Na semana em que começa o Carnaval no Brasil, pelo menos oficialmente, estamos com Timbalada via Josyara no primeiro lugar do Top 50. Soa corretíssimo. Mas como tem gente que fica triste no Carnaval, achamos espaço para Luiz Melodia e um Velvet Underground que navega por águas brasileiras – aliás, direto de Salvador. É Carnaval, here she comes.
Após dois álbuns autorais, a baiana Josyara escolheu o dia de Iemanjá para lançar um EP dedicado ao repertório da Timbalada. Ao retirar a percussão das músicas do grupo para um formato voz e violão, Josyara dá outros tons as canções. Quer um exemplo? Diferente de Caetano Veloso, que também já verteu “Mimar Você” para voz e violão interessado em destacar sua riqueza harmônica, Josyara usa o violão para indicar justamente onde a percussão canta e dá corpo à canção. Duas abordagens distintas que se completam. “Ralé” merece destaque também por abrir o álbum como denúncia ao genócidio que acontece agora na Palestina – mostrando como o valor político da canção original se mantém. “Muitas pessoas se utilizam da religião para massacrar outras, esquecendo que a própria figura de Jesus vem do lugar da escassez, do combate às opressões e defesa dos mais pobres. Esta é uma reflexão urgente para o mundo todo”, pontuou Josyara. A gente já botou às pressas uma música desse disco dela no top da semana passada, mas agora decidimos fazer o serviço direitinho.
“Pérola Negra”, clássico de Luiz Melodia lançado em 1973, álbum que mais parece uma coletânea, completou 50 anos no ano passado. Com um leve atraso, mas tudo certo, o EP “Pérolas Negras – Um Tributo a Luiz Melodia”, produzido por Mahmundi, faz a justa homenagem. Seis canções do álbum são revistas nas vozes de Criolo, Liniker, Mart’nália, Sandra de Sá, Anelis Assumpção e Zezé Motta. A própria Mahmundi cuida da bela “Estácio, Holly Estácio” com classe.
Celebrar álbuns não é uma tradição que o rock brasileiro conseguiu estabelecer. Seja com shows ou com bons relançamentos, estamos carentes neste setor. Mas Pitty quebrou essa escrita e conseguiu lançar um material abrangente para celebrar os 20 anos de sua estreia com “Admirável Chip Novo”. Até aqui temos um disco com versões feitas por outros artistas, relançamento de covers que ela gravou na época que só existiam em DVD e agora um disco ao vivo que retrata o que foi a turnê dedicada a tocar o disco de cabo a rabo. De extra, o repertório da apresentação tem uma longa sessão de versões muito boas: “Sailin’ On”, do Bad Brains, “Love Buzz” do Shocking Blue, citação a “Ando Meio Desligado” dos Mutantes e “Femme Fatale”, do Velvet Underground – músicas que dão a amplitude musical da Pitty, um das muitas explicações de sua carreira bem-sucedida. Quando o rock brasileiro mainstream vivia uma época careta, foi ela que colocou na roda como a cena independente fervia bem mais. Sabe das coisas a Pitty. Ternura e hardcore.
Madre é como Luiza Pereira, ex-Inky, se apresenta agora em sua primeira aventura solo. “Sirenes” é o terceiro single do projeto. E, dentro do que será o primeiro álbum da Madre, foi colocada como última faixa. E isso tem um simbolismo todo: a música se encerra com um synth arpeg, o instrumento de Luiza na antiga banda. Uma de suas características mais reconhecidas sendo apresentada no último momento do novo álbum. Quais serão os motivos? “Tem uma certa ironia aí”, considera Luiza. E, pensando na letra, quais serão as sirenes que tocam do lado de dentro e de fora? Serão medos? O despertar de uma novidade? Uma epifania?
Mais um álbum dedicado a Caetano Veloso? A gente que não vai reclamar. Até porque a abordagem de Ayrton Montarroyos é bem diferente da de Xande de Pilares. Ayrton coloca agora em disco uma live sua dedicada ao compositor lá em 2021 feita com instrumentação minimalista comandada por Arquétipo Rafa e Rodrigo Campos. O formato mínimo caí como uma luva em canções como “Peter Gast, um lado b elegante de Caetano, que já era quieta em sua versão original, mas aqui ganha elementos eletrônicos e novos deslocamentos. Outro aspecto interessante é que Aryton se debruça sobre canções bem recentes, como “GilGal” e “Não Me Arrependo”.
Baterista da Fresno, Guerra está com a turma nos preparativos do próximo álbum do time, incluindo aí sua turnê e divulgação – recentemente gravaram vídeo com a Pabllo Vittar. Mesmo com essa trabalheira toda, ele descola tempo para aventuras solos que estão saindo agora em singles. “É Massa” é um desses experimentos, um frevo-pop. Ode à leveza, à curtição, afinal, é massa.
Também repleta de frescor, Céu se juntou com o superprodutor baiano RDD, do ÀTTØØXXÁ, para uma canção novinha. Bem tropical, daquelas que chamam o Carnaval. Uma conversa sobre ex e expectativas. Monogamia com a própria liberdade, saca? Daquelas que pedem o repeat e o repeat. Cremosidade sonora.
Uma das músicas mais deliciosas que você vai ouvir neste Carnaval, o novo single da artista paraense não-binária e amazonida Raidol traz no balanço deste som exatamente todas as qualificações/definições que a precedem: tem ginga baiana, uma guitarradinha paraense, resvala no brega e possui uma das letras mais simples e eficazes apresentadas neste ano na nossa nova MPB.
Na sua exploração sonora de dar novas dimensões nas gravações de samba e na investigação que prova o valor do pagode como movimento semelhante a tropicália ou a bossa nova, Rodrigo Campos abre espaço para um clássico do gênero via Exaltasamba. “Gamei” é parte do repertório do Pagode Do Rodrigueta, sua roda de samba. É bem interessante ver o processo de gravação do Rodrigo em canções que não são as suas, é como ver um mesmo quadro de outra distância e começar a sacar outros detalhes, sabe? Por aí.
O soul e o funk estão com tudo lá fora, e o pop brasileiro anda com menos representantes do gênero do que indicaria nossa tradição. Quem defende essa vertente hoje nos festivais descolados da vez? Talvez só a Liniker e a fase atual do FBC – ou esquecemos alguém? Mas esse time vai aumentar se depender da Thami. “Deixar Queimar” casa bem com a reta final do verão.
11 – Jup do Bairro – “Amor de Carnaval” (7)
12 – Papisa – “Dores no Varal” (8)
13 – Jorge Aragão com Rappin Hood – “Mafuá” (9)
14 – Zarolcomzê – “Magnerwoura” (10)
15 – Luedji Luna e Xênia França – “Lua Soberana” (11)
16 – Chinaina – “Roubaram Minha Jóia” (12)
17 – Tuyo – “Infinita” (13)
18 – Dead Fish – “11 de Setembro” (14)
19 – Pabllo Vittar – “Pede pra Eu Ficar (Listen to Your Heart)” (15)
20 – Apeles – Todos os Santos Permitidos” (16)
21 – Jambu – “Lentamente” (17)
22 – Vandal – Violah (18)
23 – Clara Bicho – “Luzes da Cidade” (19)
24 – Parteum – “’12 6 10” (20)
25 – Psirico – “Música do Carnaval” (21)
26 – GRIYÖ – “Afropenobeat” (22)
27 – Rico Dalasam – “Jovinho” (23)
28 – Ogoin & Linguini – “Quando Tudo Começou” (24)
29 – Marabu – “Algo Me Diz” (25)
30 – Wado – “Dente D’ Ouro” (26)
31 – Tangolo Mangos – “Glauber Rocha” (27)
32 – Don L – “Tudo É Pra Sempre Agora (com Luiza de Alexandre)” (28)
33 – Giovani Cidreira e Luiz Lins – “Amor Tranquilo” (29)
34 – João Gomes – “Mais Ninguém” (30)
35 – Mart’nália – “Lobo Bobo” (31)
36 – Perdido – “30+” (32)
37 – Lori – “Me Dói, Boy (com Matias e FBC)” (33)
38 – Juyè (com Thiago Jamelão e Alisson Melo) – “Seguir” (34)
39 – tttigo e dadá joãozinho – “SEM SEGURO” (35)
40 – Rodrigo Campos e Romulo Fróes – “Um Amor Cantando” (36)
41 – Amiri – “Limbo” (37)
42 – Duda Beat – “Saudade de Você” (38)
43 – Apeles – “Lábios Mentem À Distância” (39)
44 – Giovanna Moraes – “As Mina no Poder” (40)
45 – Nelson D – “Defensor Assassinado” (41)
46 – Bruno Berle – “Tirolirole” (42)
47 – Ebony – “Espero Que Entendam” (43)
48 – Jaloo – “Pra quê amor?” (44)
49 – DJ RaMeMes, DJ Pretinho de VR, DJ Ramom, DJ LC da VG – “Putaria em Volta Redonda” (45)
50 – Ana Frango Elétrico – “Boy of Stranger Things” (46)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora e guitarrista Josyara.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.