
Samba esquema noise. Pelo menos na nossa lista desta semana, o encontro proposto pelo Mundo Livre aconteceu no pódio. De um lado, o samba novo clássico de Douglas Germano. Do outro, a barulheira roqueira em bom português do Eliminadorzinho. Mundos tão diferente entre si, mas que se encontram em um desejo simples: eles querem que cantemos junto com eles. Vamos?

Existem resenhas e resenhas. Em 13 de setembro de 2016, Luiz Antônio Simas postou no Facebook a sua sobre o álbum “Golpe de Vista”, lançado por Douglas Germano naquele ano. “Ouro escondido na lama/ acorde que arde/ vida ferida de morte pela bola sete: Arte” eram alguns dos versos onde o escritor tentava mimetizar seu arrebatamento pelo que chamou de “melhor CD de 2016”. A resenha virou letra de uma parceria entre os dois e ganhou o nome de “Tudo É Samba”, um dos destaques do que pode ser o melhor CD (!) de 2025, “Branco”, o novo do Douglas Germano. No álbum, Luiz ainda vem com mais duas parcerias com Douglas: “Xaxará” e “Desbancando Gordon Banks”, uma ode ao golaço de Jairzinho no apertado 1×0 que o Brasil arrancou da Inglaterra na Copa de 1970 – um samba de futebol bem do buarqueano, verdadeiro replay em poesia. “Vamos lá, gente!”, pede Douglas ao coro e ao ouvinte um apoio na voz. Cantemos juntos..
Eliminadorzinho é muito mais que uma sacada esperta para homenagear “Eliminator Jr.”, da histórica banda indie noise Sonic Youth. É um nome manifesto. É o trio formado por Gabri Eliott, João Haddad e Tiago Schützer avisando que fará seu rock barulheira em bom português. Se a maioria da turma brasileira que bebeu de Sonic Youth, Pavement, Dinosaur Jr e cia. ficou mais no inglês mesmo, como se a guitarra mega distorcida só falasse bem com o idioma estrangeiro, a banda paulistana vai fazer sua dissonância cair bem em cenas muito nossas. Ou vc já viu o Thurston Moore falando algo parecido com “Quando eu te vi no bar/ Descendo do 917H/ Com a sua saia de crente/ Igual os meus parentes/ Não pude parar de te olhar”? Lógico que não. E igual ao Douglas aí em cima, em uma das canções do disco que a banda também convida a gente para cantar junto com eles. É muita coincidência, hein? Esta “Você Me Deixa Coisado” é uma “bonus track” do espertíssimo recém-lançado álbum “Eternamente,”, do Eliminadorzinho. Se esta é a “faixa extra”, imagina as outras 14 do disco…
O encontro entre os rappers Rodrigo Ogi e niLL estava escrito nas estrelas – ou nas páginas de um gibi. Melhor ainda: certamente em um pixo por aí. Vindos de gerações e lugares diferentes, eles tinham em comum a habilidade de comunicação absurda, ambos são podcasters dos bons, e uma nerdice incurável: niLL mais dos animes e Ogi mais do quadrinhos. Em comum, eles também encontraram o desejo de dar um aviso para geral de que se as coisas não vão bem, e nunca foram muito bem mesmo, segue o jogo, tem trabalho a ser feito, vida a ser vivida – e bem vivida. Daí escreveram seu “Manual para Não Desaparecer”. Ambos responsáveis pela produção, chamaram os amigos para colaborar: Cravinhos (Maria Esmeralda), DJ Miya B, Munhoz (Professor M. Stereo), DJ Noveset, Ryan Beats, Sono TWS (Febre 90) e Tiago Ticana (guitarra). A mesma regra valeu para os feats: Jamés Ventura, Matéria Prima e Roberta Estrela D’Alva.
Jup do Bairro lança em outubro seu primeiro álbum de estúdio, “Juízo Final”. Ainda sem revelar suas pretensões, o primeiro single é a melancólica “A Gente Vive Menos Que uma Sacola Plástica”. Apresentando sua amplitude vocal, indo de um grave estourado propositalmente a uma fala tão suave quanto firme, Jup pensa em voz alta sobre o mundo desejado e o fim do mundo estabelecido. Ou não estaria tão estabelecido assim? “Soa um retrato do que muitas vezes sentimos em relação aos rumos do mundo: um desenredo que beira o inevitável, mas que não é impossível de se reagir sobre”, escreveu a artista. Ao brincar com os múltiplos sentidos da palavra menos, Jup estabelece: podemos viver menos tempo que as sacolas plásticas, mas nossa existência não precisa nem deve ser menor por isso ou porque alguém nos Estados Unidos mandou.
Apesar dos boatos de que vivem “no porão de Roberta Martinelli”, o Vanguart está muito bem e soltinho pelo Brasil após um período onde seu destino parecia incerto. Os anos de Bolsonaro e da pandemia pareciam ter colocado um freio no grupo. Após o excelente “Beijo Estranho”, de 2017, o grupo pouco trabalhou seu álbum duplo pandêmico e lidou com uma reforma na formação, firmada agora na dupla Hélio Flanders e Reginaldo Lincoln. Do longo hiato, as coisas foram se restabelecendo na estrada. Show após show. Firmes e fortes, parece ser a hora de pensar em álbum novo. Pelo menos é essa história contada em dois fortes singles ao redor de trens e estações: “A Vida É um Trem Cheio de Gente Dizendo Adeus” e “Estação Liberdade”.
Sessa, aka Sérgio Sayeg, virou pai. Isso talvez explique o nome do seu terceiro álbum de estúdio: “Pequena Vertigem de Amor”. De olho no amor cotidiano, aquele que se renova a cada 24 horas, Sessa mira também numa esperança a longo prazo. “Vale a Pena”, por exemplo, funciona como a carta ou e-mail ou zap de um velho amigo enchendo a gente de energia com uma mensagem calorosa: “Vale a pena/ viver vale a pena/ estou com vocês”. Quando a madrugada se desfaz, os primeiros brilhos dão nova dimensão à vida. Sessa sabe disso e colocou esse sentimento em um som. Atenção redobrada na cama de graves armada por Biel Basile na bateria e Marcelo Cabral no baixo, uma das melhores dobradinhas possíveis na cozinha de qualquer um. “Pequena Vertigem de Amor” sai no dia 7 de novembro.
O convite de Tori não esconde os riscos: “Não sei se dou pé/ Mas venha”. Se o assunto é quente, o risco é queimar. Ou se afogar, para ficar na metáfora da música. Tori explora a ilha como uma descoberta, um refúgio para o náufrago, um novo relacionamento, mas aproveita a figura para falar também da solidão. “Pele com pele até que se revele.” Um dos detalhes mais legais da música é a bateria de Domenico Lancellotti, reconhecível no primeiro toque de vassourinha que ecoa até a voz de Tori tomar para si a canção. A produção da faixa é compartilhada entre os dois, que dividem espaço ainda com Francisca Barreto no violoncelo e Julia Guedes no piano. “Ilha Úmida” fará parte de “Areia e Voz”, segundo álbum da artista sergipana.
“Noise Meditation” é o quinto álbum da Bike, banda psicodélica de São José dos Campos que varou mundo em suas turnês internacionais. O título do álbum explica rapidamente o conceito: sem roteiro, a banda começou em ensaios uma busca por ruídos e drones atrás de formar trilhas de meditação barulhentas. As letras seguem a mesma ideia, curtas para funcionarem como mantras. Com as canções formatadas, o trabalho em estúdio durou um dia! Trampo sério. “Essência Real”, o encerramento do álbum, é um bom resumo do conceitão.
Já falamos isso uma vez, mas vale repetir. Mais legal que a Gab Ferreira cantando em inglês só a Gab Ferreira cantando em bom português! É o caso de “Seu Olhar”, o último single antes do lançamento de “Carrossel”, seu próximo álbum. Embebida em nostalgia anos 90, concordamos com Gab, ela chamou o som de próxima “trilha sonora de todas as minhas roadtrips de verão”.
O que o Fleezus e o Dráuzio Varella têm em comum? Acha improvável alguma semelhança? Perdeu. Os dois são viciados em corrida e ambos definem a experiência como modificadoras em suas vidas. Dráuzio dedicou um livro ao correr, Fleezus dedica uma música. “O pace de malandro nada mais é do que o autocuidado e a correria do dia-a-dia nas ruas da cidade”. A faixa estará no próximo álbum do rapper, previsto para outubro.
11 – Supla – “Queixo Novo” (6)
12 – Valentim Frateschi – “Mau Contato” (com Sophia Chablau) (7)
13 – Chico Chico – “Vila do Sossego” (8)
14 – Soulfly – “Storm the Gates” (9)
15 – Chico César – “Breu” (10)
16 – Supervão – “Love e Vício Em Sunshine (Ao Vivo)” (11)
17 – Bella e o Olmo da Bruxa – “Deus, Gay” (12)
18 – Urias – “DEUS” (com Criolo) (13)
19 – Felipe Cordeiro – “Vem, Love” – com Otto e Duda Brack (15)
20 – Pelados – “Whatsapp 2” (16)
21 – Nina Maia – “Manha” (17)
22 – Janine Mathias – “Um Minuto” (18)
23 – Paira – “Ao Mar” (19)
24– Rogério Skylab – “Mão no Pau” (20)
25 – Mateus Fazeno Rock – “O Braseiro e as Estrelas” (21)
26 – Joca – “BADU & 3000” (com Ebony) (24)
27 – Marabu – “Rubato” (25)
28 – Crizin da Z.O. – “Fatal” (com Edgar) (26)
29 – Rico Dalasam – “Dilema” (28)
30 – Don L – “Iminência Parda” (29)
31 – Lupe de Lupe – “Vermelho (Seus Olhos Brilhanto Violentamente Sob os Meus)” (30)
32 – Luedji Luna – “Bonita” (com Alaíde Costa e Kato Change) (31)
33 – Zé Ibarra – “Segredo” (33)
34 – Jadsa – “Samba pra Juçara” (34)
35 – Mateus Aleluia – “No Amor Não Mando” (35)
36 – Antropoceno – “Queda do Céu” (36)
37 – clara bicho – “Meu Quarto” (37)
38 – Stefanie – “Fugir Não Adianta” (com Mahmundi) (38)
39 – Maré Tardia – “Ian Curtis” (39)
40 – Vera Fischer Era Clubber – “Lololove U” (40)
41 – Josyara – “Eu Gosto Assim” (41)
42 – Rael – “Onda (Citação A Onda) (com Mano Brown e Dom Filó) (42)
43 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (43)
44 – Terraplana – “Todo Dia” (44)
45 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (45)
46 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (46)
47 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (47)
48 – Gabriel Ventura – “Fogos” (48)
49 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (49)
50 – BK – “Só Quero Ver” (50)
***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, .
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.