Aos 45 minutos do segundo tempo, a música da semana chegou. Soando clássica, soando nova, soando única. Rodrigo Campos está de disco novo, senhoras e senhores. Um forte álbum de voz e violão, reinventando o clássico brasileiro. Por falar em clássico e novo, falamos novamente do fenômeno “Maria Esmeralda” e também damos pitacos variados em músicas infantis, músicas “antigas” que descobrimos e até sobre brasilidades londrinas. Cardápio variado e saudável. Bom proveito!
Rodrigo Campos fecha com o álbum “Pode Ser Outra Beleza”, lançado nesta semana, uma segunda trilogia em sua carreira solo. Conforme ele mesmo explica, o processo que inclui “9 Sambas” (2018) e “Pagode Novo” (2023) é uma “labuta interna, tanto na busca de significado quanto na busca estética, gravando cada vez menos instrumentos e mais sozinho”. Aqui temos o auge do processo, um disco de voz e violão na busca por colar as duas emissões sonoras numa terceira coisa muito particular. É impossível não pensar em João Bosco em “Amar à Distância”, onde Campos também faz o papel de Aldir Blanc, já que joga em todas as posições. Esse “se virar” também está expresso na capa do álbum, um desenho de Romulo Fróes utilizando apenas caneta Bic. Nos tempos excessivos que geralmente escondem faltas de todos os tipos, os artistas que limpam o cenário e se despedem dos artifícios encontram o algo mais.
Precisamos falar um pouco mais do álbum mais comentado do momento: “Maria Esmeralda”. Eles já estiveram aqui no segundo lugar, lá em junho, mas é preciso um pouco mais. É um pouco difícil explicar o trabalho, porque a reunião de artistas que fez o disco não é um grupo fixo e até o streaming se confunde em como creditar o trabalho ao quinteto formado por Thalin, VCR Slim, Cravinhos, Pirlo, iloveyoulangelo. Mas, guiado pela voz e letras de Thalin e as bases dos quatro artistas, “Maria Esmeralda” convoca para uma imersão que só funciona dando play no álbum todo na ordem. Mais uma camada? O conceito do disco acontece fora do álbum. Como explicou Cravinhos em entrevista à “Veja SP”, é o disco que está contido na história de Maria Esmeralda e não o inverso. Sacou? Adicione aí também as letras que não iluminam o objeto, mas dão flashs em cenas, momentos, ideias breves. A brisa deles e a pesquisa lembra um pouquinho os momentos menos acelerados dos Beastie Boys. Desde que o grupo, que dificilmente consegue se reunir, tocou no Sesc Pompeia, artistas e curadores não falam em outra coisa.
Outra música que já tem um tempinho e merece um alô é “Tempo de Mistério”, o single mais recente da baiana Livia Nery. Com a produção de Curumin, que traz para o som sua típica densidade nos graves, Livia mergulha a gente aqui nas aventuras da maternidade, temática que atravessa a música de uma forma sublime, em especial pela habilidade de Livia de não usar um lugar comum na história. Que riqueza!
Momo., aka Marcelo Frota, é um brasileiro pelo mundo. Passou por Angola, Estados Unidos, Espanha, Portugal e agora está londrino. Seu sétimo álbum, “Gira”, que sai no dia 18 de outubro, é o primeiro gravado na capital inglesa. E lá de longe, ao lado do velho parça Wado nas letras, quem ele resolve visitar? O Brasil, lógico. E “Rio” é essa caminhada pela música a partir do piano de Jobim, a partir das ruas que inspiraram muitos dos melhores momentos da música brasileira.
A música infantil pode ser bem irritante para os pais, né? É um território que às vezes não respeita nem a criança e duvida da sua inteligência. Bom saber que agora temos um disco da turma da Tuyo se aventurando nesse território – que já foi espaço da MPB e que as novas gerações acabaram quase toda ignorando. As músicas são espertas, ternas e respeitam a discografia da banda – algumas são cheias de ousadia nos arranjos eletrônicos quebrados. Bonitinho demais.
É muito chato quando uma banda volta e não lança uma musiquinha inédita que seja. Que bom que a Rancore voltou e já está no segundo single dessa nova fornada. “Quando Você Vem” é um daqueles rock apaixonados e apaixonantes, ultrarradiofônico dos tempos que a rádio tocava rock nacional. As brechas deixadas pela letra, capaz de ampliar seu sentido, guardam um amor paterno, já que Teco fez a letra a partir da saudade que sentia do filhote em uma das badaladíssimas turnês da banda.
Ederaldo Gentil, um grande sambista, nasceu na mesma Salvador de Giovani Cidreira. Em épocas diferentes, dividiram as mesmas ruas, os bairros e os sons. De olho nessa conexão que Giovani decidiu regravar o repertório do compositor em “Giovani Cidreira canta Ederaldo Gentil”, álbum que tem a produção de Mahal Pita e Filipe Castro. O primeiro single, “Feira do Rolo”, ficou conhecida na voz de Alcione nos anos 70 e agora ganha versos inéditos de outro sábio de Salvador, o rapper Vandal. É a música mais swingada do ano e apresenta um Giovani Cidreira que ainda não vimos, mais intérprete e expandido sua rica voz. Delícia.
Rodrigo Amarante é o autor da trilha sonora do incrível “As Três Filhas”, filme que já está disponível no Netflix. Em companhia do filme, a trilha disponibiliza as canções originais entre as versões finais, demos e versões alternativas. Com Amarante cantando em inglês, como costuma acontecer em sua carreira solo. A energia das músicas, de alguma forma, lembra aquela emanada no saudoso Little Joy – uma melancolia solar.
Se Chitãozinho e Xororó cantaram “Evidências” no último Rock In Rio, uma parte da responsabilidade é da Fresno, já que o encontro da dupla sertaneja com a banda emo promovido pela MTV foi um dos motivos que deixaram a música popular entre uma nova geração de ouvintes. A gratidão deles fica… evidente… quando essa parceria deles, inicialmente restrita a ser um single, vira faixa oficial no próximo disco da dupla.
Sambadrive, trio de jazz formado por Mauro Berman, Lourenço Monteiro e Pablo Lapidusas, nasceu em improvisos do trio em aquecimento para tocarem juntos com Marcelo D2. Natural que o rapper colasse no projeto para mandar ao vivo tracks suas por aí. A formação, que só tinha visto a luz do dia nos palcos, finalmente solta uma adaptação de estúdio.
11 – Mundo Video – “O Que Nos Aproxima” (5)
12 – Dharma Numb – “Tropicaos” (6)
13 – Russo Passapusso e Josyara – “Espelho d’Água” (7)
14 – Curumim – “Só Para no Paraibuna” (8)
15 – Batata Boy – “Tudo pra Agora” (com Bruno Berle e Snowfuks) (9)
16 – Jean Tassy – “Dias Melhores” (com Don L) (10)
17 – Jonathan Ferr – “Lugar ao Sol” (com Orquestra Ouro Preto) (11)
18 – Rappin’ Hood – “Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores” (com Geraldo Vandré) (12)
19 – Jards Macalé – “Olho de Lince” (com Waly Salomão) (13)
20 – Tássia Reis – “Só um Tempo” (com Criolo) (14)
21 – Papangu – “Rito de Coroação” (15)
22 – Zé Manoel – “Canção de Amor para Johnny Alf” (16)
23 – Ale Sater – “Final de Mim” (17)
24 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (18)
25 – Swave – “Sirene” (19)
26 – Maria Beraldo – “Matagal” com Zélia Duncan (22)
27 – Caxtrinho – “Cria de Bel” (23)
28 – Bruna Mendez – “Temporal” (24)
29 – Sítio Rosa – “Lua” (com Fernanda Takai) (25)
30 – Thiago França – “Luango” (com Marcelo Cabral e Welington “Pimpa” Moreira) (26)
31 – Varanda – “Vida Pacata” (27)
32 – Vitor Milagres – “Um Barato” (28)
33 – Dora Morelenbaum – “Caco” (29)
34 – Bebé, Rei Lacoste, Giovani Cidreira e Tangolo Mangos – “Sem Ódio na Pista” (30)
35 – Apeles – “Fragment” (31)
36 – Febem – “Abaixo do Radar” (com CESRV e Smile) (32)
37 – DJ Anderson do Paraíso – “Madrugada Fria” (33)
38 – Alaíde Costa – “Foi Só Porque Você Não Quis” (34)
39 – Exclusive os Cabides – “Coisas Estranhas” (37)
40 – Chico Bernardes – “Até Que Enfim” (38)
41 – TRAGO – “Porvir” (39)
42 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (41)
43 – Papisa – “Vai Passar” (43)
44 – Antônio Neves – “Dinamite” (44)
45 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (45)
46 – Julia Branco – “Baby Blue” (46)
47 – Taxidermia – “Clarão Azul” (47)
48 – Mirela Hazin – “Delírio” (48)
49 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (49)
50 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (50)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o músico paulista Rodrigo Campos, em foto de @loumartins.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.