Seguimos aqui organizando a casa aos poucos. Quem reparou na lista da semana passada viu nosso desconforto tentando alinhar tantas e tantas músicas que mereciam o primeiro lugar e deixando de lado algumas outras que não iam caber em meio a tanta novidade acumulada. Digamos que esse desconforto segue nesta semana em que acumulamos algumas faltas, mas estamos aqui arrumando tudo com muita calma, certo? Estão curtindo a nova casinha da Popload? Ah… Oi, Chico. Tudo bem? Sumido! Veio testar nosso desconforto geral só para a gente não te dar o primeiro lugar, né? Mas Tim Bernardes contou uma história à lá Chico e foi para o topo.
Pódio para Tim Bernardes, que chegou chegando com o belíssimo novo álbum, “Mil Coisa Invisíveis”. A longa narrativa de “Última Vez” tem uma construção que lembra canções de Caetano Veloso em músicas que são quase filmes cheios de cenas. Verso a verso vamos ficando malucos de ansiedade para saber o desfecho, torcendo para que tudo fique bem, sofrendo para ver no que vai dar esse amor que se reencontrou já tão diferente, ansiosos para ver se Tim consegue colocar tantas palavras no verso sem perder a melodia. Mais que isso é quase spoiler. Está aí um disco para gente gastar semanas falando a respeito.
E, por falar em Caetano Veloso, ano passado em seu disco ele comentou que “Sem samba não dá” ao afirmar os valores da música brasileira. Chico Buarque apareceu então com a pergunta e a resposta. Um samba para levantar o astral, mudar o clima, melhorar o jogo. Se essa resposta ao Caetano é mais uma abstração nossa, há pelo menos uma menção mais direta, quando Chico menciona “Beleza Pura” de Caetano (“Não com dinheiro/ Mas a cultura/ Que tal uma beleza pura”). E será que o fã de futebol Chico Buarque está encantado com Abel Ferreira? Tem um verso que lembra a frase do treinador do Palmeiras que virou até título de livro (“Coração pegando fogo/ E cabeça fria). Ok, talvez a gente esteja exagerando… E tudo é muito bem acompanhando pela beleza pura que é Hamilton de Holanda e seu bandolim quente, pegando fogo. Que música gostosa.
“Moacir de Todos os Santos” é o último álbum que o maestro Letieres Leite fez com sua orquestra. O disco é a realização de um sonho: gravar um álbum de jazz em fita, como faziam nos antigos discos do gênero. Letieres nos deixou enquanto o álbum era mixado, vítima da covid. Mas houve tempo para colocar em ordem este último presente que homenageia outro mestre da música brasileira ao revisitar sete temas de “Coisas” (1967), de Moacir Santos. Caetano colabora cantando a bela “Nanã” em inglês. Das coisas mais bonitas já feitas, certamente.
Larissa Conforto e sua persona solo ÀIYÉ inicia nova fase. O single “Exu (Tenho Fome)”. Ela explicou em seu Instagram um pouco do que motiva esse novo período: “É fruto de um chamado espiritual muito forte que recebi no início deste ano. Depois de mais de seis anos trabalhando em terreiro, finalmente me sinto pronta para trazer minhas vivências e meus guias para o meu trabalho musical autoral”. Sobre o primeiro single, ela fala mais: “Tudo começa na encruzilhada, meu habitat natural, de onde eu vim e pra onde eu sempre volto! “Exu (Tenho Fome)” é o nome do começo, do meio, e do fim. Exú é entre. É todo. É vazio que se enche de tudo!”
Chega bem romântico o mais novo cinquentão da praça: ele mesmo, Gustavo Black Alien. E é com muita calma que ele vem em seu novo single, este que anuncia um novo álbum. Como Black Alien mesmo descreve: “Um xaveco, sem possessividade, neurose ou grandes pretensões”. Devagar, devagarzinho. Sem pressa.
Na pandemia, Jair Naves aprendeu a tocar piano. Aos 40 anos deu de cara com o novo na música, como relata em uma forte entrevista para os nossos parceiros do “Scream&Yell”. E trouxe essa novidade para a introdução de seu novo disco solo, “Ofuscante a Beleza Que Eu Vejo”. Ao piano, em uma bonita melodia, abre o álbum com uma longa confissão de algo quase inconfessável: não está pronto para perdoar algo que talvez seja mesmo imperdoável. Será? São dúvidas que trazem outras angústias. O pai que se foi jovem, os dias que passam sem aviso, mas que são sempre presentes duradouros. Não é simples. Questões dos calabouços de cada um.
E, por falar em segredos, conectamos o papo com o novo álbum dos mineiros folk do Moons, esse belo “Best Kept Secret”, recém-lançadp. Mas, no caso aqui, o segredo é um amor, um amor seguro, como canta a letra da música. Um momento íntimo na frente de milhões, ou só no seu ouvidinho, se for o caso.
Elza tinha um take para acertar a versão ao vivo de “Mulher do Fim do Mundo” em sua gravação ao vivo no Teatro Municipal. E ela não teve medo. Na versão, há espaço para uma voz jovial, pura bossa, há espaço para o risco, quando ela ousa uma nota alta que não alcança, há espaço para seu improviso, improviso que virou um marcante mantra: “Me deixem cantar até o fim”. Pedido atendido. Como em um roteiro de filme, a composição de Alice Coutinho e Romulo Fróes, auge de seu repertório mais recente, é a última gravação de Elza.
Emicida e o produtor Marcus Preto tiveram meio que a mesma ideia ao mesmo tempo: imaginar um repertório de músicas inéditas para Alaíde Costa, supervoz da música brasileira, precursora da bossa nova, intérprete grandiosa, também compositora, que ainda não tinha feito um disco nesses moldes – todo pensado para ela. E Alaíde amou o presente da dupla. “O Que Meus Calos Dizem sobre Mim” traz oito canções fortes, sete inéditas – uma delas, de João Bosco e do filho Francisco Bosco, é quase inédita, um lado B de João. Para o fã do Emicida, que às vezes podem desconhecer seu lado de compositor para outras vozes – ele já escreveu para Paulo Miklos, Erasmo Carlos, entre outros… – talvez role uma surpresa com suas letras em belas parcerias com Joyce, Ivan Lins. Para os jovens que ainda não escutaram tudo de Alaíde, um convite para revistar uma discografia essencial da música brasileira. Discografia em seu melhor momento aos 86 anos. Jóia.
Luna França segue no processo de assumir seu protagonismo após anos de trabalho no apoio e nos bastidore de outros artistas. E aqui ela chega chegando em letra e vídeo cheios de duplos sentidos e liberdade total. De encher os olhos e os ouvidos. “Um”, seu álbum vem em breve.
11 – Joyce – “Feminina” (1977, Claus Ogerman) (4)
12 – Bruno Berle – “Quero Dizer” (5)
13 – Maurício Pereira – “Um Teco-Teco Amarelo em Chamas” (6)
14 – Bruno Capinam – “Ode ao Povo Brasileiro” (7
15 – Urias – “Je Ne Sais Quois” (8)
16 – RT Mallone – “100 Balas” (com Coruja BC1) (9)
17 – Maglore – “Amor de Verão” (10)
18 – Rico Dalasam – “30 Semanas” (11)
19 – Criolo – “Ogum Ogum” (com Mayra Andrade) (12)
20 – Thiago Jamelão – “Diálogo sobre Vivência” (13)
21 – João Gomes – “Me Adora” (14)
22 – Black Pantera – “Estandarte” (com Tuyo) (15)
23 – Ratos de Porão – “Necropolítica”(16)
24 – N.I.N.A. – “Anna” (17)
25 – Saskia – “Quarta Obra” (19)
26 – Rashid – “Pílula Vermelha, Pílula Azul” (20)
27 – Otto – “Tinta” (21)
28 – Assucena – “Ela (Citação a Menina Dança)” (22)
29 – Walfredo em Busca da Simbiose – “Netuno” (25)
30 – Gorduratrans – “Enterro dos Ossos” (26)
31 – Gabriel Ventura – “Nada pra Ensinar, Muito pra Aprender” (27)
32 – Glue Trip – “Lazy Days” (com Arthur Verocai) (31)
33 – Sérgio Wong – “Filme” (32)
34 – Radio Diaspora – “Ori” (33)
35 – Anitta – “Maria Elegante” (com Afro B) (34)
36 – Devotos – “Periferia Fria” (com Criolo) (35)
37 – Cícero – “Sem Distância” (37)
38 – Karol Conká – “Fuzuê” (38)
39 – Florais da Terra Quente – “Suco de Umbu” (com Chapéu de Palha) (39)
40 – Narcoliricista – “Bem Pertin” (40)
41 – Marina Sena – “Temporal” (41)
42 – LAZÚLI – “Pomba Gira” (42)
43 – Valciãn Calixto – “Aquele Frejo” (43)
44 – Helo Cleaver – “Café com Leite” (44)
46 – Labaq – “Dóidóidói” (46)
47 – Jota.pê – “Preta Rainha” com Kabé Pinheiro e Marcelo Mariano (47)
48 – Luneta Mágica – “Além das Fronteiras” (48)
49 – Diogo Strausz – “Deixa a Gira Girar” (49)
50 – Zudizilla – “Oya” (50)
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o músico Tim Bernardes, em foto de Marco Lafer & Isabela Vdd.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.