Opa, opa, semana passada o Top 50 não foi ao ar por conta de implicações técnicas e nessas a gente acabou arrumando um problemão, porque se acumularam duas semanas de lançamentos. Dezenas de música para dez novas vagas disponíveis, como resolver? Deixando algumas coisas de fora, por enquanto – tudo devidamente registrado para ser lembrado em futuras edições.
O anúncio do novo disco veio em um breve post no Instagram do próprio João Donato e com uma pergunta curiosa. “Uma vez escutei que a música ativa a serotonina nas pessoas. Serotonina é neurotransmissor, considerada a substância do prazer. Serotonina em forma de disco. Como seria?” A resposta é dada com eficiência ao longo de deliciosos 40 minutos de companhia que João oferece aqui. Da parceria com o produtor Ronaldo Evangelista, que rendeu “Donato Elétrico” em 2016, temos aqui o primeiro solo de Donato com letras – o primeiro em 20 anos! E os parceiros nas canções vão do próprio Ronaldo até Anastácia, Céu, Rodrigo Amarante e Maurício Pereira. Música enquanto antidepressivo, sem dúvidas.
A energia comum entre uma roda punk e um baile de Carnaval tão bem sintetizado pelo Francisco, El Hombre em diversas músicas, ganhou mais um exemplar com a forte marchinha anárquica. “É uma das maiores utopias que a gente defende, a da não-autoridade, da não-hierarquização da sociedade. Ninguém é mais importante que ninguém”, escreve o baterista Sebastianismos – lembrando que atualmente a Francisco é formada também por LAZÚLI, Mateo Piracés-Ugarte, Helena Papini e Andrei Kozyreff. Honrando o pique que a música deve ter ao vivo, já que ela estreou em uma longa turnê do grupo pela Europa, quem puxa essa é a própria galera até na versão de estúdio.
A baiana Josyara, que lançou seu álbum hoje, já tirou o 1° lugar aqui com seu cortante primeiro single “LadoALado” e repete o pódio com o xote “Essa Cobiça”. Escrita no distante 2011, a faixa quente tem a capa vermelha e é sobre desejo, contrastando com a capa azul do single anterior. E Josyara não quer pouco, não, desse amor. Quer um grito. “Eu quero de volta/ Você em minha porta/ Gritando meu nome”. Mais uma vez ela jogou em todos as posições: Produção musical, base, arranjos, violões, voz e coro. A coprodução é de Seko Bass, do BaianaSystem, para você ver.
O que é ser brasileiro? São tempos difíceis para essa questão. Tem sempre quem vai negar seu país e tem hoje quem ame esse lugar, mas anda envergonhado com tanto horror que permitimos. Talvez uma das respostas para essa treta esteja no canto do ítalobrasileiro Rohmanelli, que agora assina apenas ROHMA, em seu trabalho artístico. Em “@rroboboy”, faixa título do seu novo álbum, ele canta: “Eu também sou brasileiro”. E completa: “Sou daqui, sim, sou de qualquer lugar/ Eu moro em mim, só aqui você pode me encontrar/ Não existe pátria/ Minha pátria sou eu/ Eu sou tudo que tenho (…)/ Sou todo lugar em que vivi”. Nessa forma de encarar a realidade, ROHMA segue sabendo como poucos reunir gêneros que parecem distantes. Repara na virada que abre esta música: poderia ser um feat. do Barões da Pisadinha em um disco do Trent Reznor.
Esta talvez seja uma das músicas mais bonitas do ano, num sentido de beleza pura. E vamos considerar que é uma música brasileira, né? Na voz de Joyce Moreno e Mônica Salmaso, a letra é de autoria do português Tiago Torres da Silva – fora que o disco da Joyce leva o nome de “Brasileiras Canções”. E mais: os versos de Tiago (“Eu sou tantas, tantas vidas/ Tantas voltas, tantas idas/ Eu sou o que bem quiser/ Eu sou tantas mas não esqueço/ Que ser eu e meu avesso/ É o que me torna mulher”) tem um diálogo forte com os de “Feminina” da Joyce ( “- Ô mãe, me explica, me ensina, me diz o que é feminina?/ – Não é no cabelo, no dengo ou no olhar, é ser menina por todo lugar”). Bonito.
“PSSP”, novo álbum do grupo paulista Filarmônica de Pasárgada, grupo idealizado na USP por Marcelo Segreto, é todo inspirado na cidade onde a banda nasceu: a melhor cidade da América do Sul, cantou um certo baiano. Daí que é justo e correto que um de seus assuntos sejam os personagens de um dos maiores compositores locais, Adoniran Barbosa. Acontece que, na primeira parceria de Segreto com Kiko Dinucci, as coisas parecem ter piorado para Álvaro, Joca, Mato Grosso, Iracema… Até o Ernesto foi em cana aqui. Complicadíssimo. É a nossa SP atual.
Tem bandas que são quase chapas da gente, tamanha admiração. A dupla do NoPorn ganha linhas na Popload desde que somos quem somos. Acompanhamos os três álbuns da dupla formada por Liana Padilha e Lucas Freire (antes Lucas Lauri), instituição de pista das melhores festas paulistanas desde há muito, e estamos ansioso por “Contra Dança”, novo disco que chega em setembro. Até lá, dá para aproveitar duas “poesias eletrônicas para dançar” recentes em um single duplo de mensagens fortes: “Nome Sujo”, sobre viver o agora, e “Estranha E Louca”, sobre uma mulher livre que acredita no amor.
Tem um tempo que estamos devendo este destaque. A cantora amazonense Luli Braga soltou um quentíssimo single. Só reparar nos versos iniciais: “Não me olha com essa cara/ De como quem não quer nada/ Não me engana não/ A vontade quando pega extravasa”. Clima respeitado no vídeo da música. A produção afiada é de Erick Omena, da banda Luneta Mágica, que está há uns bons meses no nosso Top 50, este aqui.
Se aproximando de novas gerações na plateia, Djavan se apresenta em “D”, seu novo álbum, com leveza. E, como bem definiu o crítico Hugo Sukman, que assina o release do álbum, com pelo menos um clássico neste novo repertório. E concordamos que “Sevilhando” é este possível novo clássico, pela mescla bem feita de diferentes ideias – “base rítmica de funk, harmonia e arranjo de jazz, melodia espanhola”, explica Hugo. A bateria deste som é de tirar o fôlego.
Certamente um dos melhores programas do rádio brasileiro, o “Ronca Ronca”, de Maurício Valladares, completa 40 anos – começou lá em 1982 com o nome de “Rock Alive” na mítica Rádio Fluminense FM, d hoje rola em formato podcast. Para a celebração, MauVal pediu que o Carne Doce visitasse um clássico do rock, “White Rabbit” do Jefferson Airplane, presente no mais clássico ainda “Surrealistic Pillow”, álbum de 1967 da banda psicodélica americana. Ficou de respeito a versão dos goianos.
11 – Rico Dalasam – “Guia de um Amor Cego” (com Céu) (1)
12 – Vanguart – “O Que Eu Vou Levar Quando Eu For” (2)
13 – Nobat – “Beira do Mar” (com Luli) (3)
14 – Kamau – “Aparte” (Avulso #06) (4)
15 – Rodrigo Ogi – “Feito Mágica” (5)
16 – Marissol Mwaba (Estreia) – “Parece Azul” (6)
17 – Maglore – “Vira-Lata” (8)
18 – Giovanna Moraes – “No é No” (9)
19 – St. Aldo – “Curly Mind” (10)
20 – Geraldo Azevedo e Chico César – “Dia Branco” (11)
21 – Tatá Aeroplano – “Na Beleza da Vida” (13)
22 – Irmão Victor – “Amarrado no Pulso do Cão” (14)
23 – Salma e Mac – “Sobremesa” (16)
24 – Adriano Cintra – “O Palhaço” (17)
25 – ÀVUÀ – “Famoso Amor” (18)
26 – Ombu – “Reclama” (19)
27 – Maurício Pereira – “Um Dia Útil” (20)
28 – Glue Trip – “Marcos Valle” (22)
29 – Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis – “Sé” (23)
30 – Bruno Berle – “Até Meu Violão” (24)
31 – Índio da Cuíca – “Malandro Sempre Será / Miudinho de Malandro (Pout-pourri da Malandragem)” (26)
32 – Gorduratrans – “Arão” (27)
33 – Juçara Marçal – “Odumbiodé” (28)
34 – Tom Zé – “Hy-Brasil Terra Sem Mal” (29)
35 – Mulamba – “Barriga de Peixe” (com Kaê Guajajara) (31)
36 – MC Tha – “São Jorge” (com Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Sueide Kintê) (32)
37 – Chico Buarque – “Que Tal Um Samba?” (part. Hamilton De Holanda) (33)
38 – Tim Bernardes – “Última Vez” (34)
39 – Letieres Leite & Orquestra Rumpilezz – “Coisa n°5 – Nanã” (com Caetano Veloso) (35)
40 – AIYÉ – “Exu” (36)
41 – Moons – “Best Kept Secret” (38)
42 – Alaíde Costa – “Aurorear” (39)
43 – Criolo – “Ogum Ogum” (com Mayra Andrade) (41)
44 – N.I.N.A. – “Anna” (43)
45 – Saskia – “Quarta Obra” (44)
46 – Rashid – “Pílula Vermelha, Pílula Azul” (45)
47 – Sérgio Wong – “Filme” (46)
48 – Radio Diaspora – “Ori” (47)
49 – Valciãn Calixto – “Aquele Frejo” (49)
50 – Luneta Mágica – “Além das Fronteiras” (50)
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o músico João Donato.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.
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