Verdadeiro” (42)
44 – FBC – “O Que Te Faz Ir para Outro Planeta?” (43)
45 – Mateus Fazeno Rock – “Pode Ser Easy” (44)
46 – Zudizilla – “Tempo Ruim” com Don L (45)
47 – Jadsa e YMA – “Mete Dance” (46)
48 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Viridiana Remix)” (47)
49 – Troá! – “Que Pena” (49)
50 – Marcelo D2 – “Tempo de Opinião” (com Metá Metá) (50)

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*  Na vinheta do Top 50, o rapper Rico Dalasam.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.