Opa, tá calor, né? Legal ouvir um Bad Bunny e tal, mas você já escutou Rei Lacoste? É em português, é de Salvador e vai falar direto com você também. Pancadão. Mas se o sol não é muito a tua vibe, tem pop tristinho também na terra brasilis – por exemplo, o Superafim traz a nova empreitada de dois ex-CSS, os Menores Atos voltaram com atos maiores, o Panteras Venenosas são os filhotes de Letrux, Cícerovem com uma emoção relax e Igor de Carvalho fez sua praia em casa mesmo.
Das mentes mais criativas que rodam na bela Salvador, Rei Lacoste, agora doutor em Artes Visuais pela UFBA, chega com tudo em sua nova mixtape: “O Que Você Ouve/ O Que Houve Com Você”. Com produção dividida entre o próprio Rei e Zepeto, este é seu trabalho mais ambicioso até aqui. Seja pela proposta artística de encarar diversos gêneros (reggaeton, afrobeats, drill japonês, trap experimental, future bass, MPB) ou o peso dos feats. presentes: Dunna, Giovani Cidreira, Bebé, Tangolomangos, Juçara Marçal, Cajupitanga, Davzera, Vênus Não É um Planeta, Clara FSX, Volúpia e Clarisse Lyra. Como destaca o próprio artista, para ser ouvido sendo independente é preciso caprichar. “Competindo com artistas que derramam centenas de milhões de dinheiros de impulsionamento – a gente tem que contar com ouvintes reais e pessoas realmente interessadas. O trabalho tem que ser no mínimo tecnicamente bom. A partir daí podemos pirar na estética”, escreve Rei Lacoste. Olha, esse cuidado funcionou. “Sem Paz” é forte, estrala no ouvido e emociona. Que Bad Bunny o quê, rapaz. Aqui é Rei Lacoste, pô.
Ressignificar o passado para vislumbrar um futuro bonito. Parece ser essa a intenção de Adriano Cintra e Clara Lima, ambos ex-CSS, ao recuperar o nome Superafim, música que a dupla escreveu nos tempos de Cansei, para nomear o novo projeto. O primeiro lançamento do duo veio no ano passado em forma de um EP natalino com três inéditas. O trampo foi lançado discretamente no Youtube do selo paulistano Sound Department. Em março, chega a estreia oficial, um EP que vai sair nas plataformas tradicionais, digamos. Para a imprensa, eles mandaram um vinil muito chique do primeiro single, a boa “Sorry”. O lado B é “Dallas Winston”, que dá para achar fácil no Youtube. Situando a sonoridade e o visu do Superafim, vale prestar atenção nas referências que Clara e Adriano apresentam: as principais tags são John Waters, colagens e gatinhos fofos.
A experiência faz bem demais. E é com esse horizonte que o carioca Cícero resolve reinterpretar o melhor de seu repertório em “Concerto 1”, versão de estúdio para o conceito apresentando em shows – voz, violão, sopros, cordas e nada mais. Com mais tempo e espaço, belezinhas como “Tempo de Pipa”, lançada pelo músico em seu primeiro álbum, soam mais relaxadas, abertas e emocionantes.
Mudando um pouco o clima da pistinha, as Panteras Venenosas, duo formado em Brasília por Pantera Megera e Poison Baby (a gente não faz ideia dos nomes verdadeiros da duplinha, hehehe) trazem sintetizadores carregados para criar aquele climão, sabe? A inspiração em Letrux é assumida e a própria cantora pirou no som deles. Faz todo sentido. São letras sinceras, que dosam bom-humor e tristezinhas sem medo de ser.
Dá para entender essa volta ao disco do trio Menores Atos depois de seis ou sete anos, pelo seu título: “Fim do Mundo”. Uma gangorra de sentimentos alimentada por um hardcore mais tentacular, menos “puro”. Isso não é necessariamente ruim. A começar por uma ideia única de disco, contando uma história, indo de “Vazio”, a primeira faixa-vinheta, e terminando com a apoteótica “Fim do Mundo”. É possível ler o turbilhão sonoro atual do trio pela semiótica da escrita do disco, dos nomes da banda e das músicas, algumas no maiúsculo, outras (as vinhetas) tudo em minúsculo, uma hora gritando e chamando atenção, outras meio que ficando na deles, pedindo sossego para pensar. O terceiro disco demonstra que os Menores Atos (tudo em minúsculo) são hoje caras de atos maiores.
É gostosa a ironia de Igor de Carvalho. O novo álbum do pernambucano leva o nome de “O Melhor Lugar da Praia” e traz na capa ele dentro de uma piscina de criança “tomando um sol” dentro do apartamento. A praia melhor onde ficar é só um pôster na parede. Essa dicotomia reside no seu som – solar, mas também melancólico, “pra dentro”, digamos. Só ouvir “Pra Te Esquecer” com seu ar Lulu Santos, uma love song invertida.
Quando a Terraplana surgiu, a banda paranaense foi classificada como uma formação shoegaze. Mas um dos lances defendidos pela própria banda e muitos ouvintes era de que eles eram muito mais que isso e o shoegaze era só uma das várias influências do som deles. “Charlie”, primeiro single do segundo álbum do grupo, “Natural”, trabalha a favor dessa noção, a começar pelo riff de abertura – bem aos moldes do Nirvana. Em choque com a barulheira, a letra reta e direta (“Só quero estar em um sonho bom/ Em um sonho vou ficar”) soa superpop no vocal delicado da baixista Stephani Heuczuk, cada vez mais sem medo de soltar a voz.
Se o ano começa no Brasil depois do Carnaval, o BaianaSystem sabiamente antecipou o repertório que vai balançar as saídas da banda em fevereiro e já soltou “O Mundo Dá Voltas”, álbum lançado quase sem anúncio prévio. De cara, o disco surpreende pelo volume e pelo peso das participações especiais: Anitta, Gilberto Gil, Emicida, Seu Jorge, Pitty, VANDAL, Melly, Antônio Carlos e Jocafi, Manoel Cordeiro… E isso é só parte da lista. Quinto trabalho da banda, quarta colaboração com o produtor Daniel Ganjaman, o álbum é, de acordo com eles, a sequência de “O Futuro Não Demora”, lançado em 2019. Ou seja, discute a multiplicidade do assunto tempo/espaço e seus efeitos na cultura, sociedade e política. O mundo dá voltas pois a vida surpreende, ensina, às vezes te dá uma rasteira, confunde e depois te explica. A banda mesmo teve que dar um tempo com a pandemia, se reinventou com o projeto “OXEAXEEXU”, celebrou os dez anos de “Navio Pirata”, aprendeu a ser um acontecimento na música brasileira – banda grande e que arrasta multidão onde for. Precisavam fazer um disco à altura dessa responsabilidade.
Todo o “teen spirit” em sua mais pura forma produzido em Vila Velha, no Espírito Santo, terra do hardcore. Mas aqui com a faceta jovem do indie surf, às vezes veloz e pesado, às vezes pop e radiofônico. Primeiro disco desse quarteto capixaba sai neste primeiro semestre e promete, pelos singles que a gente conhece. Moçada boa!
“1997” é o futuro EP de Dadá Joãozinho, seu primeiro passo desde a estreia solo em 2023 com o excelente “Tds Bem Global”. E, pelo que dá para sacar em “100 anos”, segundo single do projeto, Dadá segue na missão de entortar as fronteiras que separam os gêneros musicais ao passo que sempre radicaliza na poética, deixando suas letras cheias de simbolismos e mistérios.
11 – Bem Gil – “Sobe a Maré” (com Domênico Lancellotti) (5)
12 – Thiago França e Rodrigo Brandão – “Young Lion” com Sthe Araújo e Edgar (6)
13 – Tasha & Tracie, Emcee Lê – “Randandan” com Delli Beatz (7)
14 – B.art – “Nêgo/Correnteza” (8)
15 – DADÁ JOÃOZINHO – “OLHA PRA MIM” (COM RAÇA) (9)
16 – João Gomes e Gilberto Gil – “Palco” (10)
17 – Vitor Milagres – “Um Barato” (11)
18 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (12)
19 – Negro Leo – “Me Ensina a Te Castigar” (13)
20 – Tássia Reis – “Sol Maior” (14)
21 – Maria Beraldo – “Colinho” (15)
22 – Thalin, VCR Slim e Cravinhos… – “Todo Tempo do Mundo” (16)
23 – Supervão – “Androids” (17)
24 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (18)
25 – Paira – “O Fio” (19)
26 – Dora Morelenbaum – “Venha Comigo” (20)
27 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (21)
28 – Hoovaranas – “Fuga” (22)
29 – Luiza Brina – “Oração 18 (Pra Viver Junto)” (23)
30 – Exclusive Os Cabides – “AAAAAAAAA” (24)
31 – Sofia Freire – “Autofagia” (25)
32 – Curumin – “Só para no Paraibuna” com Nellê (26)
33 – Jean Tassy e Don L – “Dias Melhores” (com Iuri Rio Branco) (27)
34 – Crizin da Z.O. – “Acelerado” (28)
35 – Papisa – “Melhor Assim” (29)
36 – Caxtrinho – “Cria de Bel” (30)
37 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (31)
38 – Tuyo – “Devagar” (32)
39 – Rodrigo Campos – “Amar à Distância” (33)
40 – Varanda – “Vida Pacata” (34)
41 – Boogarins – “Corpo Asa” (35)
42 – Batata Boy – “Novas Rotinas” (com Vitor Milagres) (36)
43 – Mu540 – “DZ7” (com Garimpos) (37)
44 – Slipmami – “Eles são Fracos” (38)
45 – Malu Maria – “A Língua Trava” (39)
46 – Giovani Cidreira – “Feira do Rolo” (com VANDAL) (40)
47 – Mundo Video – “Perto da Praia” (41)
48 – Nina Maia – “INTEIRA” (42)
49 – Karina Buhr – “Poeira da Luz” (44)
50 – Adorável Clichê – “Amarga” (45)
***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o cantor e produtor baiano Rei Lacoste, em foto de Tâmara Lyra.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.