Top 50 da CENA – Glue Trip vai ao primeiro, com uma “pequena ajuda”. Sérgio Wong emplaca em segundo. Gorduratrans se enterra em terceiro

* Ah, a música brasileira. Que coisa gigante. Arthur Verocai colando com uma banda independente. Anitta colando pelo mundo. Enquanto isso, um jovem paulistano coloca o rock em cheque com uma criatividade absurda. Tudo isso ao mesmo tempo. Na era do streaming, separados por um clique de distância que é uma trajetória curta, mas quase in. A gente tenta aqui juntar tudo e contar essa história.


1 – Glue Trip – “Lazy Days” (com Arthur Verocai) (Estreia)
Não tem muito tempo que saiu supermatéria no jornal inglês “Guardian” com o maestro Arthur Verocai. No perfil do autor do clássico “Arthur Verocai”, lançado em 1972 e redescoberto (e sampleado) ano depois, são mencionados algos do seus trabalhos em colaborações luxuosas que vem por aí. Mas esqueceram uma muito chique. Arthur é o convidado de “Lazy Days”, primeiro single que antecipa o novo álbum dos paraibanos da Glue Trip. “Eu estava vivendo um sonho lúcido”, escreve Lucas Moura, guitarra e voz da banda, quando descreve a sessão de estúdio. Sonho mesmo. Tanto que quando a música supostamente acaba, vem uma segunda parte, como quem tentar voltar a dormir para sonhar mais um pouquinho e encontrar aquele sonho de novo. Bom que dá para dar um replay no som. Fique atento, “Nada Tropical”, terceiro disco da banda de João Pessoa, sai ainda neste semestre.
2 – Sérgio Wong – “Filme” (Estreia)
A coleção de frases que o jovem paulistano Sérgio Wong espalha pelo álbum “Mídia” já justificariam seu trabalho. Algumas que a gente foi captando: “Quer me cancelar? Então, cancela aí”, “O rock brasileiro é uma farsa e eu posso provar”. Acontece que musicalmente a coisa também anda muito bem, com Sérgio utilizando o rock para provocar o gênero e seus limites. Em “Alô”, por exemplo, “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana é mencionada de uma maneira que é até difícil nomear – não é paródia, não é versão, seria uma desconstrução? É bonito como ele pesca pequenos elementos de uma música conhecida para criar algo novo. É um aviso que está lá e não está. E essa é uma boa metáfora para o disco. Cara talentoso.
3 – Gorduratrans – “Enterro dos Ossos” (Estreia)
E olha quem está de volta. A dupla Felipe Aguiar (voz e guitarra) e Luiz Felipe Marinho (voz e bateria), que não lançava nada desde 2017, prepara a chegada do terceiro álbum. A banda de noise/shoegaze do Rio não perdeu em nada sua essência, mas parece que eles voltaram ligeiramente mais pop ou com uma produção mais refinada. Calma, não é uma mudança radical, mas tem um colorido novo neste single aí. Repara para ver se não é viagem nossa. Tá bem massa e viciante. Tipo para tocar em rádios legais, se a gente tivesse rádios comerciais legais.
4 – Radio Diaspora – “Ori” (Estreia)
A gente estava dando uma passeada pelo excelente “Floga-se”, do amigo Fernando Augusto Lopes, e caiu neste texto que chamou nossa atenção, sente só: “Escute sua cabeça. Questione sua cabeça. Exploda sua cabeça. Depois de encostar a testa no chão, encha o copo e acenda o cigarro de Padilha. Deixe o caos governar a ordem até que as coisas façam sentido novamente”. É um trecho que Fernando sacou do texto de apresentação de “Ori”, disco da dupla Radio Diaspora, formada por Romulo Alexis (trompete, flautas, percussões, voz, eletrônicos) e Wagner Ramos (bateria, eletrônicos, samples). Até agora só encontramos o disco no Bandcamp dele, mas não vacile: é aquele tipo de som que te tira do lugar mesmo.
5 – Anitta – “Maria Elegante” (com Afro B)
É injusto julgar “Version of Me” pelo que a gente gostaria que ele fosse. A gente queria uma Anitta que escancarasse para o mundo a “Anira” que nós já conhecemos, essa que aparece na capa do álbum. Mas o disco não faz isso. Não abala, tanto quanto gostaríamos, as certezas do mundo pop norte-americano. E como isso não era o objetivo, nossos sonhos que fiquem de lado, não se pensa música assim. “Versions of Me” é um bom resultado da intensa pesquisa de Anitta sobre o mercado dos Estados Unidos, de olho nas tendências que já circulam por lá. A estratégia anda funcionando, vide seu bombástico show no Coachella. É fato: em nossos tempos, nenhum artista brasileiro foi tão longe quando o assunto é música. Se o play no streaming é de brasileiro ou não, importa pouco. Aliás, a gente deveria era aplaudir a estratégia de hackear a cultura dominante em vez de tentar menosprezar essa conquista, uma obsessão boba do nosso jornalismo cultural. Ainda que fique esse amargo gosto do sonho, imaginando coisas, fica a realização concreta e muito bem feita do álbum e da performance no Coachella. E, lógico, são passos a serem dados. E Larissa é estratégica, não duvidamos que ela fique matutando a hora certa de soltar a braba, aquela que americano talvez nem saiba que é possível fazer. O interessante é que mesmo em alguns passos em falso ela sabe muito bem o que está fazendo. E quando dá certo dá muito certo. Pode apostar: Anitta vai ter seu número 1 na Billboard dia destes. Talvez não seja com esse disco, talvez sim. Nosso ponto é: se ela mirou lá, é questão de tempo.
6 – Devotos – “Periferia Fria” (com Criolo) (Estreia)
Das bandas mais importante do punk, Devotos chegou firme em uma ideia muito interessante de um disco que pode surpreender quem só conhece seus sons mais porradas: um álbum dedicado ao reggae – um gênero que sempre atravessou a banda, mas que agora está no centro de suas atenções. Está sensacional. E a gente recomenda muito também o single anterior, que demos bobeira e não jogamos aqui: “Dança da Alma”, com Chico César.
7 – UANA – “Vidro Fumê”
Talvez você se lembre da UANA quando a gente escreveu sobre ela lá em 2021, quando a cantora pernambucana soltou seu single “Mapa Astral”, um super R&B. Ou talvez, se você anda mais desatento, só foi saber dela no sucesso “Quando o DJ Toca”, ótima música do discaço do funkeiro mineiro FBC, que tem participação vocal dela. A exploração sonora da cantora agora avança pelo bregafunk romântico, dando uma forte liga entre influências gringas e brasileiras.
8 – Cícero – “Sem Distância”
Está aí uma música de coração, de peito aberto. Um single lançado sem maiores pretensões no dia de seu aniversário. É como se Cícero encontrasse a solução de nossa eterna ansiedade nestes tempos. Te acalma, vive o agora. Se tem tempestade, você sabe que ela passa.
9 – Rico Dalasam – “Expresso Sudamericah (Ao Vivo no Encontro DDGA)” (1)
“Foda, né”, alguém da plateia comenta em um intervalo entre os versos. Essa cena conta um pouco do clima intimista que está presente no EP ao vivo “Encontro DDGA”, registro de uma apresentação de Rico Dalasam em São Paulo. No disco todo a plateia canta tão alto quanto Rico em parte do repertório de seu disco mais recente “Dolores Dala Guardião do Alívio”. A mensagem está nessa recepção do público. É mais forte que um hit, sem dúvida. Outra conexão. Muito interessante que o disco seja tão curtinho… Sabe aqueles ao vivo antigos quando duas horas não cabiam em um LP?
10 – Karol Conká – “Fuzuê” (2)
Massa ver que após o barulho do BBB e todas as tretas que rolaram por lá a música de Karol volte a falar mais alto. Ela manda bem demais para ser menos conhecida pela música do que por um programa de TV chato a beça. Ela voltou. Deixa a música falar.
11 – Saskia – “Quartas de Final aos 45 do Segundo Tempo” (3)
12 – Florais da Terra Quente – “Suco de Umbu” (com Chapéu de Palha) (4)
13 – Narcoliricista – “Bem Pertin” (5)
14 – Marina Sena – “Temporal” (6)
15 – LAZÚLI – “Pomba Gira” (7)
16 – Maglore – “A Vida É uma Aventura” (8)
17 – Valciãn Calixto – “Aquele Frejo” (9)
18 – Helo Cleaver – “Café com Leite” (10)
19 – Messias – “Avenida Contorno” (11)
20 – Labaq – “Dóidóidói” (12)
21 – Pabllo Vittar e Rina Sawayama – “Follow Me” (13)
22 – Jota.pê – “Preta Rainha” com Kabé Pinheiro e Marcelo Mariano (14)
23 – Dududa – “Vou Seu” (15)
24 – Luneta Mágica – “Além das Fronteiras” (16)
25 – Vanguart – “Amor” (17)
26 – HENRI – “Coração de Plástico” (18)
27 – Agnes Nunes – “Não Quero – A COLORS SHOW” (19)
28 – Diogo Strausz – “Deixa a Gira Girar” (20)
29 – Zudizilla – “Oya” (21)
30 – Terno Rei – “Aviões” (22)
31 – Coruja BC1 – “Auxílio Emergencial do Rap” (23)
32 – Duda Beat – “Dar uma Deitchada” (24)
33 – Larissa Luz – “Brinco Só” (25)
34 – Monna Brutal – “Hashtag (com Mu540)” (26)
35 – Afrocidade – “Toma” (27)
36 – B.art – “Mamba Negra” (com Zilladxg) (28)
37 – Urias – “Foi Mal” (29)
38 – Wado – “Aquele Frevo Axé (com Patrícia Marx)” (30)
39 – Gab Ferreira – “faking it” (31)
40 – Luedji Luna – “Banho de Folhas” (Raze Mix) (32)
41 – Febem – “Champions” (33)
42 – Jambu – “Sem Rumo” (34)
43 – Otto – “Peraí Seu Moço” (35)
44 – Ava Rocha – “Papais Panacas” (com Iara Rennó e Saskia) (36)
45 – Bruno Morais – “Onironauta” (37)
46 – Black Alien – “Pique Peaky Blinders” (38)
47 – Supervão – “Primeiro Date” (39)
48 – Julia Mestre – “Meu Paraíso” (com Lux & Tróia) (40)
49 – FBC – “Se Tá Solteira Breaking Beattz remix” (com Mac Júlia) (41)
50 – Bala Desejo – “Lambe Lambe” (42)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a banda Glue Trip, em foto de Bel Gandolfo.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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