Cabe tudo no Top 50. Da calmaria ao barulho. Da “Vila do Sossego” de Chico Chico ao “Storm The Gates” do Soulfly. Não tem mau contato, embora haja “Mau Contato”, uma belezinha escrita pela surpresa da semana, o fonseco Valentim Frateschi solo!

Talvez o nome Valentim Frateschi ainda não seja reconhecido por você. Mas, talvez ainda, se você acompanha um tantinho da CENA, já trombou com ele por aí. Baixista dos Fonsecas, ele também toca com nomes como Nina Maia, Francisca Barreto e o bombado Maria Esmeralda. O recém-lançado “Estreito” é sua excelente estreia solo e vale confiar em suas palavras: o disco é mesmo uma “um cruzamento entre João Donato, Jards Macalé e Arthur Verocai com Crumb, BADBADNOTGOOD e Yellow Days”. Não acredita? Repara nos tempos quebrados e os timbres estranhos nesta metáfora sonora a compor “Mau Contato”, onde faz um dueto com Sophia Chablau. Pelos caminhos tortos, Valentim percorre bem.
“Vila do Sossego”, de Zé Ramalho, era querida por Cássia Eller. Tanto que existe um registro dela cantando a música no esquema voz e violão ao vivo. Anos depois, seu filho Chico Chico regrava ela em esquema mais roqueiro, com banda e tudo, inclusive dois camaradas de sua mãe: Fernando Nunes e Walter Villaça. A faixa deve estar no seu próximo álbum solo de estúdio, previsto para algum momento até o fim deste ano, já que ele também prepara um ao vivo ainda em 2025. Trabalhador esse menino.
O Soulfly é das poucas bandas que pode frequentar nossa lista de lançamentos gringos e brasileiros. Por isso, nesta semana, está aqui e lá. Atualmente formada por Max Cavalera, seus filhos Igor Amadeus Cavalera e Zyon Cavalera e o guitarrista Mike de Leon, a banda segue uma multinacional. Cantando em inglês, o novo álbum deles terá título em português, “Chama”. Aproveitando os múltiplos sentidos, Max quer falar tanto de fogo quanto no viés de convocação, de chamar para briga, talvez. Max conta que o álbum é dedicado a Alex Pereira, lutador que usa “Itsári” do Sepultura como trilha de suas entradas. A banda foi atrás dessa energia. “Storm the Gates”, este primeiro single lançado, dá o tom. O disco chega em outubro.
No Top 10 desta semana, falamos de uma música de Billy Bragg denunciando como a fome é usada como arma de guerra contra o povo palestino há mais de 100 anos, do imperio inglês ao governo israelense. No Brasil, dos poucos que tocaram no assunto, Chico César também fez sua denúncia. Com forte inspiração nas músicas de protesto de Dylan, donas de longos versos, “Breu” abre com os seguintes dizeres: “Imagens da NASA mostram
o antes e o depois de Gaza/ morreu quase todo mundo/ e quem sobreviveu não tem luz”. A música ainda não foi lançada oficialmente, mas há um registro ao vivo postado em seu Instagram. Ele também anda tocando a faixa no bis dos shows da turnê “Chico César aos Vivos 30 Anos”.
Um dos nossos discos favoritos do ano passado, “Amores E Vícios da Geração Nostalgia”, ganhou uma mini versão ao vivo no EP “AVGN na Radio Agulha”, gravado em um esforço coletivo DIY, de acordo com a banda, no início dos trabalhos da Rádio Agulha, dos espaço mais legais em Porto Alegre ao juntar web rádio, bar, auditório e café.
O que aconteceu no Brasil que não para de nascer banda de shoegaze legais? Apesar da barulheira, no novo álbum dos gaúchos da Bella e o Olmo da Bruxa, “Afeto e Outros Esportes de Contato”, destacamos esta bela e direta balada acústica de temática LGBTQIA+. “Deus, Gay”, que de alguma maneira ecoa a pixação de Kurt Cobain, retrata as inseguranças de um casal com o relacionamento. Um amor que infelizmente traz risco tamanho preconceito e recupera uma timidez juvenil (“Parece que eu tô na escola”). Ao fim, a pergunta cortante e angustiada: “Se Deus não existe mesmo/ Então qual é o mal da gente se amar?”.
Mesmo nas músicas mais fervidas e provocantes, Urias sempre foi muito política nas letras. É uma artista de força, uma mulher trans em busca da liberdade no Brasil, um dos países mais violentos com a população LGBTQIA+. Em “Diaba”, ela escreveu: “Sua lei me tornou ilegal/ Me chamaram de suja, louca e sem moral”. Agora, nesta incrível “DEUS”, o assunto é a colonização e a morte do Deus dos colonizados pelo colonizador: “Me lembro bem que me roubaram demais/ Levaram Deus/ E é por isso que eu não amo nunca mais”. A composição é assinada por ela com Criolo, Giovani Cidreira, Rodrigo Gorky e Nave. A música estará em seu próximo álbum, “CARRANCA”.
O que fazer na Alemanha? Ouvir krautrock, lógico. Foi isso que o pessoal do grupo paulista Bike fez durante sua tour pelo país, turnê que incluiu também Suíça, Itália, Portugal, Polônia, Inglaterra, França e Espanha. Inspirada no lendário grupo Neu! e nas imagens vistas na estrada, a banda define o som como uma “mensagem do companheirismo e espírito de equipe que sempre fica mais forte nessas turnês”. A faixa estará em “Noise Meditations”, álbum que sai no dia 5 de setembro em vinil e no Bandcamp. Uma semana depois chega nos outros streamings. Uma boa ideia para incentivar as vendas.
Em “Vem, Love”, Felipe Cordeiro encaixa uma guitarra frenética no ritmo do batuque do Amapá. Ele próprio explica: “O batuque é tocado e reverenciado por populações quilombolas do Amapá, do ladinho do meu Pará. É um ritmo afro-amazônico intenso, forte, catártico”. Para completar a receita, Felipe chamou Otto e Duda Brack. Na produção, Marcos Cuper. A percussão, um dos grandes baratos da faixa, ficou a cargo de Franci Óliver e Aiyra. A promessa de Felipe é estrear o som ao vivo em sua apresentação semana que vem no festival giga The Town, em Interlagos.
Ronaldo Bastos é dos melhores letristas da história da música brasileira. Parte do material do Clube da Esquina veio de sua cabeça iluminada de sol. Sem ficar parado no tempo e espaço, se conectou com nomes das novas gerações (de Roupa Nova a César Lacerda) e um de seus parceiros é Pélico, com quem vai lançar um álbum todinho de inéditas parcerias. Trem bão.
11 – Pelados – “Whatsapp 2” (6)
12 – Walfredo em Busca da Simbiose – “Rita Lee” (7)
13 – Ana Frango Elétrico – “Luz Del Fuego” (8)
14 – Nina Maia – “Manha” (9)
15 – Janine Mathias – “Um Minuto” (10)
16 – Deekapz – “Onde Anda o Meu Amor” – com Criolo, DJ Marky, Makoto (11)
17 – Paira – “Ao Mar” (12)
18 – Rogério Skylab – “Mão no Pau” (15)
19 – Mateus Fazeno Rock – “O Braseiro e as Estrelas” (16)
20 – Duda Beat – “Foi Mal” (com Boogarins) (17)
21 – Eliminadorzinho – “Cinza e Carmezim” (18)
22 – Lau e Eu – “O Sonho de Minele…” (19)
23 – Rashid – “Conversas Que Nunca Tivemos” (20)
24 – Joca – “BADU & 3000” (com Ebony) (22)
25 – Marabu – “Rubato” (23)
26 – Crizin da Z.O. – “Fatal” (com Edgar) (24)
27 – Ogoin e Linguini – “Sorte de Amor” (25)
28 – Rico Dalasam – “Dilema” (26)
29 – Don L – “Iminência Parda” (27)
30 – Lupe de Lupe – “Vermelho (Seus Olhos Brilhanto Violentamente Sob os Meus)” (28)
31 – Luedji Luna – “Bonita” (com Alaíde Costa e Kato Change) (30)
32 – Joaquim – “Emboscada” (31)
33 – Zé Ibarra – “Segredo” (32)
34 – Jadsa – “Samba pra Juçara” (33)
35 – Mateus Aleluia – “No Amor Não Mando” (34)
36 – Antropoceno – “Queda do Céu” (35)
37 – clara bicho – “Meu Quarto” (36)
38 – Stefanie – “Fugir Não Adianta” (com Mahmundi) (37)
39 – Maré Tardia – “Ian Curtis” (38)
40 – Vera Fischer Era Clubber – “Lololove U” (39)
41 – Josyara – “Eu Gosto Assim” (40)
42 – Rael – “Onda (Citação A Onda) (com Mano Brown e Dom Filó) (41)
43 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (42)
44 – Terraplana – “Todo Dia” (44)
45 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (45)
46 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (46)
47 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (47)
48 – Gabriel Ventura – “Fogos” (48)
49 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (49)
50 – BK – “Só Quero Ver” (50)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o músico Valentim Frateschi.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.