Estamos com a sensação de que enquanto Maria Beraldo não lançar seu “Colinho” e for só antecipando single a single este álbum tão aguardando, será o nosso top 1 sempre. Mais uma canção apaixonante, sobre amor que corre livre pelo mato. Mas nem só de Maria vive nossa lista. Tem aí um cria de Belford Roxo, uma goiana, uma turma de São Paulo e outra de Minas e outro cara lá do Rio Grande do Sul.
Dia 29 de agosto. Dia da Visibilidade Lésbica. Dia de “Matagal”, novo single de Maria Beraldo para o seu “Colinho”, disco cheio que ela lança logo mais. Diferente da caótica “I Can’t Stand My Father Anymore”, “Matagal” é mais quieta, embora não seja menos torta nas melodias. O central da faixa é o grave, seja do baixo, seja da voz de Zélia Duncan, que faz o acompanhamento perfeito para a letra que fala da sorte de um amor tranquilo, sabor de fruta mordida, livre no meio do mato, tomando sol no rio. Como conta Maria, a faixa é sua canetada solar estando finalmente bem resolvida com sua sexualidade, após conflitos que renderam canções mais tensas. Oferece um calor, um abraço, enquanto o mundo segue lidando mal demais com diferentes formas de amar.
Atenção em Paulo Vitor Castro, o cria de Bel, Belford Roxo. Em “Queda Livre”, seu álbum de estreia, somos tomados de cara pela força do seu samba que abraça uma psicodelia roqueira sem medo. Caxtrinho cria uma nova fluência para sacudir qualquer pasmaceira na música brasileira. Olho no seu violão, que aqui é acompanhado por Eduardo Manso, João Lourenço, Phill Fernandes e Vovô Bebê – fora participações especiais de Ana Frango Elétrico, Negro Leo, Tori e uma lista imensa de amigos. Vale também atenção para sua lírica, que talvez fique de canto no caos sonoro, mas revela cristalina na leitura das letras – descreve cenários, personagens do seu dia a dia, faz a crítica que quase ninguém faz. Gostamos da explicação da jornalista Thaís Regina, que define Caxtrinho como cronista de nosso acelerado tempo que apresenta em álbum “com humor rasgado (…) a experiência vivida do negro no Brasil hoje”. “Cria de Bel” é um resumo bom dessa explicação, de tirar o fôlego e escutar repetidas vezes para entender o quadro pintado. Fino.
E, por falar em amor, Bruna Mendez também retrata uma paixão quente com metáforas de natureza para dar sustança e corpo ao sentimento. A deliciosa track, capaz de deixar Frank Ocean com inveja, tem produção da Bruna com Lucs Romero, que já despejou seu talento em produças da Fresno e da Tuyo. “Temporal”, que os fãs conhecem de 2022 quando Bruna apareceu no A COLORS SHOW, precede “Nem Tudo É Amor”, que será o terceiro álbum da artista goiana. Pode chegar feito temporal, Bruna.
Sai o verde brat, entra o verde-limão da turma paulista do Monstro Bom. Baita nome de banda, hein? O quarteto formado por Gabrielli Mota, Felipe Aranha, Ian Ferreira e Igor Beares faz um rock ao seu modo, que chamar de alternativo é pouco. Tem um tanto de influência de showgaze, indie rock, música brasileira – as letras deles, por exemplo, são um show à parte: criativas e viciantes no difícil encaixe do português com o rock. E Gabrieli e Felipe, as guitarras da banda, conversam entre si que só – delícia de acompanhar. “Monstro Bom” vai ficar na sua cabeça por dias, só dar o play… ♫ Eu sou um monstro bom ♫ …
Pronto para soltar umas lágrimas? Impossível não se emocionar com a nova do Sítio Rosa – coletivo artístico formado pelos músicos Jennifer Souza e Bernardo Bauer, e pelas artistas visuais Julia Baumfeld e Laura Lao. Igual o primeiro single deles, “Lhasa”, “Lua” também é sobre uma cachorrinha. Lua foi adotada por Jennifer em 2020 e cuidou de sua dona em um momento duro, pandemia + a perda de Benta, cachorrinha de Jennifer. E ainda tem a Fernanda Takai para mais carinho à já muito carinhosa letra de versos como “Minha jabuticaba/ Minha cocada preta/ Doce Lua pequena no quintal”. É muita fofura.
Por dica de Romulo Fróes, Afonso Antunes, integrante do Alpargatos, decidiu investir em um disco solo em vez de soltar um EP. Sorte a nossa que pelo visto teremos algo muito bom para ouvir em breve, como anuncia a nostálgica “Porto Alegre 12:30”. “A música, em mim, sempre foi vontade” conta Afonso. Olha aí a vontade da beleza. .
Olhe para as 50 músicas mais tocadas no Brasil hoje e conte nos dedos quantas passam dos três minutos. Em “Caju”, seu segundo trabalho solo, Liniker faz questão de enfileirar três músicas que ultrapassam sem medo os sete minutos – e estamos falando do disco mais pop na carreira da artista até aqui, sem dúvida, seu álbum que mais fez barulho. Qual é a mágica? Talvez a combinação de amor e coragem projetada pela compositora em cada canção, que parece ter falado ao coração das pessoas, como quem encontra o pedaço que falta de um intrincado quebra-cabeça. E entendemos perfeitamente os fãs que preenchem as redes sociais de diferentes tons de laranja-caju, também estamos de queixo caído com o balanço grave de “Me Ajude a Salvar os Domingos”. Alma música, saca?
No aquece para o lançamento do seu primeiro disco solo, que sai jájá em setembro, Sater revelou nesta semana o seu segundo single deste álbum de estreia longe da Terno Rei, sua banda lado A. “Quero Estar” traz referências noventistas mirando em Everything But the Girl, Elliot Smith e vem com vídeo fofo, gravado em míni-DV, que conta a historia de um casal, no caso ele e sua mulher, a criativa Thaís Jacoponi, num passeio por uma São Paulo ensolarada. Junto do single anterior, a linda “Ontem”, achamos que já dá para ter uma boa pista do que vem por aí nessa aguardada estreia.
Tássia Reis faz rap, mas tem uma história familiar com o samba. Foi através do samba que seus pais se conheceram, sendo de escolas rivais – sim, bem roteiro de cinema. Esta “Asfalto Selvagem” deve estar no próximo álbum e dialoga bem com “Ofício de Cantante”, outro single de samba de Tássia, este mais tradicional. Ambos recomendados.
Ainda no samba e sem deixar o ritmo cair, o sempre prolífico saxofonista Thiago França apresenta seu “Canhoto de Pé”. Disco solo que chega com uma capa espertíssima onde Thiago aparece com um cartaz promocional com seu nome. O artigo em promoção é sua música, trabalho mal remunerado pelas plataformas de streaming. Ah, chamamos de disco solo por convenção, o álbum é mais uma ação entre bons amigos, artigo que não está em falta para Thiago. Dos muitos que marcam presença aqui, tem Juçara Marçal, sua parceira de Metá Metá. Juntos oferecem “Dor Elegante”, obra musical da caríssima dupla Itamar Assumpção e Paulo Leminski.
11 – Milton Nascimento e Esperanza Spalding – “Cais” (7)
12 – Varanda – “Vida Pacata” (8)
13 – Curumin – “Paixão Faixa Preta” (9)
14 – Rashid – “Um Tom de Azul” com Péricles (10)
15 – Papangu – “Maracutaia” (11)
16 – Vitor Milagres – “Um Barato” (12)
17 – Dora Morelenbaum – “Caco” (13)
18 – Bebé, Rei Lacoste, Giovani Cidreira e Tangolo Mangos – “Sem Ódio na Pista” (14)
19 – Apeles – “Fragment” (17)
18 – Sant, Don L, Nill, Caio Passos e BPP Tan – “Coisas Que Se Resolvem na Porrada” (18)
20 – Siba – “Vaivem” (19)
21 – Jota Ghetto e Jamés Ventura – “Downtown” (com KL Jay) (20)
21 – Febem – “Abaixo do Radar” (com CESRV e Smile) (21)
23 – DJ Anderson do Paraíso – “Madrugada Fria” (22)
24 – Alaíde Costa – “Foi Só Porque Você Não Quis” (23)
25 – PLUMA – “Se Você Quiser” (24)
26 – Hoovaranas – “Fuga” (25)
27 – Exclusive os Cabides – “Coisas Estranhas” (26)
28 – Chico Bernardes – “Até Que Enfim” (27)
29 – TRAGO – “Porvir” (28)
30 – Samuel Rosa – “Não Tenha Dó” (29)
31 – Tontom – “Tontom Perigosa” (30)
32 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (31)
33 – Quartabê – “Eu Cheguei Lá” (32)
34 – Jup do Bairro – “Mulher do Fim do Mundo” (33)
35 – Paira – “Música Lenta” (34)
36 – Papisa – “Vai Passar” (35)
37 – Carlos do Complexo – “Sextos Sentidos” com Menor do Engenho e Marlon do Engenho (36)
38 – Antônio Neves – “Dinamite” (37)
39 – Hermeto Pascoal – “Passeando pelo Jardim” (38)
40 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (39)
41 – Julia Branco – “Baby Blue” (40)
42 – Taxidermia – “Clarão Azul” (42)
43 – Mirela Hazin – “Delírio” (43)
44 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (44)
45 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (45)
46 – Tuyo – “Devagar” (46)
47 – Irmãs de Pau – “Megatron” (47)
48 – Haroldo Bontempo – “Risada (com João Donato)” (48)
49 – Deize Tigrona – “25 de Abril (com Boogarins)” (49)
50 – Amaro Freitas – “Y’Y” (50)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora Maria Beraldo, em arte repeteco da semana passada.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.