Top 50 da CENA -A semana é da Juçara. Tom Zé ensina no segundo posto. Sessa cola em terceiro

MC Tha fez um gesto criativo muito legal para seu novo EP. Criou um programa de televisão fictício onde ela própria apresenta todas as cinco músicas de seu novo trabalho. A apresentadora do programa de brincadeira, que faz referência a um programa real apresentando por Alcione nos ano 1970 e 1980, usa no vídeo uma frase que a gente adora repetir por aqui: “A música mais bonita do mundo: a nossa”, se referindo à música brasileira. E esta semana está aí para provar que estamos tendo, sim, a melhor CENA musical do mundo – a mais bonita, sem dúvida. Este ranking abaixo, com nove estreias e um Chico, é a prova.

Juçara Marçal lançou um pequeno EP que dialoga com seu álbum mais recente, “Delta Estácio Blues”. Não por acaso, se chama “EPDEB”. O resultado parece um conjunto de cenas extras, como se DEB fosse um filme e as músicas do EP são aqueles momentos que ficaram de fora do corte final por questões narrativas. Cenas lindas que não caberiam tão bem no conjunto, como é o caso desta composição de Juçara com Kiko Dinucci e Rodrigo Campos ao “mais antigo dos Odé”, que tem a participação especialíssima de Paulo Santos na percussão – Paulo é co-fundador do Uakti, grupo de música instrumental que experimentava e criava instrumentos. Outra que a gente amou é a composição da Jadsa, que tem participação dela, inclusive: “Um Choro”.  

Tom Zé está de disco novo na praça: “Língua Brasileira”. Ainda que não leve um nome semelhante aos seus famosos estudos – “Estudando o Samba” (1976), Estudando o Pagode  (2005) e “Estudando a Bossa” (2008) -, estamos diante de mais um novo e profundo estudo de Tom, uma característica permanente de suas obras. E ele traz descobertas, como conta no texto que soltou junto com o álbum: “Nós nos orgulhamos da língua cantabile melodiosa que falamos no Brasil. As averiguações mostram que herdamos isso de uma antiga língua africana e negra: o quimbundo. Falamos, com pouso nas vogais, uma língua quase cantada, em vez daquelas consoantes acentuadas preferidas em Portugal”. “Hy-Brasil Terra Sem Mal”, canção que abre o disco, traz muita pesquisa, da contínua procura tupi-guarani por uma terra sem mal até uma história celta sobre uma mitológica ilha chamada Hy-Brasil, sempre inalcançável. Dessas procuras, Tom faz a sua própria: por um Brasil sem fuzil, sem bala civil. Como acontece sempre, agora o caso é de estudar tudo que o Tom Zé trouxe em mais um belo disco.    

Em seu segundo álbum solo, o primeiro após a pandemia, que interrompeu as apresentações de “Grandeza”, Sessa, paulistano com fortes conexões internacionais, foi buscar em antigos discos de música brasileiras uma essência sonora clássica. “Feito a mão”, de acordo com ele mesmo, ao lado de parcerios como Marcelo Cabral (baixo), Gabriel Basile (bateria, percussão e produção) e Paloma Mecozzi, Ina, Laura Rosenbaum e Cecília Góes (vozes), entre outros colaboradores, tem um resultado bem bom, dá para dizer. Só notar a ambiência desse violão, daquelas em que você escuta a mão deslizando pelas cordas atrás de cada acorde.  

O segundo álbum da banda curitibana tem um toque especial: ao passo que novas influências musicais trazem um aspecto talvez mais suave ao som do grupo. A firmeza política presente no primeiro trabalho delas se mantém intacta. Formada por Amanda Pacífico, Cacau de Sá, Caro Pisco, Érica Silva, Fer Koppe e Naíra Debértolis, a banda traz em todas as canções seu recado de liberdade. Seja celebrando ela, seja denunciando quem a ataca. A exploração da natureza sem medo de detonar o mundo é o assunto de “Barriga de Peixe”, canção que tem participação de Kaê Guajajara. Esta faixa também dá uma boa demonstração de como a banda adicionou a música eletrônica ao seu trabalho, uma novidade em relação ao primeiro disco.      

O grande vocalista do Ratos de Porão, muito famoso não só musicalmente, segue no seu intuito em transformar em punks algumas das mais conhecidas músicas bregas do portfólio brasileiro. E transformar isso num disco, cujo apropriado título é “Brutal Brega”. Depois de “Fuscão Preto” e de “Tenho” (Sidney Magal), Gordo nos revela, agora, o clássico “Ciganinha”, de Carlos Alexandre. Em especial esta última, ficou muito boa. Principalmente para a geração que não ouviu ela no programa do Barros de Alencar ou na TV, no Chacrinha.

Chico César sempre faz sons pulsantes, mas não lembramos de cabeça de outro momento dele se arriscando em uma levada de discoteca bem oitentista igual a da excelente “Vestido de Amor”. Se no seu álbum anterior o amor era uma revolução, agora ele está pronto para mudar o mundo com “o corpo leve em voo e a alma a flutuar”. A música foi escrita ao redor do mundo: um pouquinho no Brasil, um tanto no Uruguai e outro tanto na França – tanto que o coro é em francês. 

Mc Tha mergulhou no repertório de Alcione atrás de canções com referências afro-religiosas registradas pela Marrom em um novo EP, “Meu Santo É Forte”. Buscou dos anos 1970 até os anos 2000. Encontrou joias escritas por Ederaldo Gentil, Oscar da Penha, Claudinho Azeredo, Paulo César Pinheiro, Nei Lopes e Reginaldo Bessa, Edil Pacheco, Roque Ferreira, Telma Tavares. Ao lado de Mahal Pita, Mc Tha trouxe essas músicas para seu universo em uma conversa entre tradição e futuro. Ou, nas palavras de Daday Silva, personagem que Tha criou para o fictício “Clima Quente Show”, vídeo onde ela apresenta todas as músicas de seu novo EP, “uma saudação à música afro, pop, brasileira e a todos os santos”. 

A turma carioca do Do Amor promete desde fevereiro um disco novo. Até agora nada, mas eles vêm single a single dando presentes para os fãs. O mais recente é este “xote psicodélico”, nas palavras de Benjão. Que segue em sua explicação: “Os caminhos da vida e das relações muitas vezes são difíceis e tortuosos, e isso nos ensina a arrumar maneiras novas de acessar os sentimentos e a ter força para trilhar o caminho do amor”.  

A banda baiana Maglore chegou com um novo single que é aquele recado bem direto a certas pessoas aí. Ou é preciso explicar melhor versos como “Eles/ Fuzis e botas em altos brasões/ Forjam verdades e conspirações/ Raio divino e exterminação/ Pura avareza”? Musicaça.

E, por falar em Caetano Veloso, ano passado em seu disco ele comentou que “Sem samba não dá” ao afirmar os valores da música brasileira. Chico Buarque apareceu então com a pergunta e a resposta. Um samba para levantar o astral, mudar o clima, melhorar o jogo. Se essa resposta ao Caetano é mais uma abstração nossa, há pelo menos uma menção mais direta, quando Chico menciona “Beleza Pura” de Caetano (“Não com dinheiro/ Mas a cultura/ Que tal uma beleza pura”). E será que o fã de futebol Chico Buarque está encantado com Abel Ferreira? Tem um verso que lembra a frase do treinador do Palmeiras que virou até título de livro (“Coração pegando fogo/ E cabeça fria). Ok, talvez a gente esteja exagerando… E tudo é muito bem acompanhando pela beleza pura que é Hamilton de Holanda e seu bandolim quente, pegando fogo. Que música gostosa.

11 Tim Bernardes – “Última Vez” (1)
12 – Letieres Leite & Orquestra Rumpilezz – “Coisa n°5 – Nanã” (com Caetano Veloso) (3)
13 – AIYÉ – “Exu” (4)
14 – Black Alien – “Fica Até umas Hora” (5)\
15 – Jair Naves – “Meu Calabouço (Tão Precioso É o Novo Dia)” (6)
16 – Moons – “Best Kept Secret” (7)
17 – Elza Soares – “Mulher do Fim Do Mundo” (8) 
18 – Alaíde Costa – “Aurorear” (9)
19 – Luna França – “Como” (10)
20 – Joyce – “Feminina” (1977, Claus Ogerman) (11)
21 – Bruno Berle – “Quero Dizer” (12)
22 – Maurício Pereira – “Um Teco-Teco Amarelo em Chamas” (13)
23 – Bruno Capinam – “Ode ao Povo Brasileiro” (14)
24 – Urias – “Je Ne Sais Quois” (15)
25 – RT Mallone – “100 Balas” (com Coruja BC1) (16)
26 – Maglore – “Amor de Verão” (17)
27 – Rico Dalasam – “30 Semanas” (18)
28 – Criolo – “Ogum Ogum” (com Mayra Andrade) (19)
29 – Thiago Jamelão – “Diálogo sobre Vivência” (20)
30 – João Gomes – “Me Adora” (21)
31 – Black Pantera – “Estandarte” (com Tuyo) (22)
32 – Ratos de Porão – “Necropolítica”(23)
33 – N.I.N.A. – “Anna” (24)
34 – Saskia – “Quarta Obra” (25)
35 – Rashid – “Pílula Vermelha, Pílula Azul” (26)
36 – Otto – “Tinta” (27)
37 – Assucena – “Ela (Citação a Menina Dança)” (28)
38 – Walfredo em Busca da Simbiose – “Netuno” (29)
39 – Gorduratrans – “Enterro dos Ossos” (30)
40 – Glue Trip – “Lazy Days” (com Arthur Verocai) (32)
41 – Sérgio Wong – “Filme” (33)
42 – Radio Diaspora – “Ori” (34)
43 – Florais da Terra Quente – “Suco de Umbu” (com Chapéu de Palha) (39)
44 – Narcoliricista – “Bem Pertin” (40)
45 – LAZÚLI – “Pomba Gira” (42)
46 – Valciãn Calixto – “Aquele Frejo” (43)
47 – Labaq – “Dóidóidói” (46)
48 – Jota.pê – “Preta Rainha” com Kabé Pinheiro e Marcelo Mariano (47)
49 – Luneta Mágica – “Além das Fronteiras” (48)
50 – Diogo Strausz – “Deixa a Gira Girar” (49)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora Juçara Marçal.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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