Amigos novos e antigos nossos se encontram nesta semana no Top 50. Enquanto a jovem dupla Troá! se apresenta superinteressante e interessada em seu segundo álbum, um experiente D2 coloca um novo samba para sacudir a cena em geral. Enquanto isso, Mãeana ajuda o povo a entender que não tem mistério entre os diferentes JG – João Gilberto e João Gomes, e o Coruja BC1 segue pesquisando os sons do Brasil, mas desta vez com um olhar voltado mais para São Paulo. Deu bom! Mais uma semana deu bom na música brasileira.
Na capa de “Deboche”, Manuella Terra e Carolina Mathias repousam sobre lembranças de uma parceria de anos. A dupla que forma o Troá! se conhece há 12 anos anos e já partilhou muitos “cacos, lembranças e trecos” que agora se acumulam na capa de seu segundo álbum. Consideradas relevações em 2019, pouco antes da pandemia, Manu e Carol escrevem em “Deboche” muito sobre esse processo de maturação, que dá em um caldo diferente nas letras e na sonoridade proposta. Em alguns momentos, tudo soa pop e claro, em outros, tudo é mais sombrios e pirado. Um dos maiores méritos delas está no tom do papo das músicas, que muitas vezes soam como conversas de boas amigas. Ou seja: recheadas de segredos, piadas internas e outras coisas que só elas entendam. E aí que a mágica acontece: “Deboche” está longe de ser fechado em si, lembra mais um convite para gente se enturmar com elas, dividir uma cerveja, ouvir um som e entender um pouco mais disso que compartilhamos em comum seja lá o que for.
Na procura pela batida perfeita, o tempo parece ter contado para Marcelo D2 que a perfeição está na procura. Sábio que é, D2 não desperdiçou o conselho. Desde “AMAR é para os FORTES” lançado em 2018, Marcelo parece ter dado nova direção a carreira, mais consciente que cada proposta sua pode mudar a situação, em especial arriscando cada vez mais e abrindo mais e mais para a colaboração com uma vasta gama de artistas do passado, presente e futuro. Nessa aventura recente, “IBORU”, seu novo álbum, prova que o risco das novas busca vales a pena. Por aqui, D2 encontra um samba ao seu modo ao inverter a experiência que o rapper ajudou a popularizar. Agora não é rap com elementos de samba, agora é samba com aprendizados do rap. E uma mistura que parece rumar a um ponto de conexão que deixa cada vez mais difícil decifrar de onde veio o que – os fortes graves são mais rap ou são mais do surdo? É como se D2 buscasse decifrar o princípio de tudo, descobrir onde o rio começa. Como já foi dito, mais que encontrar o lance é a busca.
Vem aí “Néktar”, quarto álbum de estúdio de Ava Rocha. E se o papo é néctar, nada mais adequado que começar a jornada rumo ao novo álbum beijando geral, como boa abelha faz encantada pelo líquido produzido pelas flores. O astral da música está bem explicado pela própria Ava: “Uma música que fiz ninando minha filha durante a pandemia. Tinha que ser alto astral, imaginativa, sem medo de ser feliz, que manifestasse a poética da vida”.
Após uma bem sucedida exploração ao encontrar rap nas formas da soul music, samba e jazz em “Brasil Futurista”, Coruja BC1 em sua estreia pelo selo Kondzilla, popular por lançar os grandes nomes do funk, volta a apresentar um rap numa linha mais tradicional, que remete ao seu início de carreira sem deixar de lado a maturidade de sua pesquisa. “Continuo buscando mergulhar nesse Brasil, mas, especificamente, São Paulo. Faço uma imersão no DNA da sonoridade desse meu projeto misturando Drill/Funk Paulista”, escreve Coruja. Então, já sabe. É um bom beat e punhado de versos criando mil pontes a partir de um milhão de ideias. Coruja classic.
“mãeana canta JG” é um espetáculo da cantora une ao seu modo os repertórios de João Gomes e João Gilberto, uma misturada que ficou apelidada de “pisa nova”. A ponte que poderia ser inusitada para muitos, na real faz todo o sentido. Em especial pelo diálogo entre as duas obras imposto por mãeana. A ideia bacana ganhou sua primeira gravação em um pequeno single duplo onde ela apresenta as versões para João Gomes. Queremos mais.
O baiano Luisão Pereira, que fez parte da banda Penélope, tem em mãos um discaço solo. Mas muito mais que isso. Seu álbum “Fogo No Mar”, feito durante seu longo tratamento para se livrar de um câncer, marca justamente a passagem dessa fase complicada de sua vida. As canções escritas e gravadas durante o período versam sobre as dúvidas e certezas que surgem nesse momento de, inclusive, refletir sobre tudo. Há dor e a luz. E há sutileza, respeito e agradecimento para Xangô, como na doce “Licença”, cantada com Lívia Nery.
Nós somos tão fãs da genial Bebé que estamos de olho em tudo o que ela faz. A novidade foi ela aparecer ao lado de Alceu (@santoalceu) em um single de dadá Joãozinho, trabalho que anuncia o primeiro disco solo dele. O jovem artista de Niterói vai lançar seu disco por um selo gringo e já deu ideia de seu som novo até na BBC! Quente, hein. Cuidado! O bagulho é real.
Pegue duas jovens artistas da CENA e coloque numa sala para bolar umas músicas do zero. O que sai dali? As amigas YMA e Jadsa, apaixonadas uma pelo trabalho da outra, testaram essa fórmula em “Zelena”, EP construído em conjunto pelas autoras. Feito durante a pandemia, entre ligações, o disco mesmo foi todo arranjado na hora de gravar, com os timbres saindo do zero, inclusive para um cover de Tom Zé. Para quem já é apaixonado por uma das duas, vai na fé. Para quem não conhece ainda YMA e Jadsa, corre. Está marcando bobeira.
Xis chega pesadão com scratchs do melhor DJ do Brasil, o racional KL Jay. “Isnaipa” é produzida pelo próprio Xis com André Abujamra, beat de DJ Nato PK e arranjo de metais de Willbone. A música fala de São Paulo, em especial seu centro. De acordo com Xis, foi escrita em 2016, em dias quentes de outono, com o golpe contra Dilma se avizinhando – em 2023, tem seus sentidos amplificados com o aumento da degradação e descaso público com o centro de SP. A faixa também anuncia “Invisível Azul”, novo álbum do rapper. No clima quente, Xis soa nada frio. Sempre firme e forte.
A Rosalía não lançou nestes dias um EP com seu par romântico? Tasha e Tracie chegaram numa vibe parecida com os namos Kyan e Gregory em “Ying Yang”. EPzinho lançado no Dias dos Namorados e tudo, para marcar a data. O papo é que este som já é um esquenta para o novo disco delas e funciona como tiração de onda de casais celebrando a união, grana no bolso e um diazinho de rolê. Tanto que Tasha e Tracie descrevem o processo de feitura do disquinho como um reencontro delas com alguma paz para criar, após momentos de dúvida. Tendo os parceiros ao lado, a coisa se desenrolou e as meninas, que cogitaram abandonar a música, parecem prontas para novas aventuras.
11 – Terno Rei – “Esperando Você” (1)
12 – Ítallo – “Tarde no Walkiria” (7)
13 – Clarice Falcão – “Chorar na Boate” (8)
14 – Ruadois – “Sprint” (9)
15 – Gustavo Bertoni – “Crystals” (10)
16 – Anttónia – “Me Leva” (com Giovani Cidreira) (12)
17 – Dj RaMeMes – “Vamo Fuder” (13)
18 – Zé Ibarra – “Vou Me Embora” (14)
19 – Rincon Sapiência – “XONA” (16)
20 – TUM – “DTF” (17)
21 – L’homme Statue – “Espírito Livre” (18)
22 – ÀTTØØXXÁ – “Dejavú” (com Liniker) (19)
23 – Holger – “Domingo de Sol” (20)
24 – Drvnk – “Leaving Downtown” (21)
25 – Viratempo – “Te Quiero” (22)
26 – Mahmundi – “Meu Amor – Reprise” (23)
27 – BIKE – “Além-Ambiente” (24)
28 – Volver – “Volver de Novo” (25)
29 – Majur – “Tudo ou Nada” (26)
30 – Jards Macalé e Maria Bethânia – “Mistérios do Nosso Amor” (27)
31 – Marina Sena – “Meu Paraíso Sou Eu” (28)
32 – Mateus Fazeno Rock – “Indigno Love” (com Brisa Flow) (29)
33 – Lirinha – “O Campo É o Corpo” (30)
34 – Edgar e Nelson D – “”Três Palavras” (31)
35 – Domenico Lancelotti – “Quem Samba” (32)
36 – Giovanna Moraes – “Fala Na Cara” (33)
37 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Que Meus Venenos Sejam Mel)” (34)
38 – Julia Mestre – “do do u” (35)
39 – Aláfia – “Cadê Meu Pai?” (36)
40 – Os Tincoãs – “Oiá Pepê Oia Bá” (37)
41 – Iara Rennó – “Iemanjá” (39)
42 – Juliano Gauche – “Ondas Que Acordam” (40)
43 – Pato Fu – “Fique Onde Eu Possa Te Ver” (41)
44 – Emicida e Chico Buarque – “Senzala e Favela” (42)
45 – Rei Lacoste – “Pareando” (com Dunna) (43)
46 – Gio – “Dois Lados” (com Russo Passapusso e Melly) (44)
47 – Sant – “SSA” (com Luedji Luna e VANDAL) (45)
48 – Gab Ferreira – “Forbidden Fruit” (46)
49 – Jambu – “Caso Sério” (47)
50 – Terraplana – “Me Encontrar” (48)
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* Na vinheta do Top 50, a dupla Troá!
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.