Top 50 chegando atrasado, mas lotado de boas músicas e variadas em época agitada de Copa do Mundo. Vamo que vamo que o primeiro lugar da CENA brasileira tem música em inglês. Top globa isso, não?
Marina Gasolina, ex-Bonde do Rolê, ex-Madrid, saiu finalmente do buraco existencial e químico em que se encontrava. E de lá trouxe o segundo disco que lança com seu nome, sozinha, depois de muito tempo. Como quem se recupera de tudo, recupera a vida. É em inglês, ousando cravar este primeiro lugar num ranking bem brasileiro, desta CENA. Mas CENA esta que comporta a façanha, principalmente por que o disco é um primor, rico, cheio de camada e todos os graus de desesperos nos vocais. Do quase tranquilo ao assombrado. É uma música melhor que a outra. E, sendo assim, vamos logo ficando com a primeira delas, a que abre o disco e fala exatamente desse buraco.
A versão deluxe de “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água” traz dez faixas inéditas. É quase um novo álbum, pelo número de novidades e ainda mais pela pegada diferente das canções. Uma coleção de lados B com cara de lado A+++. Luedji apostou em letras mais diretas e um som com uma pegada levemente mais puxada para o neo-soul. A temática dos álbuns é a mesma, mas esta “puxada” nova é menos introspectiva, talvez. Provando que é possível mudar sem mudar, sabe? Inclusive, são músicas que fazem a gente voltar as músicas do álbum anterior com outros ouvidos, percebendo novas leituras. Se perca em “Blue”, com seu grave que que chega de surpresa em uma dinâmica de idas e vindas. É o repeat da semana. Discaço.
Tem tempo que estamos ansiosos pelo primeiro álbum solo da Assucena. Esse ano ela chegou com um primeiro single solo, depois lançou uma versão maravilhosa de uma canção da Elis Regina e agora dá a primeira pista do esperado disco. “Menino Pele Cor De Jambo” é uma canção puxada pela cuíca e pela escrita particular de Assucena – é difícil explicar, mas ela tem um modo de colocar as palavras tão seu que você identifica na hora a autoria. Uma canção para dançar na rua, pura alegria.
“Uva Niágara” é a primeira pista que Anelis dá do que será seu quarto álbum, “Sal”, projeto que vem sendo construído a partir de um financiamento coletivo. Coletivo que está presente na canção – em seu Instagram, Anelis fez questão de agradecer a cada nome envolvido na construção que faz uma música ir da mente dos seus autores para a rua. Em uma faixa sobre a solidão da mulher negra, a solução se apresenta – é juntos que se constrói o novo possível. Ou existe uva que não veio de um coletivo?
Não é de hoje que o rapper Rincon Sapiência coloca para conversar o rap e o funk, gêneros próximo que meio que brigaram por um tempo e que andam se reaproximando. Mas o single “MAGIA” parece avançar ao ponto de chegar a um terceiro elemento, talvez ainda sem nome, naquele ponto da fusão onde você já não sabe mais quem contribuiu com o quê exatamente. Mistura boa e que deixa todo mundo na expectativa pelo terceiro álbum do Rincon, que deve chegar ano que vem – já é 2023 na música brasileira.
Em seu novo álbum, Rashid apresenta um sonho seu. Literalmente. E isso nem é spoiler nosso, afinal o nome do disco é “Movimento Rápido dos Olhos”. Nessa aventura de samurais em um mundo meio “Bacurau”, como o próprio rapper define, a ideia de vingança é reconstruída – falar mais que isso aí seria spoiler. Chovem múltiplas referências. Rashid chega abrindo portas, dando dicas. Umas são cifradas, outras estão na cara. Escute o disco completo. É até meio errado se adiantar por aqui indicando um som que está lá no fim do álbum, mas a participação dos rappers Amiri e Don L impressiona. Mas, se não tiver tanto tem assim, cola neste som.
Se tem um campo da música brasileira que não costuma decepcionar, esse campo é da psicodelia – uma área onde damos aula para o mundo, sério. E, nessa turma boa, a dupla Cidade Dormitório, formada por Yves Deluc (guitarra e voz) e Fábio Aricawa (bateria e voz), chega ao seu segundo álbum, “RUÍNA ou O Começo Me Distrai”, com autoridade. O som deles não se limita a esse rótulo psicodélico, mas os melhores momentos do disco se dão nessas viagens, nas ideias tortas, nas músicas bem mais longas do que o mundo pede hoje. A gente ama.
É bonito o jeito que o rapper BK quebra meio sem querer a palavra “continuação” neste som. Intencional ou não, prova que o novo álbum, “ICARUS”, está em “contínua ação” e avança ainda mais na capacidade de letras originais, novas sacadas e produção esperta do parceiro JXNV$. Outra que promete virar é a “Se Eu Não Lembrar”, que aborda de um jeito interessante a questão da fama e dos caminhos possíveis para um artista em tempos vorazes – a voz da Marina Sena que pinta no refrão e oferece uma camada para o beat é nota 10.
Nem só de sertanejo vive Goiânia. É de lá que sai o potente trabalho da banda Mundhumano. “Música preta brasileira, da diáspora afrolatinamérica, pesquisa sonora organizada em arranjos e ritmos para vestir a música com a melhor roupa” é a maneira que a turma se apresenta. E é preciso poucos segundos para ver que o trabalho está superbem-feito. Música contagiante. Para dançar.
Quem não acredita que é possível fazer um rock simpático e inteligente precisa dar uma sacada no grupo Sulamericana. Vai cair no gosto de quem ama Terno Rei, por exemplo. Um pouquinho do sol cearense, terra da banda, nunca faz mal. Se a gente não tá lá, que seja iluminado pela música.
11 – Gal Costa – “Baby” (6)
12 – Gal Costa – “Nuvem Negra” (7)
13 – Gal Costa – “Mal Secreto” (8)
14 – Dozaj – “Parede Alta Vista Curta” (9)
15 – Tuyo – “Sonho Antigo” (10)
16 – Russo Passapusso, Antônio Carlos e Jocafi – “Aperta o Pé” (11)
17 – Sci Fi – “Sixteen” (12)
18 – Planet Hemp – “Taca Fogo” (13)
19 – VHOOR – “Balinha da Alegria” (14)
20 – Pato Fu – “A Besta” (15)
21 – Lucas Santtana – “Vamos Ficar na Terra” (16)
22 – Trupe Chá de Boldo- “Ouça Onça” (18)
23 – Gab Ferreira – “Laughing” (19)
24 – Joy Sales – “Signos Fincados” (20)
25 – Far from Alaska – “Olha (com Lenine)” (21)
26 – Wry – “Contramão” (22)
27 – Djonga – “Até Sua Alma (com Tasha e Tracie) (23)
28 – Number Teddie – “Poderia Ser Pior” (24)
29 – Mestre Môa do Katendê – “Veía Coló (com Edgar e BNegão)” (25)
30 – Janu – “Vey” (26)
31 – ÀVUÀ – “Bentivi” (27)
32 – Xênia França – “Ânimus × Anima (com Arthur Verocai)” (28)
33 – Giovanna Moraes – “Caixa de Pandora” (29)
34 – Do Amor – “Nefelibata” (30)
35 – Jup do Bairro – “Pelo Amor de Deize” (31) (com Deize Tigrona)
36 – Deize Tigrona – “Sururu das Meninas” (32)
37 – Luedji Luna – “Nova Deli” (com Oddisee) (33)
38 – Tulipa Ruiz – “Novelos” (34)
39 – Cecília Cecilina – “O Canto dos Sapos” (35)
40 – Vanguart – “Oceano Rubi” (36)
41 – Chico César – “Bolsominions” (37)
42 – Marina Gasolina – “Struck” (38)
43 – Spainy e Emicida – “Rap Pagode” (39)
44 – Vírus – “Foice Facão e Peixera” (com EVYLiN e Urias) (40)
45 – Criolo – “Charlie Brown” (41)
46 – Ubunto e Nara Gil – “Abafabanca” (42)
47 – Tim Bernardes – “A Balada de Tim Bernardes” (43)
48 – Rashid – “Não Sabem de Nada” (44)
49 – Ombu – “Pare” (45)
50 – Jonathan Ferr – “Lá Fora” (com Coruja BC1, Zudzilla, Lossio) (46)
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, Marina Gasolina, em foto de Natasha Durski.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.