Top 50 da CENA – E aí, João Bosco? A corrida da Pluma. E o Mateus fazeno na madrugada. É assim nosso pódio

Semana de clássico por aqui. Uma original de João Bosco e Aldir Blanc no primeiro lugar, que tal? Para não reclamarem que traímos o indie, celebramos a chegada de uma banda que faz quatro anos que avisamos que era uma super promessa: vem aí a estreia da PLUMA. Isso tudo e outras coisinhas mais na lista da semana.

“Boca Cheia de Frutas” é o primeiro álbum de inéditas de João Bosco desde que Aldir Blanc, seu mais fiel parceiro, foi vitimado pela Covid-19, perda que recentemente completou 4 anos. Mas Aldir está presente no novo trabalho de João e com uma inédita. “E aí?” é composição atribuída a Bosco e Blanc que João simplesmente não se lembrava de ter musicado. Acontece que a parceria foi oficializada e tudo quando publicada todas as letras de Aldir. Problema a ser resolvido: aqui finalmente a letra ganha música – e uma música lotada de pequenos acenos ao velho amigo. Dos assobios à citação de “Tive Sim”, de Cartola, a predileta do Aldir em rodas de violão. Que presente é “E aí?”.  Outro destaque do disco: “SobreTom”, um tema instrumental que reverencia Tom Jobim. É impressionante o trabalho de João aqui. Parece mesmo algo escrito pelo maestro soberano.

Nos primórdios do Top 50, lá em 2020, a gente anotou o Pluma como novidade que chamava atenção. Naquela altura, eram só alguns singles daquele time que nasceu de um TCC. E na época, já era gritante a qualidade da turma em tirar um BAITA som no estúdio, talvez resultado justamente do curso em produção. Quatro anos depois estamos aqui prestes a ouvir o primeiro disco de estúdio de Diego Vargas, Guilherme Cunha, Lucas Teixeira e Marina Reis. “Corrida!”, primeira prévia, deixou a gente ansioso! Música apaixonante com suas diferentes caras e andamentos em deliciosos cinco minutos de duração. Para que pressa na corrida, não é?

Para dar mais um brilho no excelente “Jesus Ñ Voltará”, Mateus Fazeno Rock adicionou a track “Madrugada” em uma versão de luxo do álbum lançado no ano passado. A nova versão do disco marca o início do contrato de Mateus com a Deckdisc – nada mais justo, a nossa maior gravadora independente cuidando de um dos nossos maiores artistas independentes. Que venham bons discos!

Moreno reuniu a família para registrar um samba de roda composto em uma passagem de som da turnê Ofertório. Ele e o irmão tocavam “How Beautiful Could a Being Be” quando Moreno teve o insight de criar uma narrativa naquele ritmo de uma história que ouviu na Bahia: o samba miudinho que arrasta os pés no chão serviria para assentar o chão de uma casa nova. Encantado pela imagem do samba e da festa como essenciais na construção, ele imaginou a história de um casamento e sua festa erguendo uma casa nova. Ter como feat. sua família, sua base, só deixa a história ainda melhor. “How Beautiful Could a Being Be”, não é mesmo? 

Estreia? Esta bela “Beijo Roubado em Segredo”, do prolífico artista indie Tatá Aeroplano, muitas bandas, muitos projetos, foi composta para o premiadíssimo curta “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, de 2010, que rodou o mundo. Tatá resolveu subir a música agora nos streamings. Não tinha hora melhor.

Demorou para alguém fazer uma música que eternizasse no título o nosso vira-lata caramelo. Barro chamou Chico César e resolveram essa questão em uma dos bons sons de “Língua”, terceiro disco de estúdio do pernambucano. Bem-humorada, ela faz um bom par com a faixa seguinte, a séria e bela “Idioma”, que tem algo de Mundo Livre S.A.

Por falar em bom título de música, a rapper baiana Duquesa encontrou um título e tanto aqui, hein? Imagina alguém buscando só um sertanejo e caindo neste esperto rap que aproveita para dar uma zoada na danosa cultura agropop. “Mais milhão que o agro/ Tô engordando meu gado/ Mais rica que o sertanejo/ Duquesa é o novo pop”. “Taurus, Vol 2.” tá pesadão.

Supervoz e supercompositora, Bebé arrasou em sua estreia, um discão lançado em 2021 que leva seu nome, “Bebé”. Inventiva, dona de um som diferente do habitual na música brasileira, ela é uma jovem ligada a seu tempo com um acervo musical imenso na mente – ela sabe cantar todos os standards de jazz, por exemplo. Bk, Carlos do Complexo, Qinhones, Dadá Joãozinho – quem foi esperto convocou Bebé para dar um help. “Assome” é a primeira amostra de seu novo trabalho – ainda sem nome. Tem um astral quase minimalista, pouca guitarra, pouca percussão, algum sintetizador. Poucas notas e a voz usada como instrumento via sampler. No Twitter, Bebé deu três sugestões para você escutar “Assome”: 1 – com o som mais alto possível, sentindo o grave e dançando pelo espaço, 2- sonzinho ambiente trocando carinho com o/a baby, 3 – bem baixinho no repeat para mimir. Testa aí. Funciona.

Erasmo Esteves era o nome real de Erasmo Carlos aka O Tremendão aka Gigante Gentil. Seu nome de batismo é o nome do seu primeiro álbum póstumo. A partir de ideias prontas que ficaram pelo caminho e ideias que ainda estavam só no rascunho, diversos artistas completam o trabalho que Erasmo deixou visando o futuro – conceitualmente este disco seria uma continuação de seu último trabalho em vida, “O Futuro Pertence à Jovem Guarda”. Pode segurar o choro enquanto escuta o próprio Erasmo cantarolar “Minha Bonita”, ainda imaginando uma letra completa e algo da melodia, e depois ouvir Tim Bernardes dar sequência ao que o mestre não teve tempo de fechar. Fora a emoção, impressiona também ver como em uma simples fita de demonstração o Tremendão já deixava todas as ideias de arranjo transparecer, mesmo que só quando sutilmente sugeridas. Coisa de mestre.

E, por falar no Tim, que tal lembrar do irmão mais novo dele, o ótimo Chico Bernardes? “Assim” é seu novo single e prévia de “Outros Fios”, seu segundo disco, programado para este semestre ainda. Não vá ouvir esperando algo parecido com o Tim ou O Terno: é outra coisa. Parecido mesmo é a capacidade de jogar em todas as posições. Em “Assim”, Chico é o responsável por vocais, violões, percussão, baixo, synths e kalimba. Só não cuidou da bateria e do vibrafone, que ficaram nas mãos de Christopher Bear, batera do Grizzly Bear. 

11 – Maglore – “Enquanto Sós” (Acústico) (4)
12 – Julia Branco – “Baby Blue” (5)
13 – Don L – “Bem Alto” (6)
14 – Flora Matos – “Inventei o Seu Jeito de Amar” (7)
15 – Anitta – “Grip” (8)
16 – Céu – “Cremosa” (9)
17 – Trago – “Sou Eu Que Vou Trabalhar” (10)
18 – Luiza Brina – “Oração 2 (com Silvana Estrada)” (11)
19 – O Grilo – “Manual Prático do Tédio” (12)
20 – Duda Beat – “q prazer” (13)
21 – Cátia de França – “Fênix” (14)
22 – Rodrigo Mancusi – “Veneno” (15)
23 – Papisa – “Fronteira” (16)
24 – Varanda – “Vá e Não Volte” (17)
25 – Taxidermia – “Clarão Azul” (18)
26 – Mirela Hazin – “Delírio” (19)
27 – Inocentes – “São Paulo (Acústico)” (20)
28 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (21)
29 – Fresno – “Quando o Pesadelo Acabar” (22)
30 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (23)
31 – Tuyo – “Devagar” (24)
32 – Irmãs de Pau – “Megatron” (25)
33 – FBC – “Atmosfera” – Ao Vivo (26)
34 – Tom Zé – “Jesus Floresta Amazônica” (27)
35 – Haroldo Bontempo – “Risada (com João Donato)” (28)
36 – Tássia Reis – “Mais Que Refrão (com Rashid)” (29)
38 – Jota Ghetto – “Michael B. Jordan na Fila do CAT” (30)
39 – Deize Tigrona – “25 de Abril (com Boogarins)” (31)
40 – Jujuliete –  “Dominatrix” (32)
41 – Apeles – “In God’s Hands” (33)
42 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (34)
43 – Sofia Freire – “Autofagia” (35)
44 – Kamau – “Documentário” (37)
45 – Josyara – “Ralé/Mimar Você” (38)
46 – Maria Maud – “02.02” (39)
47 – Madre – “Sirenes” (40)
48 – Raidol – “Imensidão” (41)
49 – Rodrigo Campos – “Gamei” (42)
50 – Dead Fish – “11 de Setembro” (44)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o músico João Bosco.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.