Top 50 da CENA – Josyara gosta assim: em primeiro lugar. Mais uma nova do Terno Rei no pódio. Rachel Reis chama Jorge Ben

Bahia, São Paulo e Bahia de novo. Ficou assim o pódio da semana, uma semana com muitos bons lançamentos. E não estamos falando de single, estamos falando de álbum. Disco cheio de música para absorver, pensar e dançar, lógico. Pô, até o Terno Rei tá dançante. Vamos sacudir. 

Gilberto Gil diz que aprendeu a gostar de gostar, avançando na ideia de Warhol que a pop art é gostar das coisas. É uma ideia simples, mas viramundo total. Ainda mais quando a negação é a tônica. Josyara retoma esse “gostar de gostar” salvo em verso na deliciosa “Eu Gosto Assim”, composição de Anelis Assumpção. A releitura do som lançado por Anelis em 2014 abre com um sorriso o novo álbum de Josyara, “AVIA”. A letra até lista o que não se gosta, mas o que ressoa são as imagens boas, aqui desenhadas na voz e violão únicos de Josy: pôr do sol na praia, cerveja gelada, as crianças no quintal, mambo na vitrola, tabaco na paia, transar e dormir de conchinha, jogar conversa fora. Gostamos assim. E gostamos muito da Josyara. Aprende a gostar de gostar dela também, se já não. Te fará bem.

É bom ser surpreendido. Isso acontece em “Peito”, música de abertura de “Nenhuma Estrela”, quinto álbum de estúdio do quarteto paulistano. Ela começa climática, lembrando coisas passadas do Terno Rei. Porém, quando ela ameaça virar um rock básico, eles (re)quebram a faixa. A bateria de Luís Fernando Cardoso toma conta e dá o tom – aquele grave que estoura no peito mesmo. Ale Sater se desdobra nas vozes, incluindo falsetes, contribuindo para o novo clima oferecido. É o Terno Rei balançando os quadris (ou quase). Para fechar, tem o nostálgico sax de Gustavo Schirmer, o quinto beatle deles, dando aquele climinha de rádio adulta na madrugada. 

Aliando bem tradição com modernidade, Rachel Reis defende o amor na bela “Jorge Ben”. Uma sacada e tanto unir a defesa do sentimento com uma rica homenagem ao compositor. Jorge Ben é saudado por aqui nas sutilezas. Tem seu toque do violão referenciado e a métrica da letra de Rachel tenta emular aquele jeitão meio falado do Jorge, capaz de fazer muito texto caber em um espaço curto. Em “Divina Casca”, Rachel cumpre com sucesso a dura missão do segundo álbum após viver um fenômeno logo na estreia. “Meu Esquema”, lançado em 2022, rendeu indicação ao Grammy Latino. Além da crítica, o público adotou Rachel para si. O apelido sereiona, que ela ganhou de seu produtor, foi adotado pelos fãs e grudou. Quando um artista ganha um carinhoso assim é sucesso garantido.

“Te Esperei” é daquelas canções de moer o coração. Escrita por Pélico, que prepara álbum novo, a música fala sobre um relacionamento onde só uma parte parece interessada na outra. “Cê não soube enxergar/ Nunca vai enxergar o que eu vi”, lamenta sobre o arranjo classudo e básico, piano e violoncelo. Esse minimalismo abre espaço para as vozes bem diferentes de Pélico e CATTO se unirem. Se a letra é sobre desencontro, o encontro entre os artistas aqui é perfeito. E mesmo dolorida, a canção tem sua luz, já que a pessoa se encontra em si: “Resolvi me amar, decidi ser alguém/ Bem capaz de fazer muita gente feliz”.

2006 e a internet ainda não era o centro do mundo. Foi por ali que o gquarteto carioca Moptop se tornou uma das poucas bandas a trazer um arzinho do indie rock gringo da época para as frequências radiofônicas e televisivas brasileiras, tomadas pelo emo de gravadora. A banda, aliás, era esperta no uso da internet: foi descoberta online por lembrar muito o Strokes, tinha o site mais legal de todos e chegaram a postar um falso documentário sobre a gravação do primeiro disco, nos primórdios da ideia de viral. Em 2010, o rock acabou para eles, mas a banda resolveu retomar as atividades neste ano e vai lançar um disco de inéditas. “Last Time” (sim, teve quem lesse “Last Nite” e não deve ser por acaso a escolha deles) é o primeiro single e retoma a história de onde parou, porém em inglês – eram boas as letras em português… O show anunciado em São Paulo para junho esgotou muito rápido. Ê, saudade!

Agora que está feito parece óbvio, mas como soa bem uma versão midwest emo para “Metade”, de Adriana Calcanhotto. Aliás, midwest emo que nada, será que estamos falando do emo caipira? O Metade de Mim é uma banda de Jundiaí, já conta? Fica a pergunta. “Metade” é o terceiro single deles. Renan Sales, Felipe Angelim, Matheus Caccere, Fernando Oska e Danilo Tanaka trabalham no primeiro álbum. Em breve, teremos mais notícias. 

Aliás, por falar em emo caipira, descemos dia destes no Hangar e vimos um showzão do Bella e o Olmo da Bruxa, banda do Rio Grande de Sul. Sim, a banda não é paulista, mas se encaixa perfeitamente na cena que inclui nomes como Chococorn and the Sugarcanes, Chão de Taco, Viúva Fantasma, Mães Católicas e Jonabug. “A Melhor Música do Mundo” é um single do ano passado, mas está ganhando uma sobrevida por agora, talvez na hora certa. Uma canção confessional bonita sobre o medo de errar, dores do começo da vida adulta. É para os jovens, mas vai ressoar em todos que ainda têm coração.   

E ainda no clima baixo-astral gostosinho, o Terno Rei lançou outro single de sua série, certamente o mais melancólico do seu novo álbum, a faixa-título “Nenhuma Estrela”, canção que captura angústia de alguém em um relacionamento bem tóxico. “Não quero mais um trauma/ Não, não/ Cansei de insistir”, canta Ale Sater, como quem finalmente consegue dar voz ao sentimento difícil de querer escapar. Agora estamos pertinho do lançamento do álbum, 15 de abril. 

Mais legal que ouvir Gab Ferreira cantando em inglês é ouvi-la em bom português. “Sabe amor/ A gente se esquece de olhar pro céu”, não é só um baita verso, é também grudento à beça. Combina perfeitamente com sua mudança sutil na sonoridade, mais soltinha, mais indie, mais psicodélica. É um convite. Ainda que cantar em inglês tenha colaborado para que seu público fosse muito além do Brasil, é falando direto aos brasileiros que ela pode estabelecer uma base bem legal por aqui. Vamos ver como vem seu primeiro álbum, que também se chamará “Carrossel”. 

A cantora maranhense Enme traz do Nordeste um bom respiro ao rap nacional. Com seu flow veloz e explorando uma mistura de afrobeat, amapiano e reggae, chega sem medo a um som perfeito para pistas de dança. Os refrões, então, são pop e deliciosos. O mineiro FBC é o feat. perfeito para esta música, ele também um explorador da mesma vertente meio disco. Somzão. Hit. 

11 – Marina Sena – “Anjo” (6)
12 – Mahmundi – “Irreversível” (7)
13 – Superafim – “MOUTH” (com Duda Beat) (8)  
14 – Julia Mestre – “Vampira” (9)
15 – Fresno – “Camadas – (Sabor Churrasco)” (10)
16 – Jadsa – “Big Bang” (11) 
17 – Clara Bicho – “Cores da TV” (13) 
18 – Rael – “Onda (Citaçaõ A Onda) (com Mano Brown e Dom Filó) (14)
19 – Leves Passos – “Ecos do Invisível” (15) 
20 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (16)
21  – Djonga – “Demoro a Dormir” (com Milton Nascimento) (17)
22 – Jovens Ateus – “Mágoas – Dirty Mix + Slowed Reverb” (18)
23 – Danilo Moralles – “Fervo de Amor” (19)
24 – Celacanto – “Dançando Sozinho” (20)
25 – Arnaldo Antunes – “Pra Não Falar Mal” (com Ana Frango Elétrico) (21)
26 – Ogoin & Linguini – “Vícios Que Eu Gosto” (22)
27 – Bufo Borealis – “Urca” (23)
28 – Terraplana – “Todo Dia” (24)
29 – Áurea Semiseria e  Deize Tigrona – “Isqueiro” (25)
30 – Charanga do França – “Charanga Pagodão” (26)
31 – Marina Melo – “Prometeu” (com Maurício Pereira) (27)
32 – Vera Fischer Era Clubber – “Fantasmas” (28)
33 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (29)
34 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (30)
35 – Nina Becker – “Praia, Cinema e Carnaval” (31)
36 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (32)
37 – Getúlio Abelha – “Toda Semana” (33)
38 – Siba – “Máquina de Fazer Festa” (com Ronaldo Souza) (34)
39 – Gabriel Ventura – “Fogos” (35) 
40  – Nyron Higor – “São Só Palavras” (36)
41 – BK – “Só Quero Ver” (com Evinha) (37)
42 – Jamés Ventura – “Noites de SP” (38)
43 – Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro – “Nova Era” (39)
44 – Heal Mura – “Wu Wei” (40)
45 – Rei Lacoste – “Sem Paz” (42)
46 – Menores Atos – “Pronto pra Sumir” (43)
47 – Panteras Venenosas – “Ai Que Saudade” (44)
48 – Igor de Carvalho – “Pra Te Esquecer” (45)
49 – BaianaSystem – “A Laje” (46)
50 – Maré Tardia – “Já Sei Bem” (49)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a artista baiana Josyara, em foto de Natalia Arjones.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro Vinícius Felix.