Top 10 Gringo – The Raveonettes ressurge em primeiro. Precisamos do Viagra Boys em segundo. E as Haim colam em terceiro. Semana bem boa

Dinamarqueses, suecos, canadenses – e também ingleses e norte-americanos. É assim que se apresenta o top gringo desta semana. Semana com uma paixão antiga nossa em primeiro lugar. Lembra do Raveonettes? Não nos esquecemos dos velhos amigos. 

Talvez este duo dinamarquês tenha sumido da sua mente, mas não esquecemos Sune Rose Wagner e Sharin Foo. Somos gratos a tanta alegria que já nos deram. Só recuperar um texto nosso lá de 2003: “Vamos combinar assim: até o disco dos Strokes sair, nenhuma música neste ano será tão bonita quanto ‘That Great Love Sound’, do RAVEONETTES”. Seria exagero repetir a dose? Em todo caso, “Pe’ahi II”, primeiro álbum de inéditas do Raveonettes em 11 anos, é uma belezinha – mantendo o “crunch” que deixa eles entre uma banda de garagem tosca e o shoegaze mais requintado. Sune Rose Wagner cravou: “Continuamos falando das mesmas coisas – fragilidade da vida, morte, desejo e vulnerabilidade”. Ouçam – não tá rolando um marketing muito forte, mas é um discaço. 

Os suecos do Viagra Boys aos pouquinhos vão conquistando o mundo contra tudo e contra todos (e por algum tempo contra eles mesmos). Sebastian Murphy, vocalista e líder da banda, pesou legal a mão nas drogas e viu de perto o fundo do poço. É sobre esse tempo onde ele era a pessoa mais insuportável do mundo que parte “You N33d Me” – nos versos, ele relata ser o típico doidão perturbando geral com os papos mais chatos. A faixa está no novo álbum da banda, “viagr aboys” (2025), o primeiro disco com o vocalista sóbrio. Além de versar sobre o assunto, eles carregam nas boas guitarras – muito inspiradas no Queens of the Stone Age, seus parceiros de estrada mais recentes – e também passeiam por sonoridades diferentes do pós-punk. Outro tópico investigado é a tosquice vista por eles durante a passagem pelos EUA. “Man Made of Meat” captura um monte de cenas grosseiras da preguiça norte-americana. É uma faixa escatológica, no mínimo. 

Agora o quarto álbum das irmãs Haim tem nome e data de estreia: “I Quit” será lançado no dia 20 de junho. A produção fica a cargo de Danielle Haim e de Rostam Batmanglij, ex-Vampire Weekend. Antes que os fãs se assustem, a desistência do título não é sobre a banda, é mais o estado atual de Danielle em relação aos homens. Ela está solteira depois de muito e anda reavaliando escolhas, relacionamentos e sua postura diante da vida. “Down to Be Wrong”, por exemplo, abre o jogo sobre um momento de libertação muito específico de relacionamentos desabando. Aquela hora onde vencer mais uma discussão é irrelevante. Já passou por isso? Não é o tipo de conversa que abrimos só para quem confiamos? Aqui ela chama as irmãs para esse papo. A diferença é que com elas a gente “ouve” a conversa depois via canções. Sorte a nossa. 

O misterioso coletivo inglês tocado em suma pelos conhecidos Inflo e Cleo Sol apareceu com mais um disco surpresa. “10” já o décimo segundo álbum deles e manteve a tradição de ser lançado sem avisos e viver entre um some e aparece dos serviços de streaming. Ouça enquanto eles deixam – é um R&B do mais gostoso possível. 

“Heart of Gold: The Songs of Neil Young, Vol.1” traz um punhado de artistas conhecidos (Eddie Vedder, Mumford & Sons, Courtney Barnett, Sharon Van Etten, entre outros) para interpretar o fino da obra do mestre canadense. Mas poderiam ter deixado tudo na mão de Fiona Apple que eleva a clássica “Heart of Gold”. Tocada com seu marcante piano, a música se torna sua, cortante. Poderia ser fácil do “Fetch The Bolt Cutters”, seu último e embasbacante álbum.

A banda de indie pop que levou as guitarrinhas mais grudentas do mundo para a geração Tik Tok segue bem em “Tunnel Vision”, seu terceiro álbum. O visual do disco é fofo, basta ver a capa, mas Lili Trifilio não é inocente. Compositora cheia de recursos, vinda de um mini sabático para pôr a cabeça em ordem, ela aproveita os ganchos para falar de amor, mas também tocar em assuntos mais difíceis. A política atual de Donald Trump e o vício em internet são alguns dos alvos -”Ela não consegue, seu cérebro fritou/A internet derreteu seu cérebro/O um por cento tomou conta/O governo não se importa com quem morre”, canta em “Just Around the Corner”. Fofo. 

Adrianne Lenker não faz nada convencional. Em carreira solo ou com seu Big Thief, desafia as convenções – músicas longas, muitos lançamentos por ano. O mercado inventa regras, mas é preciso segui-las? Natural que sua carreira solo tivesse um disco ao vivo com mais de 2 horas de duração e 43 faixas (!!!), sendo 5 inéditas. Gravado em três noites em Portland, “Live at Revolution Hall” é intimista e acolhedor, respeita os erros, os pequenos vacilos. Tudo aquilo passível de edição e de limpeza sobra aqui. E isso é o melhor do disco. 

“77” é a homenagem de Billy Idol ao ano basilar do punk. Ele mesmo estava por ali com seu Generation X, grupo muito contestado por ser o exemplo mais pop ou burguês do movimento. Ironia ou não, ele convocou Avril Lavigne para cantar com ele nessa homenagem. Justo ela que pode ser tida como uma Billy Idol de sua época elevada à décima potência. Para você se sentir velho: de 1977 para 2002, ano da estreia de Avril, foram 25 anos. É quase a mesma distância de 2002 para o nosso 2025, 23 anos. Punk.

Quem é esperto colou nos shows da Yaya Bey no Rio e em São Paulo em abril. A próxima vez que ela estiver por aqui não deve ser em palcos tão pequenos, especialmente pelo que aponta seu recém-anunciado álbum, “do it afraid”, previsto para junho. Nessa onda de “vai com medo mesmo”, Yaya já soltou dois singles do novo disquinho: “wake up b*tch”, para acordar geral, e “dream girl”, para dizer que sonhar também é importante, viu? 

Faz sentido o anúncio do novo do Arcade Fire ter sido recebido com frieza – as acusações de assédio contra Win Butler em 2022 e um esgotamento criativo explicam isso. “Pink Elephant”, por exemplo, novo single do disco, pode ser tida como um ótimo lado B do “Suburbs”, o magistral álbum dos canadenses de 2010. Vamos ver qual será o papo quando o álbum sair. 

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* Na vinheta do Top 10, a dupla dinamarquesa The Raveonettes.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.