Podemos falar que o disco da Letrux é tão intenso e certeiro que foi difícil pensar em mais alguma outra coisa nesta semana. Daí nossa maior dedicação em destrinchar um pouco essa girafa. Mas a semana teve mais outra coisas sim, como não?
Girafa era o apelido de Letícia Novaes na infância/adolescência por conta da altura. No começo, ela odiou, lógico. Depois começou a ver beleza no apelido. “Letrux Como Mulher Girafa”, seu novo disco, lançado na sexta, é seu momento de ressignificar e representar a tirada com seu corpo esguio. É Letrux enquanto bicho. E não somos todos animais, afinal? Em alguma coisa, a temática do terceiro álbum da carreira solo de Letícia encontra o Caetano Veloso de “Bicho”, álbum de 1977, onde o cantor coloca no centro das canções menos a mente e mais tripas e coração. Uma mudança no sentido de observar que a cultura ocidental separa por demais mente do resto do corpo e tende a ouvir demais a cabeça, como se ela fosse dona de alguma razão maior. Bobagem e cegueira. Essa reconfiguração e novo olhar acontecem com Letrux aqui. Dessa forma, sentimentos, fracassos e o próprio conceito de amor soam diferentes, mais bem resolvidos. Não é um clima pacífico – afinal, se não há pecado, não há de ter perdão. Mas tem bem menos climão, digamos. O verso “Embora não pareça, foi com amor que eu te destrinchei” resume melhor a ópera do que poderíamos tentar. Brilham também os interlúdios do álbum. São pedaços de músicas que ficaram pelo caminho. Na visão de Letícia, comunicar a trajetória ajuda na compreensão do todo. Ao mesmo tempo, essas metacanções expõem um lado pouco visto do processo da arte – mesmo com o excesso de exposição, “falhas” não costumam entrar na edição da vida online, por exemplo. Ao colocar os erros em jogo, o próprio conceito de erro fica à deriva. O que não pode ser chamado de canção?
Talvez aconteça na sua cidade. Aquele bairro que é baratinho e tal, que começa a ficar descolado, abre um restaurante legal, artista começa a morar lá. Em menos de cinco anos, ninguém mais que morava lá aguenta pagar o aluguel. Gentrificação. E sobe prédio, torre, condomínio e tudo mais. Esse é o assunto da nova música do tradicional grupo indie paulistano Garotas Suecas. A faixa fará parte de “1 2 3 4”, quarto álbum da turma, que tem previsão de lançamento para o dia 19 de julho. O som chega na voz de Irina Bertolucci, que é acompanhada por Fernando Perdido (Baixo e Voz), Nico Paoliello (Bateria e Voz) e Tomaz Paoliello (Guitarra e Voz). A letra é de Tomaz.
Em “Senzala e Favela”, álbum póstumo do baterista Wilson Das Neves, é Rodrigo Amarante que dá voz e violão para a bonita canção “O Que É Carnaval”, parceria de Das Neves com Cláudio Jorge. Não estranhe o encontro de diferentes gerações. Wilson e Rodrigo conviveram nos tempos da Orquestra Imperial. Os relatos são de que seu Wilson adorava andar com a turma mais jovem. No Instagram, o percussionista Stephane San Juan até lembrou uma tirada do baterista: “Aprendo muito com vocês, até o que não fazer”. Ô, sorte, seu Wilson.
E nossa duplinha favorita do momento, a união Jadsa e YMA, que nada tem a ver com aquele espírito meio maleta dos famosos encontros de festivais, resolveu apresentar um vídeo do seu novo trabalho. Uma superprodução indie meio bizarra com dois multiversos diferentes que se conectam por conta de um sonífero verde. Maluco e delicioso.
“OXUMARÉ”, da ÀIYÉ, está no Top 50 há muitas e muitas semanas. Parte de um dos nosso álbuns favoritos do ano, “Transes”, a música ganhou um remix fritado da Viridiana, que reparte a canção, acelera, desacelera, tira os beats do lugar e encontra algo novo. Por falar em encontro, fica a dica: tem ÀIYÉ no fim deste mês lá no Bar Alto. Hablamos.
Raffa Moreira pode ser incompreendido por muitos, mas é um nome bem querido por tantos outros. Seu melhor momento parece se apresentar no novo álbum, “Beleza Exótica”, que já acumula alguns hits, como a própria faixa-título e ainda “Fashion Nova” e “K2”. O que saltou aos ouvidos de cara foi o gentil verso: “Sem stress, é festa, eu escapei da pandemia então vou viver”. A pandemia que está tão perto de nós parece ressoar pouco nas músicas novas. Raff deu sua ideia sobre o feeling de ter passado pela tragédia e tirar um aprendizado. E se organizar bem para viver o futuro.
“Escuro Brilhante” é o próximo álbum do rapper Rico Dalasam. Um álbum que diz “Viva”, de acordo com ele, “o duro exercício de não aceitar qualquer coisa, e o gozo no tempo certo das colheitas mágicas de quem apesar de tudo não perdeu o critério.” Quem mais está nesse barco? E nessa recompensadora jornada existem os momentos de tomar foras no amor. E essa é a história do primeiro single que chega como abertura da nova fase, a doce “Espero Ainda”. Com produção de Dinho, LR beats, Mahal Pita e Chibatinha, Rico demonstra aqui que há possibilidades de rap com violão muito além do que ousaram imaginar até aqui.
FBC conquistou o mundo quase que literalmente com seu álbum “Baile”, lançado em 2021. Quem bailou bailou. Ou quase. É que agora o baile mudou de endereço e chega numa pegada de dance music e house – com direito a refrão saudando Olivia Newton-John e seu “Physical”. São as influências que FBC absorveu ao rumar seu som para as pistas e que devem ser mais expostas no seu próximo ato. Daqui a gente fica imaginando o que vem por aí. Já sabemos que no novo álbum tem feat. com o Don L, por exemplo. Deve ser quente.
“Eu queria não querer mais”, comenta misterioso o refrão do novo single do Holger, mais um som que marca a volta da banda após cinco anos de silêncio. Misteriosa também é a participação da Gab Ferreira pela faixa. Tente achar seu vocal. “Más Línguas”, novo álbum da banda, está previsto para julho pela Balaclava Records.
Na capa de “Deboche”, Manuella Terra e Carolina Mathias repousam sobre lembranças de uma parceria de anos. A dupla que forma o Troá! se conhece há 12 anos anos e já partilhou muitos “cacos, lembranças e trecos” que agora se acumulam na capa de seu segundo álbum. Consideradas relevações em 2019, pouco antes da pandemia, Manu e Carol escrevem em “Deboche” muito sobre esse processo de maturação, que dá em um caldo diferente nas letras e na sonoridade proposta. Em alguns momentos, tudo soa pop e claro, em outros, tudo é mais sombrios e pirado. Um dos maiores méritos delas está no tom do papo das músicas, que muitas vezes soam como conversas de boas amigas. Ou seja: recheadas de segredos, piadas internas e outras coisas que só elas entendam. E aí que a mágica acontece: “Deboche” está longe de ser fechado em si, lembra mais um convite para gente se enturmar com elas, dividir uma cerveja, ouvir um som e entender um pouco mais disso que compartilhamos em comum seja lá o que for.
11 – Marcelo D2 – “Tempo de Opinião” (com Metá Metá) (6)
12 – Ava Rocha – “Beijando Todos Vocês” (7)
13 – Tuyo – “Zero Coragem (Acústico)” (8)
14 – Coruja BC1 – “Versão Brasileira” (com FEBEM e MC Luanna) (9)
15 – Mãeana – “Meu Pedaço de Pecado” (10)
16 – Luisão Pereira – “Licença” (com Luíza Nery) (11)
17 – dadá Joãozinho, Alceu e Bebé – “Cuidado!” (12)
18 – Xis – “Isnaipa” (14)
19 – Tasha e Tracie com Kyan e Rapper Gregory – “Dia de Baile” (15)
20 – Ítallo – “Tarde no Walkiria” (17)
21 – Clarice Falcão – “Chorar na Boate” (18)
22 – Ruadois – “Sprint” (19)
23 – Gustavo Bertoni – “Crystals” (20)
24 – Anttónia – “Me Leva” (com Giovani Cidreira) (21)
25 – Dj RaMeMes – “Vamo Fuder” (22)
26 – Zé Ibarra – “Vou Me Embora” (23)
27 – Rincon Sapiência – “XONA” (24)
28 – TUM – “DTF” (25)
29 – L’homme Statue – “Espírito Livre” (26)
30 – ÀTTØØXXÁ – “Dejavú” (com Liniker) (27)
31 – Drvnk – “Leaving Downtown” (28)
32 – Viratempo – “Te Quiero” (29)
33 – Mahmundi – “Meu Amor – Reprise” (30)
34 – BIKE – “Além-Ambiente” (31)
35 – Volver – “Volver de Novo” (32)
36 – Majur – “Tudo ou Nada” (33)
37 – Jards Macalé e Maria Bethânia – “Mistérios do Nosso Amor” (34)
38 – Marina Sena – “Meu Paraíso Sou Eu” (35)
39 – Mateus Fazeno Rock – “Indigno Love” (com Brisa Flow) (36)
40 – Lirinha – “O Campo É o Corpo” (37)
41 – Giovanna Moraes – “Fala Na Cara” (38)
42 – Julia Mestre – “do do u” (40)
43 – Aláfia – “Cadê Meu Pai?” (41)
44 – Os Tincoãs – “Oiá Pepê Oia Bá” (42)
45 – Iara Rennó – “Iemanjá” (43)
46 – Juliano Gauche – “Ondas Que Acordam” (44)
47 – Rei Lacoste – “Pareando” (com Dunna) (46)
48 – Sant – “SSA” (com Luedji Luna e VANDAL) (47)
49 – Gab Ferreira – “Forbidden Fruit” (48)
50 – Jambu – “Caso Sério” (49)
* Na vinheta do Top 50, a cantora Letrux.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.