Top 50 da CENA – A Sessa o que é de Sessa. Rachel Reis nos faz ouvir rádio (novamente). E Rodrigo Campos e Clima dão o clima do pódio

Voltar ao passado é impossível, dizem. Nossos nomes da semana juram que não. Sessa está nos anos 1979 (e podemos provar), Rachel Reis coloca o poder do rádio como central de sua música e Emicida volta aos tempos em que se chama LRX. Ao seu modo, cada um voltou no tempo para fazer a música do hoje. Esta é a CENA brasileira.

Já nos primeiros segundos, “Pequena Vertigem do Amor” exala anos 1970. É o baixo dos discos do Tim Maia, o violão dos discos do Jorge e as cordas sonhadas por Arthur. Com esse norte sonoro em mente, Sessa desenvolve temas como a paternidade e o cotidiano adulto. Uma busca por não perder o deslumbre com o mínimo, aprender com as crianças a ser mais criança. Nesse filme registrado em Super 8, “Carlos, Erasmo” toca ao fundo na vitrola e Sessa talvez tenha feito o seu disco que vai tocar por tardes e tardes na Tropicalia in Furs, a mesma  lojinha de discos classe A onde ele trabalhou por um bom tempo na gringa e ouviu todas as suas inspirações bem brasileiras. 

Rachel Reis ainda colhe os frutos do seu álbum “Divina Casca”, lançado em abril deste ano, mas decidiu começar a olhar já para o próximo verão. O EP “No Seu Radinho” é uma coleção esperta de músicas respeitando o conceito: canções radiofônicas e de diferentes gêneros, como se o ouvinte passeasse pelo dial e fosse encontrando a voz de Rachel em diferentes estações. Da baladinha romântica ao próximo axé mais quente e até aquela para tocar às quatro da manhã. Parece coletânea.

Rodrigo Campos e Clima são chapas de longa data e finalmente se juntaram para um álbum em parceria. Em “Questão de Educação”, resolveram recriar o modo de composição de antigos compositores de escola de samba – um faz a parte A e outro a B. Nessa alternância, os temas do disco se desenvolvem de maneira curiosa. Uma música pode versar sobre desavenças da rotina de um casal enquanto outra pode sonhar com a visita do revolucionário vietnamita Ho Chi Minh no Brasil – de fato, ele viveu no Brasil uma época! 

A expectativa na rua pelo novo disco do Emicida já é grande. Boatos dão conta de que é a volta do rapper ao som de… rua. Daqui a gente devolve: ele foi embora? Bom, discussões à parte, o fato é que o rapper reatou sua parceria com o DJ Nyack e juntos lançaram um mixtape em esquema quase piratinha. “Emicida Racional VL 3 – As aventuras de DJ Relíquia & LRX” junta a obra do Emicida com instrumentais do Racionais. Mó atmosfera boa. É o aquecimento perfeito. Ah, por ser piratinha, está em todo canto, menos plataformas de streamings. 

A simbiose é “uma associação a longo prazo entre dois organismos de espécies diferentes”. Isso talvez cause estranheza e talvez seja para causar mesmo, mas a busca de Walfredo, essa encarnação artística de Lou Alves e sua trupe, só quer uma conexão especial com o ouvinte. Sim, você mesmo. Você que também foi ovelha negra da sua família (“Rita Lee”), você que observa o “Zum Zum Zum das Abelhas”. Você é diferente, você sabe. Venha sem medo para o “Mágico Imagético Circular”, novo álbum do Walfredo.       

Mateus Aleluia não sai de casa sem bom motivo. Daí que quando ele aparece em um feat. nossa atenção se volta imediatamente. E ele colou com a mineira Bella Guerra para pedir à deusa música licença para cantar. Como um bom encontro de rios, a beleza se dá no grave de Mateus em consonância com a voz leve de Bella. É como pedir bênção aos mais velhos. Sinal de respeito e sabedoria dos jovens. A canção estará em seu primeiro álbum, “Marés”. 

Por falar em tirar o mestre de casa, só o cubano Silvio Rodriguez, espécie de Chico Buarque cubano, para tirar o nosso Chico Buarque, o brasileiro, para trabalhar. Em uma coletânea dedicada ao material do Silvio, Chico regrava sua favorita: “Pequeña Serenata Diurna”. A canção, que faz alusão à “Pequeña Serenata Nocturna” de Mozart, já tinha sido gravada por Chico em 1978 e ele e Silvio chegaram a cantá-la ao vivo na Argentina em um show celebrando a vida de Che Guevara em 1997. É dela os cortantes versos: Soy feliz/ Soy un hombre feliz/ Y quiero que me perdonen/ Por este día/ Los muertos de mi felicidad”. Só quem sabe o preço alto da liberdade para escrever algo assim. Foda. 

Dizem que é chocante ver o planeta Terra do espaço por mil razões: a vista em si, seu tamanho e os territórios sem divisões. Talvez seja assim que João Parahyba veja a música. Um mapa sem limites territoriais. Porque em “Mangundi”, seu novo álbum solo, o experiente músico junta os melhores ritmos em encontros improváveis – só ouvir “Forró World” e sua intrincada amálgama de forró com jazz. Os gringos vão chamar de world music por falta de palavra melhor, mas é música sendo música – louco que não é todo dia que deixam isso acontecer.   

Chico Chico é daqueles caras de verdade. Ficamos sabendo que no dia em que tocou em Ribeirão Preto, na semana de lançamento de “Let It Burner/ Deixa Arder”, ele colou no bar mais maneiro da cidade, o Guadalupe Café, e não no tradicional Pinguim – ainda que o chopp seja maravilhoso… E, se você achar que a escolha do bar não define o caráter da pessoa, pelo amor. Vai dormir. Dito isso, maneiro seu álbum novo. Longo para os padrões modernos, são 20 músicas que reapresentam o cantor, agora mais popular após emplacar alguns singles grandões. Não abre mão do seu lado rico de compositor e tem a manha de mexer nos clássicos igual a mãe, tipo sacar do nada “Girl from the North Country”, do Dylan.  

Um novo olhar para o mundo e você não está mais no mesmo lugar. Tori acredita nisso e tira a gente da mesmice ao mostrar a natureza que corre pelas cidades através dos rios que passam pelos céus (“Rios Áereos”), a força da música no universo (“Harmonia É do Mundo”) ou amor responsável pela gente, o amor dos avós (“Júlia e Bebéu”). Deslocar do comum. Ser lírico no real. Enxergar o invisível. Ela é areia mostrando os caminhos do vento em dunas. Faz sentido contrair seu nome, Vitória, para o pouco usual Tori. São tentativas do novo. Roubando uma frase do filósofo alemão Hebert Marcuse, ela nos traz o ar que nós também queremos respirar um dia. 

11 – Janine Mathias – “Deixa pra Lá” (7)
12 – Flau Flau – “Bye Bye” (7)
13 – Boogarins – “BENZIN” (9)
14 – YMA – “Rita” (com Sophia Chablau) (10)
15 – Silvia Machete e Teago Oliveira – “Pessoa Nefasta” (11) 
16 – Carlos Dafé – “Jazz Está Morto” (12) 
17– Pelados – “Modric” (13) 
18 – Gab Ferreira – “Começos” (14) 
19 – Lorena Moura – “Quis” (15) 
20 – Lucas Santtana e Gilberto Gil – “A História da Nossa Língua” (16) 
21 – Jup do Bairro e Negro Leo – “A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ F*** COMIGO” (17)
22 – Vanguart – “O Mais Sincero” (19) 
23 – Varanda – “Não Me” (20) 
24 – Teago Oliveira – “Desencontros, Despedidas” (21)
25 – Tasha & Tracie – “Serena & Venus” (23) 
26 – Sophia Chablau & Felipe Vaqueiro – “Cinema Total” (24) 
27 – PUSHER174 – “Eu Sou do Contra” (25) 
28 – Oruã – “Casual” (26) 
29 – Douglas Germano – “Tudo É Samba” (27)     
30 – Eliminadorzinho – “Você Me Deixa Coisado” (28) 
31 – Valentim Frateschi – “Mau Contato” (com Sophia Chablau) (29) 
32 – Chico César – “Breu” (30) 
33 – Supervão – “Love e Vício Em Sunshine (Ao Vivo)” (31)
34 – Mateus Fazeno Rock – “O Braseiro e as Estrelas” (33) 
35 – Joca – “BADU & 3000” (com Ebony) (34) 
36 – Marabu – “Rubato” (35) 
37 – Don L – “Iminência Parda” (36) 
38 – Lupe de Lupe – “Vermelho (Seus Olhos Brilhanto Violentamente Sob os Meus)” (37) 
39 – Zé Ibarra – “Segredo” (38)
40 – Mateus Aleluia – “No Amor Não Mando” (40) 
41 – Stefanie – “Fugir Não Adianta” (com Mahmundi) (41) 
42 – Vera Fischer Era Clubber – “Lololove U” (42)   
43 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (43) 
45 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (45) 
46 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (46) 
47 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (47) 
48 – Gabriel Ventura – “Fogos” (48) 
49 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (49) 
50 – BK – “Só Quero Ver” (50)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o músico Sessa, em foto de Helena Wolfenson.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro Vinícius Felix.