Top 50 da CENA -Josyara e Maglore trazem a Bahia para o topo. Giovanna Moraes chega com hard rock e falando “no!”

De olho no futuro e um tantinho no passado, o pódio desta semana é quase todo nordestino, com uma “intrusa”. A cada vez melhor Josyara e o inesgotável Maglore brilham na CENA. Interpelados por Giovanna Moraes em um rock para afugentar todos os malas inconvenientes das baladas do mundo. 

Sucessor de “Mansa Fúria” (2018), o novo álbum da baiana Josyara vai refletir o impacto da pandemia e da atual crise política social na vida da artista. Seu primeiro single, “ladoAlado”, já fala um tanto sobre isso. Repare no questionamento dos versos: “Quem sustentará o meu sofrimento?/ Quem se importará com a minha dor?/ Quem suportará quem eu sou?/ Quem tá lado a lado?”. Questões que ganham amplitude na participação especial de Margareth Menezes, uma das maiores vozes da Bahia e que tanto já teve esse reconhecimento diminuído por conta do racismo. Na faixa, Josyara cuidou de quase tudo. É dela a produção musical, a base, o arranjo, a voz e o violão. E que voz (!!!) e que violão (!!!), sempre percussivo, marcante, com a assinatura muito particular que Josyara apresenta. Prepara para mexer na sua lista de álbuns favoritos do ano, ela tá chegando forte.  

Ainda andando por Salvador, embora a banda esteja atualmente mais Sudeste e tenha gravado seu novo disco em Minas Gerais, os meninos da Maglore chegam com mais um single para “V”, primeiro álbum de inéditas da banda desde “Todas as Bandeiras” (2017). Como o tempo anda passando rápido, né? “Vira-Lata” é composição do baixista Lucas e é “uma música sobre fim de relacionamento”, nas palavras diretas da banda. De maneira semelhante com as outras músicas apresentadas até aqui, há fortes elementos dos anos 1970 na sonoridade. O violão de “Vira-Lata” caberia fácil no “Cluba Da Esquina” (1972), sem exagero. 

Giovanna Moraes, a caminho de mais um álbum (sai em setembro), está mais roqueira do que nunca em um forte single que tem inspirações em bandas que sabiam (ou sabem) pesar a mão – sejam internacionais, como o Rage Against The Machine, sejam brasileiras, como a nossa querida Far from Alaska. Entre o português e o inglês, o recado é claro: “Prazer, mas no é no”. Aliás, é interessante perceber que Giovanna, uma das autoras com personalidade mais forte da CENA brasileira e que sempre conduziu seu som para onde quis, na verdade agora está sendo conduzida ou se deixando conduzir por esse som, no caso de um rock cheio de pegada. Estamos curiosos com o álbum.

Aldo, The Band, que virou Aldo em um momento, agora é St. Aldo. A homenagem ao tio dos irmãos André Faria e Murilo Faria mudou após seu falecimento, por conta da Covid-19. Com o novo nome, a banda se deslocou para São Paulo novamente. “Esther Building”, é o novo álbum que marca essa mudança após uma curta aventura inglesa não bem resolvida. Em São Paulo, presos pela pandemia, no centro da cidade, perto da praça da República, justamente no edifício Esther, os dois mergulharam na criação de músicas que visitam a cidade e seus personagens. “Curly Mind”, que tem inspiração em Flying Lotus, por exemplo, é sobre uma amiga dos irmãos na cena alternativa dos anos 90 e que eles nunca mais viram. Aldo, ou o St. Aldo, não costuma falhar. 

Clássico é clássico e vice-versa, já cantou algum filósofo da bola. Em turnê pelo país, Geraldo e Chico, nomes de diferentes gerações, colocam suas vozes, violões e músicas para conversar. Ninguém falou em disco ainda, mas esse single com uma versão bonitona de “Dia Branco”, de Geraldo e Renato Rocha, deixa essa bola quicando. Se você não manja “Dia Branco”, dê uma chance a essa “melodia de George Harrison, misturado com a entoação nordestina”, como define Chico César. 

Filarmônica de Pasárgada, grupo idealizado na USP por Marcelo Segreto, prepara seu quarto álbum. No primeiro single, uma criativa canção que vai passeando pelas ruas e suas relações. E, para falar sobre rua, nada mais adequado que a participação especial de Tom Zé, especialista e graduado no assunto desde “Augusta, Angélica e Consolação”. 

“Não Dá para Agarrar”, novo álbum do superativo Tatá Aeroplano – seu 16º trabalho, se a gente somar carreira solo e suas bandas, como o Jumbo Elektro e Cérebro Eletrônico -, vem com tudo na abertura alucicrazy de “Discrepância”. E a discrepância está posta em seguida com um dos sons mais delicados e bonitos de 2022. “Na Beleza da Vida” tem uma letra aberta para milhões de interpretações, ainda que no molde de uma canção simples. Você entende cada palavra que Tatá canta, mas cada mente vai entender uma coisa do que é cantando. Coisa de mente brilhante mesmo.  

Coisas que acontecem andando por São Paulo. Trombamos quase sem querer um show do Irmão Victor, a persona musical do gaúcho Marco Benvegnú. E flagramos lá uma cena que a gente tava com saudade de ver – um show em que no público você encontra outros músicos supercuriosos em ver o trabalho de quem está no palco. Pelo que vimos, todo mundo curtiu e saibam: nós também. Vale muito escutar este single mais recente, mas também dar um check no álbum de 2018, “Cronópio” e sua bela capa. 

O paulistano Guizado resolveu levar seu trompete a um novo lugar no álbum “Stáretz”. Diferente do disco anterior, “Multiverso em Colapso”, por exemplo, onde uma banda acompanhava o músico, agora ele está (quase) sozinho. Seus companheiros são “programações, mpcs, softwares, pedais e samples”. Alguns amigos como Maurício Takara, Junix 11 e Maurício Tagliari até dão um reforço ocasional, mas na maior parte do tempo temos Guizado experimentando com a música eletrônica. E tome batidas quebradas, timbres mutantes. Quando parece que não ter espaço para o trompete é lá que ele acha uma brecha. Guizado chamou o disco de desafio. Desafio completado, mestre. 

Tão centrais na banda Carne Doce, talvez muitos pensem que Salma e Mac em dupla funcionam tal qual sua banda. Que nada. Ainda que por razões óbvias existam lá suas semelhanças na essência dos dois trabalhos, até por questões de repertório, são ideias bem separadas. E tudo indica que o próximo trabalho do casal, “Voo Livre”, vai afastar ainda mais as duas coisas, ao ficar ainda mais solar e pop – talvez a ponto de criar públicos distintos e tudo, especialmente quando a gente pensa no gosto do brasileiro pela pegada acústica. Daqui a gente vai apreciando tudo ao mesmo tempo e agora. 

11 – Adriano Cintra – “O Palhaço” (5)
12 – ÀVUÀ – “Famoso Amor” (6) 
13 – Ombu – “Reclama” (7)
14 – Maurício Pereira – “Um Dia Útil” (8)
15 – Ella from the Sea – “I Reach You” (9)
16 – Glue Trip – “Marcos Valle” (10)
17 – Rico Dalasam – “30 Semanas” (Ao Vivo em Belo Horizonte) (11)
18 – Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis – “Sé” (12) 
19 – Bruno Berle – “Até Meu Violão” (13)
20 – ROHMA – “Kobra (com Letrux)” (14)
21 – Índio da Cuíca – “Malandro Sempre Será / Miudinho de Malandro (Pout-pourri da Malandragem)” (15)
22 – Gorduratrans – “Arão” (16)
23 – Celeste – “Lei de Benford” (17)
24 – Juçara Marçal – “Odumbiodé” (18)
25 – Tom Zé – “Hy-Brasil Terra Sem Mal” (19)
26 – Sessa – “Canção da Cura” (20)
27 – Mulamba – “Barriga de Peixe” (com Kaê Guajajara) (21)
28 – João Gordo–  “Ciganinha” (22)
29 – MC Tha – “São Jorge” (com Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Sueide Kintê) (24)
30 – Do Amor – “Por Essa Rua É Ruim” (25)
31 – Chico Buarque – “Que Tal Um Samba?” (part. Hamilton De Holanda) (27)
32 – Tim Bernardes – “Última Vez” (28)
33 – Letieres Leite & Orquestra Rumpilezz – “Coisa n°5 – Nanã” (com Caetano Veloso) (29)
34 – AIYÉ – “Exu” (30) 
35 – Jair Naves – “Meu Calabouço (Tão Precioso É o Novo Dia)” (31)
36 – Moons – “Best Kept Secret” (32)
37 – Elza Soares – “Mulher do Fim do Mundo” (Ao Vivo) (33) 
38 – Alaíde Costa – “Aurorear” (34)
39 – Bruno Capinam – “Ode ao Povo Brasileiro” (36)
40 – Rico Dalasam – “30 Semanas” (39)
41 – Criolo – “Ogum Ogum” (com Mayra Andrade) (40)
42 – Thiago Jamelão – “Diálogo sobre Vivência” (41)
43 – N.I.N.A. – “Anna” (43)
44 – Saskia – “Quarta Obra” (44)
45 – Rashid – “Pílula Vermelha, Pílula Azul” (45)
46 – Sérgio Wong – “Filme” (46)
47 – Radio Diaspora – “Ori” (47)  
48 – LAZÚLI – “Pomba Gira” (48)
49 – Valciãn Calixto – “Aquele Frejo” (49)
50 – Luneta Mágica – “Além das Fronteiras” (50)

* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora, guitarrista e produtora baiana Josyara, em foto de Maria Mango.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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