Rita Lee. Não tem Top 50 “tradicional” nesta semana. É tudo dela e para ela.
A única regra que respeitamos é sempre manter o Top 50 como uma conversa. Então, esta aqui não é uma relação de melhores músicas, nem a mais abrangente das listas.
São as canções e histórias de Rita Lee que gostaríamos de compartilhar, inclusive em playlist. A ordem em si é um detalhe. Outra orientação que aconteceu quase sem querer foi mergulhar mais na Rita solo que na Rita mutante. Listas são assim.
Pense no Brasil mais careta que existe, aquele que se nega a sentar para conversar sobre sexo, droga e dogmas religiosos. Esse mesmo Brasil vai cantar “Lança Perfume” sem medo. Porque isso é Rita Lee. Ela conseguiu colocar o nome de droga no refrão de uma de suas músicas mais populares e tá tudo bem. Censurar ninguém se atreve. “Lança Perfume” é um convite a festa e ao amor. Tem a beleza do verso “me deixa de quatro no ato”. De acordo com Tom Zé, uma das provas que Rita foi a sexóloga de sua geração e das seguintes. Complexa e simples, direta, mas cheia de entrelinhas. Talvez “Lança” seja seu melhor resumo.
Se Rita acertou muitas das profecias que fez, mas nenhuma tão certeira quanto: “Talvez ainda faça um monte de gente feliz”. É uma frase que vai ficar. “Saúde” é aquela chacoalhada na vida. Levantar a poeira e seguir, sempre amando demais, única filosofia de vida possível. E guarda o dom de Rita de cantar muito sobre si, provavelmente saindo de alguma deprê braba, mas cantando para o mundo.
Um grito de liberdade. Um dos melhores rocks brasileiros. Quem disse foi o Caetano Veloso. Concordamos. Da abertura explosiva, os versos certeiros, o solo incrível de Luis Carlini. O ímpeto de Rita parece o de uma descoberta incrível, um modo de viver muito melhor está bem diante dos nosso olhos. Na letra, o convite é para uma pessoa específica. Na leitura geral, é um convite para toda a audiência se libertar. E tem quem diz que ela não era política, isso é coisa de quem não saber ler nas entrelinhas, não entende metáfora, ironia, símbolo, etc.
Aqui a memória afetiva bate. Quem não lembra da versão do Pato Fu que levou muita gente a conhecer os Mutantes e desbravar então a galáxia Lee? Nessa hora a gente lembra que os mineiros também ensinaram a gente amar a banda via “Qualquer Bobagem”. “Ando Meio Desligado” é quase infantil ao passo é uma viagem bem adultinha. Lá e cá no texto. Toda banda de rock tem que saber tocar essa. Obrigatória.
Elis não era muito fã da Rita quando a ruiva apareceu. No fim da década de 60, a música brasileira era meio dívida entre quem aceitava e quem não curtia muito a chegada da guitarra elétrica. Uma treta e tanto. Anos depois, Rita foi presa, Elis se sensibilizou e deu apoio a Rita. Nasceu uma amizade entre elas, uma cumplicidade que rendeu essa música perfeita para Elis improvisar no refrão em inglês que qualquer brasileiro entendia, outro dom de Rita: “Down, down, down/The high society”
Não tem muito tempo que celebramos por aqui “Modinha”, uma singela canção de Rita com toques caipiras, algo que ela sabia reproduzir bem, que ficou meio lado B na sua obra, mas foi bem recuperada por um de seus mais fiéis discípulos, Tim Bernardes. Olha a sutileza de um verso como “Todo remédio que me cura tem uma contra-indicação”. Ah, dor. Quem não quer ficar um dia de papo para o ar tirando um som de uma violão não tá bem.
Presente no álbum “Buid Up”, seu disco solo quando ainda era dos Mutantes, “José” traz Rita refletindo sobre as dores do José, pai de Jesus. A faixa tem tanto do seu humor e sua sensibilidade, mas para a surpresa de todos é uma versão de uma música francesa adaptada por Nara Leão.
Essa não tem no Spotify, infelizmente, mas tem no YouTube. Vale imaginar. Você tá curtindo seu novo disco da Rita, superpop, e de repente: João Gilberto com seu violão. Rita se dava bem com João, ele era apaixonado nela – quem não era? Fizeram dueto na TV e Rita convenceu o baiano a participar do seu disco em uma letra bonita sobre o Brasil: “No mapa-mundi está com Z/ Quem te conhece não esquece/ Meu Brasil é com S”.
O amor de Rita e Roberto, seu parceiro de vida e de canções está um pouco em todas as músicas do casal que separamos aqui. Certamente em todas de amor que fizeram juntos. Mas nenhuma é tão poética quando “Mania De Você, escrita ainda na cama “A gente faz amor por telepatia, No chão, no mar, na lua, na melodia”. A versão que ela faz um dueto com Milton Nascimento é de tirar o fôlego
“Fuga N° II”, gravada pelos Mutantes, parece uma prévia dos rompimentos cantados em “Agora Só Falta Você” e “Ovelha Negra”. Ela está deixando nossa casa, já tinha cantado os Beatles em 67. Aqui a jovenzinha Rita entoa docemente a mesma partida em direção ao mundo. Uma melancolia em preto e branco rumo ao technicolor
11 – “Ovelha Negra”
12 – “Esse Tal de Roque Enrow”
13 – “Caso Sério”
14 – “2001”
15 – “Baila Comigo”
16 – “Doce Vampiro”
17 – “Mamãe Natureza”
18 – “Mutante”
19 – “Ave, Lúcifer”
20 – “Pagu”
21 – “Flagra”
22 – “Nem Luxo, Nem Lixo”
23 – “Jardins da Babilônia”
24 – “Chega Mais”
25 – “Orra Meu”
26 – “Desculpe o Auê”
27 – “Coisas da Vida”
28 – “Caminhante Noturno”
29 – “Cartão Postal”
30 – “Meio-Fio”
31 – “Papai Me Empresta o Carro”
32 – “Fruto Proibido”
33 – “Luz Del Fuego”
34 – “Miss Brasil 2000”
35 – “Com a Boca No Mundo”
36 – “Dançar pra Não Dançar”
37 – “Ando Jururu”
38 – “Amor e Sexo”
39 – “Vote em Mim”
40 – “Reza”
41 – “On the Rocks”
42 – “Corre Corre”
43 – “Arrombou a Festa”
44 – “Erva Venenosa”
45 – “Eu e Meu Gato”
46 – “Dona Doida”
47 – “Menino Bonito”
48 – “Lá Vou Eu”
49 – “Nunca Fui Santa”
50 – “As Minas de Sampa”
* Na vinheta deste Top 50 especial, Rita Lee, em foto do acervo da Editora Globo.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.