A semana do Carnaval tá aí. E quem sabe os caminhos da festa já está na folia há algum tempo – fora outros que sabem fazer da data seu modo de vida para o ano todo. Sendo assim, faz todo sentido que Pabllo Vittar lidere o ranking desta semana, tranquila na vanguarda do pop brasileiro. Ela entende da festa e puxa o bloco de mais uma semana de bons lançamentos.
Em “Noitada”, seu curtíssimo novo álbum, Pabllo Vittar mostra que continua na dianteira da música pop brasileira ao não ter medo de pensar seu som sempre a partir do Brasil. Os gringos que corram atrás dela. E, se em “Batidão Tropical” Pabllo buscou a referência em suas raízes musicais da adolescência, a investigação da vez passa pelos sons que tocam pelas madrugadas do país – do Soundcloud made in Rio do DJ RaMeMes ao pagodão da Bahia por d’O Kannalha, entre outras vertentes. Você nunca ouviu a Anitta tão “fritada” quanto na maluca “Balinha de Coração”. É a vida adulta tomando forma – livre, leve e soltíssima na balada . Se permitir, experimentar e ousar são alguns do verbos que cabem nas letras, que não temem apelar para os duplo sentidos sacanas capazes de corar qualquer puritano. “É culpa do cu-pido”, afinal.
No Instagram do cearense Mateus Fazeno Rock, uma fã chamada Luana comentou sobre “Melô da Aparecida”, novo single do artista: “Incrível como tu consegue colocar as sutilezas da vida de quem mora em periferia na letra, de uma forma que fica extremamente emocionante de ouvir. Aquele rock que te representa (…) Às vezes a gente até gosta de rock e não sabia, só não se identificava com branco classe média”. Não tem descrição melhor para o trabalho de Mateus. Como ele mesmo explica, neste som a tentativa é contar a história de crianças pelas ruas de Sapiranga, periferia de Fortaleza. “A faixa fala sobre as relações da infância com alguns cotidianos violentos, a construção da noção do que é ser um menino na favela. Mas não é storytelling linear, é um emaranhado”. Para desenlaçar, recomendamos repetidos plays. Mateus sabe o que está fazeno.
Tagua Tagua, projeto solo do compositor e produtor gaúcho Felipe Puperi (ex-Wannabe Jalva), chega agora em março ao seu segundo álbum, que vai ler o nome de “Tanto”. A ideia de Felipe no novo álbum é explorar novos caminhos, indo um pouco além do que se aventurou no já muito bom “Inteiro Metade”, lançado em 2020. Saem as cores mais vibrantes do primeiro trabalho e fica uma clima mais azul, como um fim de tarde que esfria uma tarde quente. É como se Felipe rumasse para dentro da noite, mas otimista, em movimento. E isso é o que vale. Deixar “pra trás” o que já passou – seja bom ou ruim, já passou.
Muita atenção para o nome de Nina Maia. A jovem de 19 anos, que já vem impressionando muita gente boa em suas apresentações pelas noites da capital paulista, segue com seus primeiros passos pelas plataformas de streaming. A delicada “Gosto Meio Doce”, que ela divide com a cantora e cellista e amiga Chica Barreto, outro talento jovem, é a estreia oficial dessa jornada dela, que logo terá lançamentos próprios, em músicas que pode trazer composições que ela rascunha desde os 12 anos de idade. No caso dessa dupla de “Gosto Meio Doce”, em particular, vale dizer, que elas se apresentam em breve na Blue Note, em São Paulo, no próximo dia 23. Se na cidade, vá. Essas meninas são especiais.
São muitas as filosofadas geniais e originais do Chico César, mas também fica divertido e superoriginal quando ele apela para um bordão popular para dar o recado sobre soltarmos um pouquinho o freio de mão que parece atrasar a vida. Ligue o foda-se, oras. Um bom casamento de Chico com o DJ e produtor Keoma, que dá uma pressão de pista para a track.
Já elogiamos muito por aqui o rapper Sant, cria da zona norte do Rio de Janeiro. Ele e seu rap dos novos bandidos é das coisas mais quentes e viciantes do momento. Sua primeira música de 2023 faz reverência a Gal e Djavan no sample e tem uma construção narrativa que levanta cenas dignas de um bom filme de ação. Ao mesmo tempo puxa uma sagaz reflexão sobre a relação do desamparo social com a violência – “Com qual balança equilibra o pesar? E são quantas penas para fazer valer? Se qualquer coisa que der pra ganhar vai ser muito mais do que eu tenho a perder” é uma sequência de versos que nasce clássica. Vale sacar o vídeo com direção de outro sempre magistral, João Wainer.
Como era o mundo antes da dominação dos algoritmos e das telas por todos os cantos? No segundo single que antecipa seu segundo álbum solo, Gustavo Bertoni coloca frente a frente tempos corrompidos e confusos diante da inocência da infância. Tempo que voa distraído contra o tempo que passa lentamente. O arranjo da canção, que vai entregando aos poucos diversas camadas, dialoga com a letra que só parece sutil na crítica. E é bem isso, se na banda Scalene Gustavo entrega um som direto e reto, em sua levada solo ela vem em muitas camadas a serem descobertas.
A gente não sabia que precisava tanto escutar o Tim Bernardes cantando um lado B da Rita Lee até escutar o Tim cantando esse lado B da Rita Lee. “Modinha” é uma música muito especial que estava meio de canto no álbum “Babilônia”. Tim pegou a peça, tirou algum pó, lixou arestas e lustrou até o brilho cegar. Uma cançao sobre buscar alguma paz. E ele postou essa justamente no aniversário de São Paulo. Todo paulistano entendeu o recado.
Talvez o nome Danilo Cutrim não te ligue à pessoa imediatamente. É bem verdade que nem o próprio Danilo curtia muito o próprio nome – esse gosto é coisa recente. E tem a ver com o início de sua carreira solo. Você deve conhecer Danilo através de suas bandas famosas – Forfun e BRAZA – e agora ele se reapresenta, um tanto para nós e um tanto para si mesmo. “Azul” é um álbum formado por encontros ao longo de dois anos. Como ele diz, um álbum orgânico, feito sem pressa, artesanal. E sua sonoridade final tem o tom de sua feitura, um refresco musical para verões quentes.
“Regra 34” é o nome do premiado filme de Julia Murat, onde uma jovem advogada também trabalha como cam-girl, abrindo uma ampla discussão sobre violência e erotismo. Na trilha, cuidada junto com Lucas Marcier, Maria Beraldo apresenta inéditas como “Truco”, que faz uma sinopse melhor do filme do que nossa breve tentativa. Observe a letra. Vá ver o filme nos cinemas.
11 – Jonathan Ferr – “Preterida” (6)
12 – Mu540 – “Jatada Nostálgica Automotiva” (7)
13 – Jup do Bairro – JUP ME” (8)
14 – Betina – “O Coração Batendo no Corpo Todo” (com Luiza Lian) (9)
15 – Terraplana – “Conversas” (10)
16 – Karen Jonz e CSS – “Coocoocrazy (com CSS) (11)
17 – 2DE1 – “Sin Perder La Ternura Jamás” (12)
18 – Sara Não Tem Nome – “Agora” (13)
19 – Lucas Santtana – “O Paraíso” (14)
20 – ÀIYÉ – “Onda” (15)
21 – Letrux – “Esse Filme Que Passou Foi Bom” (16)
22 – Marcelo D2 – “POVO . DE . FÉ” (17)
23 – Lurdez da Luz – “Devastada” (18)
24 – Kamau – “DoisTrês” (19)
25 – Anelis Assumpção – “Rasta” (com Mahmundi) (20)
26 – Funmilayo Afrobeat Orquestra – “Wikipreta” (com Monna Brutal) (21)
27 – TUM – “Polychrome” (22)
28 – JP – “Arroz de Polvo (com Holger)” (23)
29 – Wry – “Carta às Moscas” (24)
30 – Tássia Reis – “Rude” (25)
31 – Der Baum – “I Got a Soul” (26)
32 – Marina Gasolina – “Looking Through The K-Hole” (27)
33 – Luedji Luna – “Blue” (28)
34 – Assucena – “Menino Pele Cor de Jambo” (29)
35 – Rincon Sapiência – “MAGIA” (com Menor MC) (30)
36 – Rashid – “Linha de Frente” (com Amiri e Don L) (31)
37 – Cidade Dormitório – “Aribé I” (32)
38 – BK – “Continuação de um Sonho” (33)
39 – Mundhumano – “Guerreiras Urbanas” (com Conceição e Flávia Carolina) (34)
40 – Sulamericana – “Dia Bom” (35)
41 – Gal Costa – “Baby” (36)
42 – Dozaj – “Parede Alta Vista Curta” (37)
43 – Tuyo – “Sonho Antigo” (38)
44 – Russo Passapusso, Antônio Carlos e Jocafi – “Aperta o Pé” (39)
45 – Sci Fi – “Sixteen” (40)
46 – Planet Hemp – “Taca Fogo” (41)
47 – VHOOR – “Balinha da Alegria” (42)
48 – Pato Fu – “A Besta” (43)
49 – Lucas Santtana – “Vamos Ficar na Terra” (44)
50 – Trupe Chá de Boldo- “Ouça Onça” (45)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora Pabllo Vittar.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.