Top 50 da CENA – Irmãs de Pau abocanham o primeiro. Tuyo apazigua em segundo. FBC cria a atmosfera em terceiro

Bora para mais uma semana recheada de coisas incríveis da cena brasileira, que muitos ainda teimam em falar que está em baixa. Por onde andam essas pessoas? A semana vai de funk ostentação via Irmãs de Pau, Tuyo com Verocai e até shoegaze com samba. Olha que riqueza!

O nome do álbum “Gambiarra Chic, Pt. 1” traduz o atual processo criativo de Isma Almeida e Vita Pereira, as Irmãs de Pau. A gambiarra foi escrever novas músicas com o pouco tempo do corre da estrada, cada vez mais agitada com o sucesso. Sucesso que promoveu a parte chic, já que o reconhecimento do trabalho anterior rendeu um pouco mais de conforto financeiro e mental – e também aumentou a farra, lógico.  Sente o pique em dois versos: “Um plug no meu rabo/ Silicone no meu peito”. É pra chegar chegando mesmo, dando novas facetas para o funk ostentação e espantando os caretas de Paris, New York. “Megatron” traduz um pouco desse agito todo – com direito a telefone de contato para shows, ops, e-mail de contato para shows no final da track, afinal o corre não pode parar. 

A capa de “Paisagem”, novo álbum do trio paranaense Tuyo, é uma foto do mestre Walter Firmo. Na imagem, Lio, Lay e Jean correm por uma praia deserta, longe da câmera. Mas daqui dá para ver que eles estão pisando firme no presente. Em seu terceiro trabalho, descontando uma boa leva de EPs e singles, a banda parece completar o que foi ensaiado no disco anterior: uma ruptura com o modelo de seu início, mais formal, mais ao violão, de olho no que é possível ser reproduzido ao vivo em trio. Não há aqui uma ruptura com o modelo canção, mas como a forma de encarar até onde o estúdio pode levar cada registro – o que acaba por levar a estruturas mais soltinhas nas letras. Também não há medo em encontrar a sonoridade que cada faixa pediu. Algumas são mais experimentais, outras têm timbres oitentistas clássicos, há espaço até para um arranjo de cordas de Verocai. E, ainda assim, tudo é marcado por uma forte unidade. Discão. E tudo isso dito poucas horas após o lançamento. Ainda vamos ouvir e pensar muito sobre este “Paisagem”.    

Se “Baile” foi o álbum que fez FBC tocar em todos os celulares e festa do Brasil, a sequência ousada “O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar para Outro Planeta” consolidou o rapper mineiro com grande atração nas centenas de festivais pelo país. Boas músicas somadas ao carisma de Fabrício e a feliz transferência do que está no disco para o palco com uma superbanda não tinham como dar errado. E isso justifica a precoce versão ao vivo do trabalho gravado em uma apresentação em Belém – até porque, em tempos digitais, não existe mais aquele conceito de disco ao vivo preguiçoso. Seria até massa se tivesse mais e mais registros dos nossos artistas favoritos, uma coisa meio igual ao que Pearl Jam fez de lançar todos os shows. Sim, a gente se empolga, tudo bem.

Quando bolou a batida da bossa nova encafifado no banheiro é bem capaz que João Gilberto observava os próprios sapatos ou os pés descalços balançando ao ritmo da música. Natural que seu modo de sambar e tocar, muito inspirado também no violão de Dorival Caymmi e seus acordes marcantes, apareçam em forma de shoegaze nas mãos de Sonhos Tomam Conta, o nome do projeto da guitarrista paulistana Lua Viana em seu quarto álbum, “Corpos de Água”. Cada composição do disco parece tornar a conexão impossível entre os dois estilos em algo natural. Tipo água.

Organizado pela dupla Zegon e Tejo Damasceno, “Sabotage 50 anos” reúne sete releituras em homenagem ao rapper, unindo versos seus com participações de nomes de todas as gerações e ritmos diversos. Por exemplo, “Dama Tereza”, lançada em 2002 no disco “Coleção Nacional” do Instituto baseada em samba, virou um reggae com versos de Don e Luedji Luna. Classe demais.

As duas novas de Tom Zé são como faixas irmãs. Foi para Danilo Miranda, diretor do Sesc que morreu no ano passado, que Tom contou sua ideia de escrever sobre uma segunda vinda de Cristo em forma não de homem, mas de floresta. A seu modo, Tom entendeu de Danilo que não contasse a ideia até fazer a música. E foram três anos, atrapalhado pela pandemia, para que o baiano resolvesse a canção. Música forte e que termina em tom de alerta: “Se a gente não lutar/ Nem Cristo pode salvar”. Presente de Danilo, que é homenageado na segunda música, um samba que brinda a escuta atenta, o aprendiz que fez do Sesc a obra de arte que é.

A mineira Luiza Brina, que você deve conhecer ou de sua carreira solo ou de sua banda Graveola, ao longo da carreira lança suas orações, canções com o mesmo título e numeradas de acordo são feitas, o que não significa que sejam lançadas nesta ordem ou que estejam todas por aí. Fato é que chegamos a “Oração 18”, que também anuncia o próximo disco solo de Luiza, escrito nos últimos quatro anos. Com ar cinematográfico nos primeiros versos, é bonito quando chegamos no poderoso “Pra viver junto é preciso poder viver só pra gente se encontrar”. Para os fãs de outra Luiza, a Lian, no caso, vale notar que Brina se uniu aqui ao produtor Charles Tixier, produtor de primeira e de assinatura bem única e marcante.

Não é uma música qualquer que pode terminar ao som dos trovões. “A Língua Trava” justifica seu final intenso com direito a um solo de guitarra meio Eddie Van Halen em “Beat It”. É de ficar alucinado. Coisa linda. A faixa é parte de “Nave Pássaro”, terceiro álbum solo de estúdio de Malu Maria. O trabalho é uma verdadeira parceria de Malu com o amigo Dustan Gallas, do Cidadão Instigado, que colaborou para dar forma aos sonhos de Malu. Agora em forma de música, sonhemos com Malu.

A bandaça Francisco, El Hombre resolveu dar um tempo. Não é fim, é pausa. Antes de parar, incluíram no roteiro uma turnê e um disco novo para não deixar seus fãs tristes. Engraçado que o primeiro single seja justamente um remédio contra ansiedade. “O Que Existe É o Agora” é uma lembrança útil quando o mundo ou a gente grita pelo medo do futuro ou então de uma pausa. Logo eles voltam, sem sofrer por antecipação.

Bruna Mendez com a parça BRUNÊ e o parça DeVito Cxrleone fez um EP dedicado a “Love Songs” que exalam  romance (o mais fofo possível) e muita safadeza, lógico – são coisas complementares. Um pouquinho de R&B superchic com um pouco de funk falando altas putarias. Tudo a partir do prisma de Bruna, Bru e DeVito. Como se fala de amor em pleno 2024? Achamos que desse jeito aqui. Vale notar a fala da Bruna sobre o EP: “Love Songs Vol.1 me fez fazer as pazes com a música”. É bom ter você de volta, Bruninha. 

11 – Noporn – “Preferia Nunca” (6)
12 – Haroldo Bontempo – “Risada (com João Donato)” (7)
13 – Tássia Reis – “Mais Que Refrão (com Rashid)” (8)
14 – Jota Ghetto – “Michael B. Jordan na Fila do CAT” (9)
15 – Deize Tigrona – “25 de Abril (com Boogarins)” (10)
16 – Jujuliete –  “Dominatrix” (11)
17 – Apeles – “In God’s Hands” (12)
18 – Jota.pê – “Quem é Juão” (13)
19 – Juçara Marçal e DJ Ramemes – “Ladra – Remix” (14)
20 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (15)
21 – Sofia Freire – “Autofagia” (16)
22 – Papisa – “Amor Delírio (com Luiza Lian)” (17)
23 – Carne Doce – “Cererê” (18)
24 – Bruno Berle – “Dizer Adeus” (19)
25 – Emicida – “Acabou, Mas Tem” (20)
26 – Caetano Veloso – “La Mer” (21)
27 – A Balsa – “Rede Social” (22)
28 – El Presidente – “Perigo no Sol (com Benke Ferraz)” (24)
29 – Kamau – “Documentário” (25)
30 – Josyara – “Ralé/Mimar Você” (26)
31 – Mahmundi – “Estácio, Holly Estácio” (27)
32 – BNegão – “Canto da Sereia” (28)
33 – Maria Maud – “02.02” (29)
34 – Madre – “Sirenes” (31)
35 – Ayrton Montarroyos – “Peter Gast” (32)
36 – Guerra – “É Massa” (33)
37 – Raidol – “Imensidão” (34)
38 – Rodrigo Campos – “Gamei” (35)
39 – Thami – “Deixa Queimar” (36)
40 – Jup do Bairro – “Amor de Carnaval” (37)
41 – Jorge Aragão com Rappin Hood – “Mafuá” (38)
42 – Chinaina – “Roubaram Minha Jóia” (40)
43 – Dead Fish – “11 de Setembro” (41)
44 – Vandal – Violah (44)
45 – Clara Bicho – “Luzes da Cidade” (45)
46 – Parteum – “’12 6 10” (46)
47 – Psirico – “Música do Carnaval” (47)
48 – GRIYÖ – “Afropenobeat” (48)
49 – Rico Dalasam – “Jovinho” (49)
50 – Ogoin & Linguini – “Quando Tudo Começou” (50)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, as Irmãs de Pau.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.