Top 10 Gringo – Tunde Adebimpe, Lorde e YHWH Nailgun. Só um nome “fácil” na cabeça do ranking das músicas mais legais

Vamos tentar listar os gêneros que tratamos nesta semana: indie, country, música eletrônica, pop melosinho, metal, pós-punk desconstruído e pop punk raíz. Brincadeiras à parte, semaninha realmente diversa e quente. 

Enquanto o TV on the Radio se prepara para abrir algumas datas da turnê de retorno do LCD Soundsystem, Tunde Adebimpe, vocalista da banda, finalmente soltou seu primeiro álbum solo. Multiartista, da ilustração até a atuação, Tunde adiou bastante este momento, mas valeu a espera. Sendo escrito desde 2019, “Thee Black Boltz” começou a ser rascunhado em um caderno, uma mistura de anotações, ilustrações que Tunde definiu como uma “”mixtape de emoções que a música poderia evocar”. Sonicamente lembra muito o TV on the Radio, mas em uma linha musical mais básica, ainda que muito estranha. O que salta é a força de comunicação de Tunde. Seu vocal sempre catártico está todinho lá, capaz de sacudir qualquer corpo mesmo que a letra não faça muito sentido ou seja compreendida. Fã incondicional de Nirvana, David Lynch e Calvin (o personagem das tirinhas, veja bem), Tunde tem em comum com seus ídolos essa coisa de falar diretamente ao coração – mesmo que às vezes não seja nítida a mensagem, todo mundo entende.  

“O som do meu renascimento.” Assim Lorde definiu “What Was That”. Dá para entender o sofrimento gerador da canção. Em 2023, ela terminou não só seu relacionamento mais longo na vida, mas também um dos primeiros – dos 17 aos 25 anos – e sofreu bastante com isso. Na época do término, escreveu para os fãs sobre sua dor emocional e física, tinha dificuldades de se alimentar. Essa é a dor que aparece em “What Was That”, uma junção de lembranças do momentos inesquecíveis com o antigo parceiro assombradas pelo término. Soa como um desabafo. Não é a típica música detonando o ex, é uma reflexão sobre se encontrar de novo: o que foi isso que rolou na minha vida? O que vem pela frente? É curioso também que essa canção tenha a sonoridade da estreia de Lorde em “Pure Heroine”. Como se a canção fosse um recado do seu eu atual para a jovenzinha daquele disco. Tipo, “Fique tranquila, viva isso, não deixe de aproveitar, algumas coisas passam e depois tem mais”.

O grupo quebradeira Black Midi não existe mais? Sem problemas! Agora temos o indie-desconstrutivista do parte impronunciável YHWH Nailgun, quarteto da Filadélfia que foi se estabelecer em Nova York. O grupo de, hum…, pós-punk experimental (estamos buscando um jeito de classificá-los melhor) acabou de lançar o primeiro álbum, “45 Pounds”, e anda entupindo clubinhos ultimamente pelos EUA/Canadá em turnê. O single “Sickle Walk” é um dos destaques exemplares do álbum e da banda, em que pese ser uma música de menos de um minuto e meio de duração de “blast of freak-rock”, como definiu a “Pitchfork”. Coisa séria.

Julien Baker & TORRES tinham proximidades artísticas óbvias. Duas carreiras no mundo indie, apreço pela quietude e focadas em serem cantoras solos munidas de suas guitarras. A proximidade das duas invisível aos olhos do público era o apreço mútuo pela música country, trilha sonora da infância de ambas – Baker cresceu ouvindo country através da família e da igreja no Tennessee e TORRES ouvia em Georgia os hits do gênero com as irmãs. Como o country tradicional nunca abriu espaço para artistas queer, Julien & TORRES dão sua resposta em “Send a Prayer My Way”. E, assim como aconteceu com Beyoncé ou Post Malone, o resultado foi um diálogo muito forte com tudo que elas fizeram até aqui. Especialmente nas mais quietinhas, como “Dirt” ou “Tuesday”. Ao mesmo tempo, uma faixa como “Sugar in the Tank” toca fácil em qualquer rádio de country pop. 

Bruce vai lançar em breve “Tracks II: The Lost Albums”. A coleção é nada mais nada menos que a junção de sete álbuns perdidos do Boss. Um deles se chama “Streets of Philadelphia Sessions” e reúne as canções que Bruce escreveu de olho nos loops de bateria eletrônica, inspirado no hip hop da Costa Oeste e na música pop contemporânea dos anos 1990. Seria uma forma de criar novas “Streets of Philadelphia”, um hit que marcou uma mudança sonora em sua carreira e foi responsável por lhe tirar de um certo ostracismo. Mas essa veia pop ficou de lado quando Bruce reuniu a E Street Band pouco depois do álbum ser finalizado e nunca mais apareceu uma brecha para o álbum ser lançado – para o bem ou para o mal. Porque “Blind Spots”, primeira mostra desse disco perdido, dá um indício claro de que se Bruce tivesse lançado esse disco ali sua carreira poderia ter ido mesmo para outra direção. Ela tem toda a cara de que teria sido um mega hit – tem força, é marcante, a letra é sobre dificuldades de um relacionamento e tal. Lançada em 2025, soa mais como curiosidade para os fãs.  

Não misture os Andy Bell. Existe o Andy do Ride e do Oasis, mas hoje estamos falando do Andy do Erasure. Ele prepara o lançamento de “Ten Crowns”, seu terceiro álbum solo, e descolou um feat chiquérrimo com a reclusa Debbie Harry. A música é puro suco dos anos 80 e o vocal meio robótico de Debbie, soando novinha, vai fazer os jovens entenderem onde Miley Cyrus aprendeu alguns de seus trejeitos. 

Os nepobabies estão por toda parte, hehe. Desde 2021, Ty Trujillo, filho de Robert Trujillo, ocupa a vaga de baixista do Suicidal Tendencies, que já foi de seu pai. Com Mike “Cyco Miko” Muir sendo atualmente o único integrante original, “Adrenaline Addict” é a primeira inédita da banda que contempla Ty e mais dois novos membros: o guitarrista Ben Weinmann e o baterista Jay Weinberg, que já fez parte do Slipknot e também tem pai famoso; é filho de Max Weinberg, da E Street Band do Springsteen. Enfim, engraçado que, com esse peso todo, o som inédito passa longe da agressividade sonora atual do metal e tem uma textura mais retrô, talvez oitentista. Ah, a banda anda abrindo os shows do Metallica, a atual banda do papai Trujillo. Metal é ambiente de família! 

“Alone”, parte do incrível “Songs of a Lost World”, álbum lançado pelo Cure no ano passado, é uma das canções mais fortes da história da banda de Robert Smith. Na época, parecia exagero dizer isso, mas cada revisita ao disco consolida a visão de que ali Smith passa em revista sua história como compositor ao pensar no destino das canções, destino igual ao do mundo. Tudo acaba. O tom épico da música original aparece em parte no remix de Four Tet, que desconstrói a longa introdução, mas muda o clima dos versos ao acrescentar um beat mais solar para o pálido Robert. A faixa fará parte de “Mixes of a Lost World”, versão remix do álbum com objetivo de reunir fundos para a instituição War Child UK. 

Após capturar legal o espiríto do tempo no distópico “Cowards”, lançado mais cedo neste ano, o grupo inglês Squid liberou um outtake tão maluco quanto tudo que ficou dentro do álbum. “The Hearth and Circle Round Fire” é uma baguncinha de seis minutos inspirada em “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury e “Eles” de Kay Dick, dois livros que imaginam um mundo onde os livros são queimados/censurados. Em 2025, Trump e seus parceiros globais estão censurando em escolas qualquer livro que trate de gênero, raça ou diversidade. A fogueira está acesa.   

A última aparição do outrora grande Cut Copy foi com seu álbum “Freeze, Melt”, lançado ainda na pandemia em 2020. A banda australiana retoma à ação agora com um single duplo com as faixas “Solid” e “A Decade Long Song”. Dan Whitford, vocalista e líder do grupo, definiu a música como seu mantra de resistência à confusão global, mas também pessoal pela qual passou. “Espero que ela dê ao ouvinte a mesma força que me deu”, anotou Dan nem seu Instagram. 

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* Na vinheta do Top 10, o músico Tunde Adebimpe, do TV on the Radio, em grande fase solo.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.